Celebra-se hoje o centenário de Dorival Caymmi, patrimônio da música brasileira que trocou a quantidade dos afoitos pela qualidade dos clássicos – para que a pressa, a correria, se suas canções vão ficar para sempre? A data inspirou muita prosa, de esmeradas edições especiais na imprensa ao livro O que É que a Baiana Tem? (Civilização Brasileira, R$ 40,00, 294 págs.), recém-lançado pela neta Stella Caymmi – também é dela a biografia Dorival Caymmi: O Mar e o Tempo, publicada em 2001 pela Editora 34. Para participar da festa, bem ao jeito do homenageado, vamos publicar aqui uma, só umazinha, história envolvendo o magistral Caymmi.
É a seguinte:
Nos preparativos para a filmagem de Orfeu Negro, filme de Marcel Camus inspirado na peça Orfeu da Conceição, marco inicial da parceria entre Vinicius e Tom Jobim, o produtor Sacha Gordine e o diretor Camus atazanaram os dois parceiros pedindo mudanças na trilha sonora. Queriam tirar A Felicidade, hoje um clássico, da lista, queriam mais músicas exclusivas para o longa – e não queriam pagar muito. Tom e Vinicius trocaram alguma correspondência reclamando do rumo do negócio. E onde é que entra Caymmi? É o seguinte: o compositor baiano foi convidado para compor, o quanto antes, músicas para o filme, no lugar das que Tom e Vinicius relutavam em fazer. Os dois, quando souberam da novidade, riram gostoso, sabendo da pouca disposição do amigo para o trabalho sob pressão. Não, não tem música de Caymmi no filme, premiado com o Oscar de melhor produção estrangeira em 1960. Sergio Augusto, jornalista insigne, relata o acontecido, com mais brilho, é claro, no livro Cancioneiro Vinicius de Moraes – Orfeu (Editora Jobim Music), que lançou com Maria Lúcia Rangel em 2003.