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Aviso:
Isso não é um post, é um tratado. Aprendi e me diverti um bocado escrevendo o texto. Espero que alguém sinta algo parecido ao lê-lo. Quase toda a informação aqui contida, exceto os eventuais tropeços, vem do excelente livro Antonio Meneses – Arquitetura da Emoção, escrito por João Luiz Sampaio e Luciana Medeiros.
Medalha de ouro no prestigiado Concurso Tchaikovsky, de Moscou, em 1982, o violoncelista pernambucano Antonio Meneses, 56 anos, é uma estrela da música erudita internacional. Neste sábado (12), às 20h, ele toca com a OSB no Theatro Municipal. Curiosamente, Antonio Meneses foi apresentado ao instrumento que o consagrou quando tinha 10 anos – e de forma um tanto inesperada. Ganhou do pai um violoncelo, assim, sem maiores explicações. O velho João Jerônimo era trompista da Orquestra do Theatro Municipal e, depois de muito matutar, concluiu que as orquestras não estavam precisando de mais músicos de sopros, mas de cordas. Assim selou o destino do filho. Emprestados, alugados, comprados, muitos outros violoncelos passaram por suas mãos.
O presente do pai ainda o acompanhou na Europa, para onde ele partiu aos 16 anos, sozinho, para estudar. Foi trocado por uma preciosidade: Meneses recebeu, emprestado, o Guadagnini de seu professor, o virtuose italiano Antonio Janigro (1918-1989). Abre parênteses: Giovanni Battista Guadagnini (1711-1786) foi um luthier italiano, mestre dos instrumentos de cordas, considerado, de forma elogiosa, é bom frisar, o “Stradivarius dos pobres”. Fecha parênteses: o Guadagnini de Janigro era paraguaio, não foi construído pelo artesão italiano, mas tinha uma sonoridade fantástica. Com ele, Meneses bateu quarenta concorrentes e ganhou o Concurso Internacional de Munique, em 1977.
Em 1978, Janigro, pediu o violoncelo de volta. Meneses viu-se numa situação inusitada: a agenda engordou, por causa do prêmio na Alemanha, e ele não tinha um instrumento e qualidade para se apresentar. Recorreu a outros empréstimos, para dar conta dos compromissos e, após quase três anos, recebeu um ultimato do pianista Franz Massinger, com quem vinha se apresentando em duo. Estava na hora de comprar um violoncelo. Muita pesquisa e uma vaquinha, que incluiu a fundamental contribuição da sogra de Massinger, levaram à aquisição de um Guarnerius, trazido da África do Sul, em 1981. Abre parênteses: os Guarneri foram uma família de luthiers de Cremona, Itália, que fez história nos séculos XVII e XVIII. Violinista do porte de Paganini, Jascha Heifetz e Yehudi Menuhin preferiam um Guarnerius a um Stradivarius.
O Guarnerius foi usado durante cerca de dez anos por Meneses, mas seu aprimoramento constante acabou levando-o a pensar em mudar mais uma vez. Após outras tentativas, ele chegou ao instrumento usado pelo lendário Pablo Casals (1876-1973), guardado pela viúva num fundo de armário. Era um Goffriller – luthier veneziano, Matteo Goffriller (1659-1742) notabilizou-se em particular pela qualidade de seus cellos. Mais dois anos se passaram na companhia da relíquia tocada por Casals ao longo de meio século, antes de nova troca – tomado por empréstimo, o instrumento foi devolvido à viúva Martita Casals.
O brinquedo seguinte também era um Goffriller e custava uma fortuna: meio milhão de dólares, na época. Meneses passou nos cobres seu Guarnerius e seu Landolfi – o luthier italiano Carlo Ferdinando Landolfi (1714-1787) foi um dos mestres na criação de instrumentos de cordas no século XVIII. Ainda recorreu a um empréstimo bancário e pronto, já estava com um antigo instrumento novo. Outros vieram, a exemplo de um modelo contemporâneo, criado por Philip Cray, e um antigo Tononi, que também pertenceu a Pablo Casals (Carlo Annibale Tononi, italiano da Bolonha, nasceu em 1675 e faleceu em 1730). Encantado com um Jean-Baptiste Vuillame, datado da primeira metade do século XIX, Meneses vendeu um apartamento em Nova York para comprá-lo.
A propósito: para a apresentação deste sábado (12), ele trouxe um novíssimo modelo, terminado por Filippo Fasser (luthier italiano, é claro) há três meses. O instrumento une características contemporâneas a um design clássico: é cópia de um Maggini – o nome vem do luthier italiano Giovanni Paolo Maggini (1580-1630).