O Largo da Prainha é lugar de cultura e tradição africana, reconhecido como a entrada da Pequena África no Rio, hoje parte do circuito histórico e arqueológico da celebração da herança africana. A comida, o samba, o carnaval estão presentes nesse espaço que reúne tanto da nossa ancestralidade. Carregado de história, atrai um público ávido pelo life style carioca, com mesa de bar na rua, cerveja gelada, petiscos saborosos e muita música, de preferência samba.
Pois além de tudo o que já rola por lá, essa semana em que se comemora o Dia de São Jorge, três restaurantes sob a guarda de Raphael Vidal promovem o Circuito das Feijoadas do Largo da Prainha. O prato que virou referência carioca no mundo, de fato tem suas origens nas senzalas brasileiras. É programa certo para quem gosta de História, especialmente no que diz respeito aos nossos ancestrais africanos, pois além das opções gastronômicas e musicais que nos fazem viajar no tempo, há muito o que ver e conhecer no entorno, como a Pedra do Sal e o Morro da Conceição.
A escolha do tema “circuito de feijoadas” para a celebração de data tão especial tem suas razões, como explica Vidal, o grande responsável pela reativação do local, desde a pandemia, e que organizou a programação.
“Por aqui as tias baianas foram fundamentos da nossa formação cultural afrodescendente: música, gastronomia e religiosidade se entrelaçaram em seus quintais e ganharam o mundo. Nasce daí a tradição da feijoada do dia de São Jorge, fruto do sincretismo necessário naqueles tempos para a celebração em terras brasileiras de Ogum, orixá guerreiro que tem como um dos seus elementos de axé o feijão”, diz.
O Circuito das Feijoadas reúne Casa Porto, Bafo da Prainha e Dois de Fevereiro com três tipos diferentes do prato e variações também de caipirinhas, como a de frutas vermelhas, a de frutas amarelas e a de caju e limão. Claro que tudo isso não poderia deixar de ser acompanhado de muita música e, principalmente, o samba. Por isso, para cada dia do feriado, há uma programação diferente.
A Casa Porto oferece a Feijoada Vermelha, parecida com a tradicional, só que com feijão vermelho. O Bafo da Prainha vem com a Feijoada Defumada, a nossa tradicional feijoada preta com partes de porco. E o Dois de Fevereiro, restaurante caçulinha da turma, com a Feijoada Baiana, feita com feijão carioquinha e mocotó, além de outros ingredientes um pouco mais diferentes dos que estamos habituados aqui no Rio de Janeiro.
A temperatura sobe a partir de 18h, com as rodas de samba e a primeira será a do André Pressão (21). Sábado (22) tem o Baile Ogunhê, com o DJ Senna, e domingo (23) a Roda Prainha que, para felicidade do público e celebração ao Santo Guerreiro, convida para participação especial Moacyr Luz.
Nessa época, a programação de feijoadas pelo Rio é intensa, por conta da celebração do Dia de São Jorge, mas vale conferir o que vai rolar na Prainha porque, não à toa, ela foi eleita no último ranking da Time Out Londres como uma das vizinhanças mais descoladas do planeta.
Confira abaixo os cardápios e se jogue! Ogunhê!!
Casa Porto: Feijoada Vermelha (feijão vermelho, joelho de porco, toucinho, paio, calabresa, linguiça de porco, carne seca + pele caseira de torresmo + farofa de couve, banana e bacon + laranja + arroz) + caipirinha de frutas vermelhas + arroz doce.
Bafo da Prainha: Feijoada Defumada (feijão preto, costelinha, paio, linguiça de porco, toucinho, calabresa, carne seca + farofa de cebola assada + couve manteiga e laranja na brasa + torresmo de barriga de porco + arroz) + caipirinha de frutas amarelas + banana assada.
Dois de Fevereiro: Feijoada Baiana (feijão carioquinha, mocotó, costela de boi, paio, linguiça de porco, calabresa, toucinho, carne seca + farinha + couve na manteiga de garrafa + laranja + arroz) + caipirinha de caju com limão + cocada cremosa.
Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de cultura e carnaval.