O Comitê Rio450 divulgou no dia 1 de maio as seis primeiras iniciativas do calendário comemorativo dos 450 anos do Rio de Janeiro, que surgiram a partir de uma consulta pública à população. Sugerida pela professora aposentada Ângela Renata de Azevedo, a ocupação cultural da Ladeira da Misericórdia insere o Morro do Castelo na celebração do jubileu de 2015, pois a via nos fundos do Museu Histórico Nacional é o último resquício da mítica colina que durante tanto tempo habitou o inconsciente coletivo dos cariocas. Seu arrasamento na década de 20, no governo do prefeito Carlos Sampaio, gerou debates acalorados na imprensa. Além de todo o debate sobre a questão da salubridade, o alcaide pretendia abrir uma esplanada para abrigar a Exposição Nacional de 1922.
O que fazer com tanta terra? Onde abrigar a população que morava nas encostas do Castelo? Eram alguns dos questionamentos que surgiram na ocasião. Pesquisando as imagens abaixo na Hemeroteca da Biblioteca Nacional, encontrei respostas para algumas das questões acima. A terra resultante do desmonte deu origem ao aterro que mais tarde seria ocupado pelo aeroporto Santos Dumont e as pessoas procuraram locais afastados do Centro acometido pela carestia dos valores dos aluguéis. Um dos bairros procurados pelos moradores, segundo um dos periódicos, é ironicamente o Leblon.
O debate mais acalorado, no entanto, colocava de um lado os defensores das tradições históricas e do outro os partidários do progresso. Como se poderia derrubar local onde a cidade começou, questionavam os primeiros. No que os progressistas respondiam com linhas como: “Já se repetiu à saciedade que o lugar primitivo e legítimo da fundação da cidade do Rio de Janeiro não é o morro do Castelo: é a fortaleza de São João e a Praia Vermelha” e “Os repórteres da crônica antiga do Brasil, que se mascaram de historiadores, em vão lhe atribuem palpitantes documentos monumentais, dando inconscientemente a esse hediondo quisto, crescido no seio da sociedade, títulos e prerrogativas de incomparável relíquia”.