Elza e Lupicínio
Quando os dois se conheceram, ele, embevecido com a voz dela, trazia um buquê de rosas e queria se apresentar à cantora. Ela, desconfiada, não sabia quem era o sujeito e quase caiu para trás ao ouvir o nome de Lupicínio Rodrigues. No primeiro disco, gravado em 1960, pela Odeon, Elza Soares estourou com Se […]
Quando os dois se conheceram, ele, embevecido com a voz dela, trazia um buquê de rosas e queria se apresentar à cantora. Ela, desconfiada, não sabia quem era o sujeito e quase caiu para trás ao ouvir o nome de Lupicínio Rodrigues. No primeiro disco, gravado em 1960, pela Odeon, Elza Soares estourou com Se Acaso Você Chegasse, de Lupicínio e Felisberto Martins. A alta voltagem emocional, manifesta na voz visceral de Elza e nas letras pungentes do compositor gaúcho, os uniu. No centenário de nascimento de Lupicínio Rodrigues (1914-1974), Elza Soares vem fazendo sucesso com um show dedicado à obra do lendário boêmio gaúcho. A pedido do público, está de volta ao Rival, onde se apresenta na sexta (22) e no sábado (23), a partir das 20h. Episódios tristes e/ou difíceis, às pencas, na vida da intérprete, talvez tenham contribuído para a empatia mútua.
Senão, vejamos:
. filha de mãe lavadeira e pai operário, Elza foi criada na favela de Água Santa, no subúrbio de Engenho de Dentro. Passou fome, que às vezes saciava mamando nas tetas da cabra de um vizinho.
. Aos 12 anos se casou. Teve sete filhos, três deles morreram de fome.
. Aos 18, era viúva e foi à luta. Trabalhou como lavadeira e em uma fábrica de sabão, sempre tentando a carreira de cantora.
. Em 1953, no programa Calouros em Desfile, da Rádio Tupi, Ary Barroso, o apresentador, olhou zombeteiro para a menina magrela e perguntou: “de que planeta você veio?” A resposta veio na ponta da língua. “Do planeta fome”, disse Elza, antes de atacar os versos de Lama (Paulo Marques e Alyce Chaves) e ganhar, junto com o prêmio máximo, elogios do durão (e com frequência cruel) Ary.
. em 1962, já uma estrela em ascensão, representou o Brasil na Copa do Mundo do Chile, onde dividiu o palco com Louis Armstrong e engatou uma tórrida paixão com Garrincha. Os dois viveram juntos por dezessete anos. No começo, Elza foi submetida a um linchamento moral. Quase deu adeus à carreira, apontada em público como a responsável pelo fim do casamento do craque – que, por “culpa” dela, deixou mulher e oito filhos. No fim, Elza perdeu Garrincha para o alcoolismo.
. O filho dos dois, Garrinchinha, morreu em um acidente de carro em 1986, aos 9 anos.
Chega, que essa história tem final feliz. A garota de Água Santa, data de 26 de julho de 1937 na certidão de nascimento, segue no palco, cantando como ninguém pérolas de Lupicínio como Cadeira Vazia e Nervos de Aço. No vídeo aí embaixo, salvo de algum lugar dos anos 70, ela é acompanhada ao entoar esses dois clássicos apenas pelo violão do portelense Guaracy.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=MvZ9G3OelFk?feature=oembed&w=500&h=375%5D