Vivendo a fase mais movimentada de sua carreira no cinema, na televisão, na internet e também nos palcos, o ator Gregorio Duvivier está em cartaz simultaneamente em duas peças. Às terças e quartas, no Teatro dos Quatro, ele vive um escritor sem nome no monólogo cômico Uma Noite na Lua. No texto de João Falcão, seu personagem está em plena crise criativa e busca uma ideia para uma peça que ele prometeu entregar para um ator — enquanto tenta, em vão, esquecer a ex, Berenice. De quinta a domingo, no Oi Casa Grande, ele encarna o limpador de janelas J. P. Finch, protagonista de Como Vencer na Vida sem Fazer Força, montagem de Charles Möeller e Claudio Botelho para o musical de Frank Loesser, com texto de Abe Burrows, Jack Weinstock e Willie Gilbert. Aqui, a história gira em torno das divertidas artimanhas que o rapaz cria para subir em uma grande empresa chamada World Rebimboca Company.
A pedido do blog, o ator escreveu um texto exclusivo, no qual põe estes dois personagens para conversar. O resultado, com aquele típico humor agridoce que já virou marca de Duvivier, você confere abaixo:
HOMEM NA LUA
Você por aqui?
FINCH
Onde é aqui?
HOMEM NA LUA
Aqui é o lugar onde os personagens ficam quando não estão sendo interpretados no teatro.
FINCH
Tá cheio, né?
HOMEM NA LUA
Hoje é segunda. Muito pouca peça em cartaz. Precisa ver isso aqui no sábado. Fica um tédio.
FINCH
Como é que você sabe disso tudo?
HOMEM NA LUA
Eu morei aqui catorze anos. Eu fui inventado pra um ator específico, em 98. Esse cara foi eu durante um ano e pouco. Aí ele foi ser outros caras. Foi só catorze anos depois que outro cara foi ser eu de novo. O mesmo cara que é você, atualmente.
FINCH
E é nós dois ao mesmo tempo? Que cara promíscuo.
HOMEM NA LUA
Muito. Ele é você de quinta a domingo. E eu às terças e quartas. E não duvido nada que na segunda ele seja outro caras.
FINCH
Então eu vou ficar aqui toda segunda, terça e quarta?
HOMEM NA LUA
Eu acho difícil. Porque a sua peça é famosa no mundo inteiro, tem sempre alguém sendo você em algum lugar do mundo. Esse seu povo da Broadway nunca vem pra cá. Tá sempre sendo montado, em algum lugar.
FINCH
Em compensação, deve ter gente que não sai daqui, né?
HOMEM NA LUA
Nem fala. Aquele velho ali chama Vovô Pimpolhão e foi escrito pra uma peça infantil de 1957, nunca remontada.
FINCH
Por que é que ninguém te remontou, nesses catorze anos que você passou aqui?
HOMEM NA LUA
Meu autor é meio chato, não gosta de me emprestar por aí.
FINCH
Qual é o seu nome?
HOMEM NA LUA
Pergunta complicada.
FINCH
Por quê?
HOMEM NA LUA
Porque eu não tenho nome.
FINCH
É figurante?
HOMEM NA LUA
Protagonista. Mas protagonista de monólogo.
FINCH
O que é que um monólogo tem a ver com você não ter nome?
HOMEM NA LUA
Ninguém me chama na peça, então não dá pra saber meu nome.
FINCH
Eu não tenho esse problema. Tem muita gente trabalhando na Rebimboca. Falam meu nome o tempo inteiro. Até em música.
HOMEM NA LUA
Eu também tenho música. Mas não fala o meu nome. Só da Berenice.
FINCH
Berenice?
HOMEM NA LUA
É, a mulher que me deixou. A peça é sobre isso.
FINCH
Isso dá assunto pra peça?
HOMEM NA LUA
Pra muitas peças.
FINCH
Não sabia. Eu não costumo ir ao teatro.
HOMEM NA LUA
Eu também não. Mas eu escrevo teatro. Ou melhor, deveria escrever. Se não fosse a Berenice que desde que saiu da minha vida não sai da minha cabeça.
FINCH
Antes dela existir na sua vida você escrevia?
HOMEM NA LUA
Não. Mas depois ficou pior. Não consigo trabalhar porque só penso nela.
FINCH
Eu não consigo pensar em ninguém porque to sempre trabalhando.
HOMEM NA LUA
A gente tem muito a aprender.
FINCH
Também acho. Essas segundas-feiras vão ser divertidas.
VOVÔ PIMPOLHÃO
Aceitam jogar uma biriba?