Crítica: Pai
✪✪✪ PAI, de Cristina Mutarelli. Relações conturbadas entre pais autoritários e filhos oprimidos ocupam a cena desde as tragédias gregas. Partir de premissa tão gasta para chegar a um espetáculo instigante é uma façanha do monólogo Pai. Montado pela primeira vez em 1999, com Beth Coelho no palco, o texto de Cristina Mutarelli agora cabe a Rita Elmôr. […]
✪✪✪ PAI, de Cristina Mutarelli. Relações conturbadas entre pais autoritários e filhos oprimidos ocupam a cena desde as tragédias gregas. Partir de premissa tão gasta para chegar a um espetáculo instigante é uma façanha do monólogo Pai. Montado pela primeira vez em 1999, com Beth Coelho no palco, o texto de Cristina Mutarelli agora cabe a Rita Elmôr. Sob a direção de Bruce Gomlevsky, ela interpreta Alzira, filha de um pai tirano e ausente. Evocando o livro Carta ao Pai, de Franz Kafka, as falas da personagem são um catártico acerto de contas com aquela figura que tanto mal lhe fez ou de Alzira com ela mesma. Sem a presença física do pai em cena, paira uma interessante ambiguidade, na qual realidade e ficção parecem se misturar. O tom algo expressionista da encenação, se por vezes parece competir com a força do texto, também é prato cheio para uma atriz de recursos como Rita Elmôr, em atuação vigorosa. Atenção para o cenário de Nello Marrese e Natália Lana, em que objetos de cena vão sendo desenterrados, como memórias vindo à tona.