Em 2000, Rodrigo Alzuguir trabalhava como artista gráfico quando, incumbido de criar a capa de Ganha-se Pouco Mas É Divertido, disco de Cristina Buarque com canções de Wilson Baptista (1913-1968), foi apresentado à obra do compositor de Acertei no Milhar (com Geraldo Pereira) e Louco (Ela É o Seu Mundo), essa com Henrique de Almeida. Encantou-se pelo repertório e pela vida do sambista, ao ponto de, nos anos seguintes, dedicar a ele uma biografia (O Samba Foi Sua Glória, lançado pela Casa da Palavra), um cancioneiro com 100 partituras, editado pela Vitale, o espetáculo O Samba Carioca de Wilson Baptista, que estrelou ao lado de Claudia Ventura, e, ufa, um disco duplo. Definitivamente contaminado pelo vírus do samba, e já mergulhado nas múltiplas funções de autor, diretor, e ator, Alzuguir celebrou outro bamba em cena, Cyro Monteiro (1913-1973), no ótimo musical Amigo Cyro, Muito Te Admiro! (2014) – que bem merecia uma nova temporada – e volta a esse universo agora com A Cuíca do Laurindo. O espetáculo tem um delicioso ponto de partida. Inspira-se no samba Triste Cuíca, de Noel Rosa e Hervé Cordovil, cuja letra narra as desventuras amorosas de um certo Laurindo. Entre os carinhos de Zizica e Conceição, Laurindo, fera da cuíca, acaba sumindo, provavelmente morto, mas só para Noel e você, filho ingrato. Ocorre que ele ainda vive, e protagoniza diversas histórias, em sambas de nomes como Herivelto Martins (Laurindo) e Wilson Baptista (Comício em Mangueira, parceria com Germano Augusto). Embalado por esses e outros clássicos – belezuras como Coisas Nossas, Pisei num Despacho, Ave Maria no Morro estão no programa –, o elenco recria em cena um Rio idílico de samba e malandragem da primeira metade do século passado.
Nossa, viajei: só queria avisar que A Cuíca do Laurindo estreia nesta quinta (24), no Teatro I do CCBB, e segue em cartaz de quarta a domingo, sempre às 19h, até 15 de maio. Sob a direção de Sidnei Cruz, entram em cena Alexandre Moreno, Vilma Melo, Claudia Ventura, Marcos Sacramento, Rodrigo Alzuguir, Hugo Germano e Nina Wirtti.
Acompanhe abaixo dois vazamentos do bem gravados em um ensaio recente.
Triste Cuíca, de Noel Rosa e Hervé Cordovil
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=EAFgZ3KfS7U?feature=oembed&w=500&h=281%5D
No embalo de Madrugada, de Benedito Lacerda e Herivelto Martins
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=gGIzp8Mw05c?feature=oembed&w=500&h=281%5D