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Teatro de Revista

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Autora prolífica, a carioca Julia Spadaccini fala sobre seu trabalho

Uma das autoras mais prolíficas da cena teatral brasileira, a carioca Julia Spadaccini já teve dezessete textos montados em dez anos. O mais recente, o drama familiar Aos Domingos (na foto acima), será encenado na Mostra Cena Carioca, no Galpão Gamboa, de 15 a 17 de junho. No dia 21, a peça, que estreou no Teatro […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 19h05 - Publicado em 7 jun 2013, 17h37
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Uma das autoras mais prolíficas da cena teatral brasileira, a carioca Julia Spadaccini já teve dezessete textos montados em dez anos. O mais recente, o drama familiar Aos Domingos (na foto acima), será encenado na Mostra Cena Carioca, no Galpão Gamboa, de 15 a 17 de junho. No dia 21, a peça, que estreou no Teatro Gláucio Gill, começa uma nova temporada, desta vez no Teatro Maria Clara Machado. Na história, dois irmãos se reencontram depois de seis anos e passam suas vidas a limpo. A autora conversou com o blog sobre o seu trabalho — e relatou a influências que temas ligados à saúde mental, área em que ela trabalhou por cinco anos, exercem sobre seus textos. Confiram:

Como começou o seu envolvimento com o teatro?

Me formei em artes cênicas e trabalhei como atriz por um tempo. Em seguida, fiz pós-graduação em arteterapia, faculdade de psicologia, trabalhei por cinco anos na área de saúde mental e comecei a escrever por causa dessa experiência. Os pacientes esquizofrênicos têm modos muito diferentes de acionar o inconsciente. Alguns repetem desenhos, outros repetem expressões corporais, tem os que vivem num universo atemporal. Foi desse contato com a psicologia que nasceu minha vontade de escrever. Queria levar para o público minhas experiências nessa área, falar das perturbações neuróticas, psicóticas, dos desvios, fobias, síndromes. Eu fazia anotações, num diário, sobre os pacientes e seus familiares, quando era estagiária de psicologia numa clínica. Esse diário se transformou em duas peças, as minhas primeiras: Na Geladeria e Boeing 737. Nem sempre falo diretamente da esquizofrenia, mas com certeza ela ronda meus trabalhos. Em Aos Domingos, a mãe dos protagonistas sofre de esquizofrenia, mas ela não aparece, só é citada.

Você já teve dezessete textos montados em dez anos. De onde vem tanta disposição para escrever? Seus textos são projetos inteiramente seus ou você tem parcerias e escreve sob encomenda, a pedido de amigos?

Escrever é uma necessidade, minha melhor via de expressão, o canal que encontrei para expurgar meus questionamentos sobre a vida. Produzir tantos textos está muito ligado a um grande prazer que tenho de dialogar com o mundo. Fiz vários tipos de parcerias, já trabalhei sob encomenda, escrevi em parceria, para amigos e tal. Mas o que me dá mais prazer é ter tempo suficiente para me inspirar, deixar a história amadurecer e escrever sem prazo.

Analisando a sua obra em conjunto até aqui, você diria que há alguma característica, algum tema comum?

Gosto de falar das relações familiares. Esses laços que nunca se desfazem. Por mais bem resolvidas que as pessoas sejam, não conseguem se libertar totalmente das exigências, limites e educação conferidas pelos pais. Essa eterna simbiose, isso de repetir os pais, de não conseguir ser moralmente diferente, de ser um prisioneiro afetivo da vontade da família, me interessa muito. Quando estudava psicologia, me interessei pelo pensamento sistêmico. O esquizofrênico, de certa maneira, é o foco de doença mental, a vítima da doença familiar. É como se naquele indivíduo se expressasse toda a estrutura neurótica daquele sistema. Todos estão adoecidos, mas é naquele sujeito que a doença vai desembocar. Mas isso é um estudo, ainda existem muitos mistérios em torno da saúde mental. De qualquer forma, acredito que a família esteja amarrada num grande núcleo neurótico. Quando um pisa o outro afunda. Esse tema me interessa e expresso isso nas minhas peças.

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Você é uma das autoras elencadas no Mostra Cena Carioca, que reúne jovens autores que têm colaborado intensamente pelo cenário teatral do Rio. Há algum traço comum que una a dramaturgia de autores como você, Rodrigo Nogueira, Jô Bilac, Pedro Brício e outros que não estão na mostra, mas também se enquadrariam nessa categoria?

Acho que cada um segue um caminho diferente. Nossa ligação vem mais pela poesia do que pelo formato. Nós falamos do contemporâneo, um olhar crítico sobre o mundo atual. Alguns são mais fragmentados, outros tem uma estrutura mais redonda. Acho que temos uma liberdade que o dramaturgo não tinha antes. Colocamos nossos processos em cena. Mesmo a nossa desestrutura, nossa inexperiência é colocada na roda. Esse foi um jeito da gente se formar. Foi colocando em cena que aprendemos a cada peça. Cada um com seu estilo e isso é o mais interessante.

Quais são os seus próximos projetos?

Estreio Um Dia Qualquer, dirigida pelo Alex Mello, no Espaço Sesc, em julho, e A Porta da Frente, dirigida por Jorge Caetano e Marco André Nunes, no Oi Futuro do Flamengo, em agosto.

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