Pioneiro da música brasileira (e bad boy no tempo do Império)
Muito antes, mas muito antes mesmo, de se registrar o primeiro faniquito de uma estrela pop, ele já aprontava de verdade. Durante uma récita no Teatro Provisório (construído no Campo de Santana, em 1853), perdeu a linha com provocações vindas da plateia, saltou do fosso da orquestra e partiu para a briga com o […]
Muito antes, mas muito antes mesmo, de se registrar o primeiro faniquito de uma estrela pop, ele já aprontava de verdade. Durante uma récita no Teatro Provisório (construído no Campo de Santana, em 1853), perdeu a linha com provocações vindas da plateia, saltou do fosso da orquestra e partiu para a briga com o seu respeitável público. Acabou em cana. O tempo de xilindró foi rápido, comparado com os três anos de reclusão – por “crime de galanteio”, evidente eufemismo – cumpridos na França, onde fora estudar no Conservatório de Paris. Diante desse comportamento bem temperado, não havia talento que sustentasse as benesses de dom Pedro II. Expulso do conservatório francês, para onde havia sido enviado com o apoio do imperador, o músico voltou para casa. No Rio novamente, o carioca nascido na Ladeira do Castelo Henrique Alves de Mesquita (1830-1906) tornou-se um dos pilares da música brasileira. Machado de Assis o chamou de “o Beethoven brasileiro”. Entre os pesquisadores, duas de suas composições, Olhos Matadores e o tango da mágica (espécie de opereta) Ali Babá, ambos de 1871, disputam o posto de primeiro tango brasileiro – o gênero que viria a inspirar Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth no caminho do maxixe rumo ao choro. Isso tudo eu aprendi da forma mais prazerosa possível: depois de assistir, no último dia 15, no CCBB, ao concerto de lançamento do CD Henrique Alves de Mesquita – Músico do Império do Brasil, atração do 51º Festival Villa-Lobos (confira AQUI a programação, que segue até domingo, dia 24).
O disco, uma enorme contribuição para a história da nossa música, foi gravado pelo Art Metal Quinteto, de Jessé Sadoc, Wellington Moura (trompetes), Antonio Augusto (trompa), João Luiz Areias (trombone) e Eliezer Rodrigues (tuba). Suas quinze faixas dão bem a dimensão da importância do “Beethoven brasileiro” – trazem preciosidades históricas como a abertura da ópera O Vagabundo, além da marcha heroica feita por encomenda, para homenagear o diplomata português Marquês de Pombal no ano de sua morte (1782), e outro tributo, uma polca, dedicada ao compositor Carlos Gomes. Essa última composição você acompanha no vídeo registrado ao vivo aí embaixo. Assim que eu souber quando o Art Metal Quinteto volta a se apresentar aviso prá vocês.
p.s. – Antonio Augusto, o trompista do grupo, também está finalizando uma biografia de Henrique Alves de Mesquita, com lançamento previsto para o começo de 2014.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=fmnZZ_llnm4?feature=oembed&w=500&h=281%5D