Salve o Samba! Queremos samba! Como cantava Zé Keti, nós também queremos samba e ele voltou! Depois de quase dois de restrições impostas pela Covid-19, finalmente temos boas notícias. Em dezembro, o samba invade Madureira e Oswaldo Cruz, com dois projetos muito cariocas comandados pelo sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz: o Trem do Samba e a Feira das Yabás.
O Trem do Samba, projeto que faz homenagem ao gênero musical, parte da Central do Brasil no dia 4 de dezembro, sábado, mantendo a tradição da data e do horário – partindo às 18h04, mesmo horário que Paulo da Portela, há cem anos, embarcava todos os dias para sua casa voltando do trabalho. A edição desse ano contará com apenas um trem, diferente dos anos anteriores, que vai levar cantores, sambistas e as Velhas-Guardas da Portela, Salgueiro, Mangueira, Império Serrano e Vila Isabel até o bairro de Oswaldo Cruz, adjacente à Madureira.
Lá, três palcos serão montados, cada um homenageando um sambista morador do bairro: na rua João Vicente será o Palco Zé Keti, na Átila da Silveira o Palco Paulo da Portela, e na Praça Paulo da Portela o Palco Manacéia. Lecy Brandão, Samba do Trabalhador e Dudu Nobre participam cada um em palco, além das 15 rodas de sambas, como a Roda da Pedra do Sal e a do Bip Bip, espalhadas pela Grande Madureira. Vai ser samba na veia para entrar para a história, depois desse imenso período de recesso a que fomos obrigados.
No fim de semana seguinte, dia 12 de dezembro, é a vez da Feira das Yabás, que teve última edição em dezembro de 2019. A Feira das Yabás acontece há 13 anos também no bairro de Oswaldo Cruz, e é um projeto de imensa relevância para a preservação da cultura afro-brasileira, declarada Patrimônio Cultural Imaterial do estado do Rio de Janeiro, em 2018. Reúne milhares de pessoas, com o objetivo de prestar homenagem às influências africanas na região, tanto na música quanto na gastronomia, e faz homenagem às “tias de Madureira”, as verdadeiras “Yabás”, que acolhem e alimentam a população local. Por isso, além do samba, o projeto é dedicado á gastronomia comandada por elas, com cardápios da tradição afro-brasileira, como feijoadas e outras delícias.
O projeto destaca o protagonismo do matriarcado da região da Grande Madureira, mas também faz homenagem às divindades das religiões afro-brasileiras, o que fortalece a memória coletiva e afetiva do lugar. Não foi apenas lá que as tradições do samba foram transmitidas nos quintais e nos terreiros religiosos das casas das “tias”, tanto em Madureira quanto em outras regiões da cidade, como a Gamboa e a Saúde, onde moravam Tia Perciliana, Tia Sadata e Tia Ciata. A Feira se transformou no maior símbolo atual dessas tradições.
Para a edição desse ano, Marquinhos vai criar um concurso de máscaras contra a Covid-19, como uma forma de saudar os novos tempos sem deixar de alertar para a importância do uso de máscaras como preventiva contra a doença. O concurso será acompanhado de uma campanha de prevenção, sobre o uso de máscaras, higienização de mãos e vacinação, para manter a população alerta e consciente no combate à proliferação do vírus.
O projeto “Trem do Samba” e “Feira das Yabás” vai contar com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Cultura, e vai empregar mais de 1.500 pessoas.
“Estou muito feliz em retomar os dois projetos. O Rio tem imensa vocação para a cultura e para o turismo, e ficou claro, nesse período todo da pandemia, o quanto a economia criativa é importante para a população dessa cidade. Vamos resgatar o samba, a cultura, a economia dos artistas e das nossas tias”, comemora Marquinhos de Oswaldo Cruz.
Nós também estamos muito felizes! Viva o samba!
Rita Fernandes é jornalista, presidente da Sebastiana, pesquisadora de cultura carioca e carnaval.