Apesar ter nascido quase 20 anos depois da derrubada do Mercado Municipal, acompanhei na década de 80 o uso da torre remanescente como mercado de peixe e de prata. Era religioso na minha infância sair com meu pai aos sábados de manhã para visitar as feiras de antiguidades. A que acontecia ao redor da torre do Albamar era a principal da cidade. Quando um antiquário precisava pesar uma bandeja, castiçal ou qualquer outra peça de prata, a maioria de origem brasileira ou portuguesa, recorria às antigas balanças de uma peixaria que funcionava numa das portas verdes nos fundos do restaurante.
Parte daqueles antiquários se transferiu para a Feira do Troca, que acontece todos os sábados sob os pilares da Avenida Perimetral, ou ficou apenas com suas lojas no shopping da Siqueira, aquele que fica no número 143. Alguns já bem mais senhores, ainda reconheço entre as rugas. Outra boa parte já passou desta. Dona Grací, que morava num casarão com dezenas de gatos no Flamengo, certa vez propôs uma troca que meu pai nunca aceitaria: um bebê de colo, no caso eu, por um vaso Gallé. Também lembro do Caetano, do Amauri, dos soldadinhos de chumbo, do vendedor de azulejos valiosos e da senhora que vendia ovo colorido, que causou uma tremenda infecção alimentar no meu irmão.
Assim, entre os pescadores e os antiquários que pesavam seus produtos numa das portinhas de madeira, o velho torreão, resquício do Mercado Municipal, viveu seus últimos dias como entreposto de mercadorias.