Um dos autores mais incensados da atualidade, o britânico Mike Bartlett começa a ter seus textos descobertos — e, felizmente, montados — no Brasil. No Rio, há duas de suas peças em cartaz: Cock — Briga de Galo (Cock, de 2009), no Teatro Poeira (foto abaixo), com direção de Inez Viana, e Contrações (Contractions, de 2008), no CCBB (foto acima), dirigida por Grace Passô. Nas duas, o dramaturgo parte de uma situação envolvendo relações interpessoais para provocar reflexões sobre o comportamento humano, muito mais complexas do que o enredo sugere em sua camada mais superficial. Embora os enredos de ambas sejam bem diferentes, é nessa investigação mais profunda que as duas peças parecem se tocar. Em Cock, John (Felipe Lima) vive há sete anos com outro homem, M (Márcio Machado), mas se vê dividido ao se envolver com uma mulher, W (Débora Lamm). Já Contrações traz Débora Falabella no papel de Emma, funcionária eficiente de uma grande empresa que se vê às voltas com a opressão de uma gerente (Yara Novaes) por conta de uma cláusula específica em seu contrato. A primeira parece ser uma peça sobre sexualidade — e, de certa forma, também é. A segunda sugere um ataque às gigantescas corporações e suas exigências draconianas sobre os empregados — o que não deixa de ser. Mas o que se aborda, em ambas, é uma certa angústia existencial, atrelada à questão da inércia e que ela pode custar à vida de alguém.
Fundador do Grupo 3 de Teatro ao lado de Débora e Yara, as atrizes de Contrações, Gabriel Fontes Paiva conheceu a obra de Bartlett por indicação de um amigo. “Logo comprei três livros com diversos de seus textos. De imediato, me impressionou a escrita ousada e ao mesmo tempo objetiva. Assim como os escritores que tínhamos montado anteriormente, Bartlett possui um pensamento potente e determinante da cena. Desde as primeiras linhas, ficou evidente que se tratava de um dramaturgo especial, daqueles que iluminam o movimento teatral de sua geração. Não por acaso, se destacou tão cedo no cenário mundial. Bartlett não nega a tradição britânica, mas a transcende ao propor questões inéditas e falar com o seu tempo”, conta. Felipe Lima, protagonista de Cock, também é só elogios ao dramaturgo. O texto é primoroso, especialmente pelas tiradas de humor ácido e irônico com que ele consegue permear os diálogos e todos os personagens. Todos são repletos de ambivalência e muito bem construídos, são tipos com os quais podemos nos identificar.”