Rosa de Ouro: ponto alto na história do samba
Começa logo mais, às 19h desta terça (12), o espetáculo-tributo Rosa de Ouro – 50 Anos. Serão quatro dias de debates e samba ao vivo – terça (12) e quarta (13), além de 19 e 20 de maio, na semana que vem – com ingressos a módicos 20 reais por noite no Teatro Sesc Ginástico […]
Começa logo mais, às 19h desta terça (12), o espetáculo-tributo Rosa de Ouro – 50 Anos. Serão quatro dias de debates e samba ao vivo – terça (12) e quarta (13), além de 19 e 20 de maio, na semana que vem – com ingressos a módicos 20 reais por noite no Teatro Sesc Ginástico (Avenida Graça Aranha, 187, Centro). Há muito que comemorar, tenham certeza. Na celebração propriamente dita, Mariana Baltar e Áurea Martins soltam a voz na primeira noite. O dia seguinte traz Nilze Carvalho e Luiza Dionizio. Depois, o público ainda vai ouvir Ana Costa e Glória Bonfim, no dia 19, e Nina Wirtti e Marcos Sacramento, no dia 20. Para acompanhar essa turma, foi convocado o grupo Samba de Fato, formado pelos craques Alfredo Del-Penho (voz e violão), Pedro Amorim (voz e bandolim), Pedro Miranda (voz e percussão) e Paulino Dias (voz e percussão). No programa, uma numerosa antologia musical que inclui Rosa de Ouro (Élton, Paulinho e Hermínio), Pam Pam Pam (Paulo da Portela), Batuque na Cozinha (João da Bahiana), Linda Flor (Henrique Vogeler, Luis Peixoto e Marques Porto) e Lenço (Monarco e Chico Santana). Confira a programação completa AQUI.
Isso é o que vai acontecer daqui para a frente. Quem não sabe (mas quer saber) o que houve há 50 anos para justificar tanta festa pode continuar a leitura, logo depois dos dois vídeos abaixo, registros no YouTube dos gloriosos artistas do passado.
Rosa de Ouro, com Paulinho da Viola e Os Quatro Crioulos
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Aracy Cortes e conjunto Rosa de Ouro
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=rI2VauMz_ho?feature=oembed&w=500&h=375%5D
À HISTÓRIA
No Rio de meados dos anos 60, o samba estava naquela base do “agoniza, mas não morre”, como na canção de Nelson Sargento. Vínhamos do estouro da bossa nova, gêneros estrangeiros dominavam as rádios e a nova preferência nacional, surgida em meados daquela década, viria a ser a jovem guarda. Fundado em 1963, um foco de resistência pequenino, mas luminoso, foi o Zicartola: em um sobrado na Rua dos Andradas, 81, Dona Zica cuidava das panelas, enquanto seu marido, o glorioso Cartola, comandava as rodas de samba ao anoitecer, ao lado de companheiros do naipe de Zé Kéti, Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros. O agito acontecia no segundo andar e o casal dormia no terceiro, num esquema amador delicioso para quem testemunhou, mas terrível para os negócios. Admirador do lugar e dos seus proprietários, frequentador e colaborador assíduo, o poeta Hermínio Bello de Carvalho inspirou-se no fugaz empreendimento de Cartola e Zica para conceber, ao lado de Kleber Santos, o musical Rosa de Ouro.
A previsão inicial de um mês de temporada no Teatro Jovem, então na Praia de Botafogo, 522, estendeu-se para um ano. Foram agendadas apresentações em São Paulo e na Bahia, antes da volta da montagem ao mesmo teatro carioca, em 1967. Dois LPs históricos foram lançados para marcar cada uma das temporadas no Rio. Essa apoteose do samba reunia no palco uma antiga estrela do teatro de revista, Aracy Côrtes (1904-1985), e uma senhora de 63 anos, mas estreante, um talento descoberto por Hermínio chamado Clementina de Jesus. Além das duas damas, entravam em cena Paulinho da Viola, então um jovem bancário que havia debutado pouco tempo antes, no Zicartola, além de quatro craques mais cascudos oriundos de escolas de samba cariocas: Elton Medeiros (Aprendizes de Lucas), Anescar do Salgueiro (1929-2000), o portelense Jair do Cavaquinho (1922-2006) e Nelson Sargento, baluarte da Mangueira. O espetáculo, um passeio pela história da música brasileira, tornou-se um marco, como já intuía o jornalista Sérgio Cabral, autor do texto publicado no encarte de Rosa de Ouro, o LP lançado em 1965, transcrito a seguir:
Sendo a maior contribuição da nossa música popular ao teatro, e vice-versa, “Rosa de Ouro” aponta também o caminho para que se consagre o casamento definitivo entre os dois: o caminho da simplicidade e da vontade de procurar o que há de melhor neste canteiro da arte popular bela e pura que é Rio de Janeiro. De Rosa de Ouro, o magnífico espetáculo que o poeta Hermínio Bello de Carvalho idealizou e dirigiu e que Kleber Santos produziu para o teatro jovem, há muita coisa que se dizer: revelou, aos 63 anos, uma das mais autênticas e talentosas cantoras brasileiras, Clementina de Jesus, possibilitou o reencontro com o público da maior estrela de revista dos nossos palcos, Aracy Cortes; lançou o mais representativo conjunto vocal dos morros cariocas (é formado por compositores das escolas de samba Estação Primeira, Portela, Acadêmicos do Salgueiro e Aprendizes de Lucas). Muita coisa a mais seria para dizer sobre Rosa de Ouro, mas a Odeon se encarregou de exprimir-se melhor, dando uma bela síntese do espetáculo neste disco, e a imprensa carioca já usou todos os adjetivos possíveis para demonstrar o seu valor.” Sérgio Cabral