Solta o som

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Uma cinquentona com tudo em cima

Jovem talento da cena erudita, aos 21 anos  o pianista prodígio foi convidado para inaugurar a casa de concertos, no dia 1º de dezembro de 1965, dividindo o palco com a Orquestra do Theatro Municipal e o maestro Mario Tavares. Logo mais, Nelson Freire volta à Sala Cecília Meireles para celebrar, novamente com música, os 50 […]

Por Pedro Tinoco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 17h44 - Publicado em 1 dez 2015, 13h23
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    Em foto do ano passado, de Felipe Fittipaldi, George Boyd afina o piano Steinway para a reinauguração: a Sala reabriu em 2014, após quatro anos de obras que consumiram 47,5 milhões 

    Jovem talento da cena erudita, aos 21 anos  o pianista prodígio foi convidado para inaugurar a casa de concertos, no dia 1º de dezembro de 1965, dividindo o palco com a Orquestra do Theatro Municipal e o maestro Mario Tavares. Logo mais, Nelson Freire volta à Sala Cecília Meireles para celebrar, novamente com música, os 50 anos do histórico endereço na Lapa. Os ingressos para hoje à noite, quando Freire vai passear por obras de Mozart (Sonata para Piano Nº 1), Beethoven (Sonata º 32) e Chopin (Sonata nº 3), já estão esgotados. Com a gloriosa ajuda do jornalista Marcus Veras  e do livro 40 Anos de Música – Sala Cecília Meireles, de Clóvis Marques, lembramos de onze momentos na história da aniversariante.

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    1896. Construído na virada do século XIX para o XX, o prédio da Sala teve três identidades: hotel, sala de cinema e finalmente sala de concertos. Um portento em sua época, o Grande Hotel abrigou três presidentes – Afonso Pena, Wenceslau Brás e Artur Bernardes. Enquanto cinema, foi o último do Rio a conciliar espetáculos ao vivo no palco com filmes na tela. Fechou as portas em 1961, por conta decadência da Lapa.

    1965. O governador da Guanabara, Carlos Lacerda, depois de desapropriar o Cine Colonial, decide transformar o velho prédio em uma sala de concertos. Na hora de escolher o nome, nasceu a polêmica, pois havia um grupo de jornalistas que apoiava o nome do padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), outros faziam lobby para Villa-Lobos (1887-1959). Lacerda, querendo homenagear a amiga poetisa que morrera em novembro de 1964, bateu o martelo: nasce a Sala Cecília Meireles.

    1967. Nem só de música de câmara vivia a Sala. Uma montagem da Ópera do Três Vintens (Brecht-Kurt Weill) conquista a crítica e no elenco estão os novatos Marília Pêra e José Wilker. As chuvas torrenciais que caíram sobre a cidade provocaram vários apagões e algumas vezes o espetáculo foi apresentado à luz de velas.

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    1974. O jovem violinista russo Vladimir Spivakov, que acabara de ganhar o prestigiado Concurso Tchaikovski de Moscou, quase não consegue entrar no Brasil para seu primeiro recital no Rio de Janeiro. Com a paranoia espalhada pelo regime militar, se era russo era suspeito. Como se não bastasse, a Divisão de Censura implicou com a récita de História de um soldado, de Stravinski, que só foi liberada após muitas delongas para encerrar a temporada de 1975.

    1975. O foyer da Sala vira galeria de arte e na coletiva de inauguração a vanguarda carioca contemporânea das artes plásticas estava nas paredes: Franz Weissman, Sérgio Camargo, Ivan Freitas, Carlos Vergara, Rubens Gerchmann, Anna Letycia.

    1977. A Sala passa a receber o Concurso Internacional de Canto do Rio de Janeiro, que reunia bienalmente as novas gerações de vozes de todo o mundo. Grandes astros do canto lírico como Ruth Falcon e Pamela Coburn surgiram no concurso, mas no primeiro ano do evento na Sala, na categoria tenor, quem levou o prêmio foi o surpreendente candidato japonês Akeshi Wakamoto.

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    1980. Durante todos estes anos a bela acústica da Sala sofria a invasão diária das badaladas do relógio da Mesbla, ali perto. Alícia de Larrocha, a famosa pianista catalã, teria até engasgado entre dois acordes perturbada pelos sons do relógio. O então diretor da Sala, o pianista Miguel Proença, contou com o acaso para resolver o problema. O afinador de pianos da Sala também trabalhava para a senhora De Botton, que tinha um Steinway em casa e era… esposa do dono da Mesbla. Com um simples telefonema tudo se resolveu – no dia seguinte, às 21 horas, o relógio da Mesbla tocou pela última vez.

    1987. 3 de agosto: a multidão se comprime na porta da Sala – e mais de trezentas pessoas não conseguem entrar – pois pela primeira vez serão tocados no Rio de Janeiro os concertos de Bach para dois e quatro cravos. A estreia se deu pelas mãos do holandês Jacques Ogg e dos brasileiros Rosana Lanzelotte, Marcelo Fagerlande e Edmundo Hora.

    1991. O jazz chega à sala com o trompetista americano Wynton Marsalis, no concerto In This House on This Morning, que traz seu hepteto para interpretar composições que seguem o estilo gospel/blues das igrejas batistas dos Estados Unidos e seus ritos afro-americanos. Foi realmente uma noite inspirada.

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    1993. Sob a direção do pianista Artur Moreira Lima, a Sala abre suas portas para a MPB. Até 1994 passam por lá Beth Carvalho, Moraes Moreira, Nana Caymmi, Gal Costa, Baden Powell, Zeca Pagodinho e a Velha Guarda da Portela, entre muitos outros. Mais recentemente, duas estrelas da nova geração da Lapa, Teresa Cristina e Pedro Miranda, também fizeram bonito no palco reformado em 2014.

    2015 – O concerto de piano solo de Egberto Gismonti lota a nova Sala Cecília Meireles, após uma reforma que levou quatro anos e modernizou totalmente o espaço. Depois de vários números no bis, Egberto agradece ao piano a noite magnífica que compartilhou.

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