Divulgada no início da semana, a primeira lista de indicados cariocas ao Prêmio Shell causou alguma surpresa — e não foi pelos incluídos no rol. Para o bem ou para o mal, o que chamou mesmo a atenção foi a concentração de indicações em basicamente três espetáculos: Samba Futebol Clube, musical de Gustavo Gasparani, com seis, E se Elas Fossem para Moscou?, recriação do clássico As Três Irmãs, de Tchekhov, por Christiane Jatahy, e Irmãos de Sangue, mais recente investida da Companhia Dos à Deux, ambos com cinco.
Não é o caso de fazer qualquer objeção às montagens, muito pelo contrário. À exceção de Sacco e Vanzetti, indicado na categoria Música, sobre a qual não posso falar por não ter assistido, todas são absolutamente merecedoras. Mas houve quem estranhasse o fato de, excluídas as peças supracitadas, apenas três outras tenham merecido alguma indicação do júri, formado por formado por Ana Achcar, Bia Junqueira, João Madeira, Macksen Luiz e Moacir Chaves.
De minha parte, uma das ausências mais sentidas está, ironicamente, relacionada a uma das peças mais indicadas: Isabel Teixeira, sublime no papel da irmã mais velha de E se Elas Fossem para Moscou?, não entrou na lista das atrizes — na qual constam, curiosamente, Julia Bernat e Stella Rabello, que dividiram a cena com ela no mesmo espetáculo.
De todo modo, ficou claro na lista uma valorosa opção por privilegiar experiências de renovação de linguagem: o investimento em uma dramaturgia musical brasileira por Gasparani, a busca pelo entrelaçamento de teatro e cinema por Jatahy, a pesquisa em torno do teatro gestual pela Dos à Deux. Não à toa, na categoria Inovação foram indicados Jatahy, “pela construção de uma dramaturgia singular através da integração de teatro e cinema no espetáculo E se Elas Fossem para Moscou?“, segundo o júri, e o elenco de Samba Futebol Clube, “que tornou possível a renovação da estrutura do musical através de sua capacidade de atuar com excelência nas diversas funções do gênero”.
Aplausos, portanto!