Ele debutou como compositor em um espetáculo de teatro de revista: Esputinique do Morro, atração no Teatro Jardel* em 1957. Quatro anos depois, emplacou Boato, em disco de 78 rpm, na voz da exuberante Elza Soares, pouco antes de ser gravado por outra gigante: Elizeth Cardoso (1920-1970) registrou, dele, Esmola. Nesse começo de carreira esfuziante, ainda revelou-se um cracaço das marchinhas, a começar pela criação de um dos grandes clássicos do gênero, Cabeleira do Zezé, sucesso carnavalesco desde 1963. O pianista e compositor João Roberto Kelly, 77 anos bem vividos, também brilhou na TV – Times Square, na TV Excelsior, entre muitos outros nos anos 60 e 70 – e está aí para contar suas aventuras. Muitas delas viraram crônicas em delicioso tom de causo no livro Cabeleira do Zezé e Outras Histórias (Irmãos Vitale Editores, R$ 47,00, 152 págs.), que ganha lançamento nesta quarta (16), a partir das 18h30, no bar Garota de Copacabana (Avenida Atlântica, 3744, esquina com a Sousa Lima). Para garantir a animação, a banda do Cordão da Bola Preta (também presente nas divertidas memórias de Kelly) vai interpretar ao vivo pérolas do homenageado, além de uma inédita dele, Eu Quero Dinheiro. O livro é um passeio pelo Rio de Janeiro de outro dia. Aquele Rio do cinema Rian, na orla de Copacabana, onde o futuro autor de Dança do Bole Bole, Maria Sapatão e Mulata Iê Iê Iê assistiu a três sessões seguidas de Música e Lágrimas, o filme-tributo ao maestro Glenn Miller, para, encantado, tirar de ouvido no piano da casa dos pais Moonlight Serenade. Ou o Rio da Bierklause, cervejaria na Praça do Lido de cujo mezanino João Roberto Kelly despencou, certa vez, sobre uma providencial mesa, para salvar o jornalista João Saldanha de uma quase briga. São variados os episódios lembrados – tem o que reúne Kelly, dona Zica, senhora Cartola, e a cantora Emilinha em um motel de beira de estrada – com a ajuda do co-autor André Weller, também músico, admirador de JRK e diretor do documentário No Balanço do Kelly (2010), do qual temos uma palinha logo abaixo.
* Na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, perto da Bolívar, o Teatro Jardel foi fundado pelo produtor Geysa Bôscoli (1907-1978) e seu irmão Jardel Jércolis (1894-1944).
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