O disco com a trilha sonora de um musical pode ser um documento, um simples (mas importante) registro da temporada, ou um bem-vindo desdobramento comercial da produção no palco. Pode, ainda, revelar brilho artístico próprio, ou seja, encantar quem assistiu à peça ou não. Alguns lançamentos recentes se encaixam nessa última definição. Comecemos pelo mais fresquinho: Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos saiu do palco para um álbum duplo de 101 minutos, recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino. Nas quarenta faixas dos dois CDs, a tecnologia não empana a emoção típica das apresentações diante do público. Claudio Botelho, na direção e também no ótimo elenco, esbanja talento dramático em canções como Geni e o Zepelim e Basta um Dia. Malu Rodrigues e Lilian Valeska, nomes conhecidos de quem acompanha musicais, têm variados momentos de brilho no repertório irretocável de Chico Buarque. Versões que funcionam em cena, como as gaiatas, de Ciranda da Bailarina e A Violeira, ou a inspiradíssima reservada a Baioque, foram eternizadas. E Soraya Ravenle, a maior no gênero, engorda a já rica lista de gravações de Bom Conselho e Gota D’Água. Por último, mas não menos importante: sem a distração visual, saltam aos ouvidos, no disco, a elegância e as opções acertadas dos arranjos de Thiago Trajano e Jules Vandystadt (esse na parte vocal). A banda reúne o próprio Trajano (guitarra, violão e bandolim), Luciano Correa (cello), Priscilla Azevedo (piano e acordeão) e Marcio Romano (percussão e marimba).
Como já me alongo, vou correr – e serei breve – com as outras trilhas sonoras que viajaram bem do palco para o estúdio. São lançamentos mais antigos. Gonzagão – A Lenda, dirigido por João Falcão e encenado por aqui em 2012, tinha Laila Garin, que depois estourou em Elis, A Musical, como única mulher no elenco. Inspirado na vida e na obra de Luiz Gonzaga, o musical usou com originalidade (e arranjos instrumental de se tirar o chapéu de vaqueiro) o repertório do Rei do Baião. O disco com 35 faixas enfileira clássicos do homenageado, a exemplo de Qui nem Jiló e A Volta da Asa Branca. O Samba Carioca de Wilson Baptista, disco duplo, é parte de um projeto monumental. Rodrigo Alzuguir encantou-se pela obra do sambista nascido em 1913 e falecido em 1968, um dos grandes na geração de pares como Noel Rosa e Ary Barroso. Passou do encanto à ação, ao escrever uma biografia de Wilson (O Samba Foi Sua Glória, lançado pela Casa da Palavra), organizar um cancioneiro com 100 partituras, editado pela Vitale, estrelar o espetáculo O Samba Carioca de Wilson Baptista, ao lado de Claudia Ventura, e, ufa, levar a trilha sonora da montagem ao disco duplo – um dos volumes traz as canções da peça e o outro, um bônus de primeira, reúne clássicos e raridades do homenageado interpretados por gente como Teresa Cristina, Zélia Duncan, Nina Becker e Wilson das Neves. Enfim, papa fina, como se pode ver nos vídeos abaixo.
O Samba Carioca de Wilson Baptista (o disco pode ser comprado nos quiosques da Biscoito Fino no Shopping da Gávea ou no Rio Sul, mas também vale pedir uma pista na fanpage Wilson Baptista – 100 Anos)
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=Y1n5TotCcZo?feature=oembed&w=500&h=375%5D
Gonzagão, A Lenda
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=YZ78kdNs1jk?feature=oembed&w=500&h=281%5D
Uma palinha das gravações de Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=jFFuKwxG9VY?feature=oembed&w=500&h=281%5D