Três feras do stand-up comedy, Fábio Porchat, Marcos Veras e Gabriel Louchard estão atualmente em cartaz na cidade, cada um com seu solo. O primeiro está no Teatro Miguel Falabella com o sucesso Fora do Normal, em cartaz há quase três anos. Responsável pelos quadros humorísticos do programa Encontro com Fátima Bernardes, Veras é a estrela de Falando a Veras, no qual mistura comédia em pé com impagáveis números musicais, no Teatro do Leblon. Já o Teatro das Artes recebe o mais inusitado dos três stand-ups, Como É que Pode?, no qual Louchard mistura humor com mágica. A convite de VEJA RIO, os três bateram um longo papo via Facebook, mediados por mim. A primeira parte dessa conversa, com direito a vários momentos divertidos, claro, você lê a seguir. A segunda e a terceira, você confere neste mesmo blog amanhã e domingo, respectivamente.
VEJA RIO: Para começar, queria perguntar o seguinte: há quanto tempo cada um de vocês está com o stand-up em cartaz? Nesse tempo, vocês fizeram algum tipo de ajuste, alguma modificação, inseriram novas piadas, para atrair novos espectadores?
GABRIEL LOUCHARD: Vamos que vamos!!! Estou em cartaz com Como É que Pode? há um ano e meio direto. Primeiro fiz na Barra, depois Gávea, Niterói e retornei à Gávea. Acho que o Porchat e o Veras estão há mais tempo, lembro de ter assistido a Falando a Veras no Leblon, antes mesmo de começar a produzir o meu espetáculo. Neste tempo em cartaz, o espetáculo amadureceu muito, acho que é normal. Nós sempre deixamos aquilo que é tiro certo, funciona mais, e vamos trocando o que achamos que ainda pode ser melhor. Meu show tem um roteiro rigoroso, pois envolve alguns números de mágica, por isso é necessário estar tudo afiado com som, luz e cenário. Estes números não são modificados. O que mudo, às vezes, são os textos de stand-up que costuram o show entre um esquete e outro. Nesses textos, sim, consigo encaixar assuntos do momento, tipo Marco Feliciano, preço do tomate…. Agora, o que faz mesmo cada apresentação ser única, diferente da outra, é o fato de ter alguns números interativos com a plateia. Cada dia é uma pessoa diferente, com estilos e reações diferentes também. Isso proporciona uma boa dose de improviso e espontaneidade ao show.
FÁBIO PORCHAT: Eu estou em cartaz há três anos com a peça. Pouca coisa mudou de texto. O que foi acontecendo é que, com o domínio maior do espetáculo, os tempos foram se transformando. Eu passei a brincar mais fazendo. Pausas, intenções, respiração, voz, eu vou tentando refinar cada ação física para encontrar a forma perfeita daquela piada. Eu evito colocar no show coisas muito factuais ou regionais. Então, o show acaba tendo uma dimensão mais universal. Fiz esse show em Londres, Japão, Acre, e não mudei uma vírgula. Eu hoje sei em que momento pegar ar, em que parte engolir, quanto tempo de pausa dar entre uma risada e outra. O risco é deixar cair no mecânico. Para isso eu aplico uns golpes em mim mesmo. Durante o show, eu às vezes mudo uma informação que eu sempre dou pra ver se eu tô atento.
VEJA RIO: Você fez esse show no Acre, Porchat? Mas não tem uma parte em que você faz piada com o Acre?
FÁBIO PORCHAT: Fiz o show no Acre, sim. E tenho uma piada sobre o Acre. Eu fiz lá, mas adaptando a piada, claro.
MARCOS VERAS: Em julho, completo cinco anos com Falando a Veras. O show que fazia em 2008 é completamente diferente do que faço hoje, mas a essência é a mesma. Já fiz personagens junto com o stand-up, misturava essas linguagens. De dois anos para cá, passei a fazer só a parte do stand-up e os números musicais. Percebi que, com os personagens, o show estava se tornando longo demais. E com os personagens eu tinha um outro espetáculo, que pretendo montar em breve. Rir também cansa. É melhor ficar o gostinho de quero mais do que o de não aguento mais. Porchat me ajudou a diminuir o show, a enxugar. A gente fica muito apegado a piada, porque ela é boa, fica com pena de tirar. Mas hoje faço só o filé. Faço uma hora e quinze minutos de show sem nenhum buraco, nenhuma barriga. E, assim como Porchat citou, hoje tenho controle do que digo, da maneira que solto a piada, sei exatamente o que funciona. E, assim como ele, evito colocar coisas atuais. Meu show é neutro, universal. Faço em qualquer lugar. Em teatro, em empresa e já fiz até nos Estados Unidos, para onde volto agora em outubro para fazer mais para os brasileiros que moram lá. Gosto de falar de música misturada a humor. Acho essa dupla infalível.
VEJA RIO: Veras, como o Porchat colaborou com o seu espetáculo?
MARCOS VERAS: Sempre quis trabalhar com o Porchat, aí fomos nos aproximando, nos identificando com o humor em comum, casamos, tivemos dois filhos… Rsrs. Chamei ele para dirigir uma nova versão do Falando a Veras. Como a peça já estava havia um bom tempo em cartaz, ele entrou como um supervisor e me ajudou na escaleta da peça, e a cortar algumas coisas. Ele foi assistir duas vezes a peça, assistimos ao DVD juntos e fomos anotando coisas, corta ali, tira ali, muda aqui, pausa aqui. E aí consegui diminuir, e me desapegar de alguns números musicais que estavam sobrando.
O legal é perceber como o humor é rico. Aqui temos três comediantes que fazem solos completamente diferentes. Um é um stand- up tradicional, outro tem música e imitação, outro tem mágica. Isso é muito legal.
Gabriel, o que veio primeiro? O humor ou a mágica? E como você se classifica? Comediante mágico? Mágico comediante? Mister M do Humor?
GABRIEL LOUCHARD: Interessante o que Porchat falou no início, é impressionante como com a prática e o tempo vamos vendo que pequenos detalhes ajudam a melhorar muito a piada. Às vezes, uma mudança no tempo da respiração ou na entonação podem mudar completamente a reação da plateia. Mas eu também sou adepto de não mudar muito o show, não. Realmente, as pessoas querem ver de novo aquilo de que gostaram. Como um show de um cantor, se ele não cantar os grandes sucessos as pessoas reclamam. Tem um conhecido que foi assistir a minha peça sete vezes, cada vez levava alguém. Numa dessas eu fiz um teste mudando o início da peça, quis experimentar outro texto. No final, ele reclamou muito que a abertura tinha mudado, ele queria ver pela sétima vez a mesma piada!
Para responder à sua pergunta, Veras, eu comecei aos 10 anos de idade fazendo curso de mágicas e de teatro ao mesmo tempo. Uma coisa sempre andou paralela à outra. Mas aos poucos fui ganhando mais destaque com a mágica, natural, porque um garoto de 13, 14, 15 anos, fazendo show de mágicas não era tão comum. Com isso, fiquei um pouco mais afastado do teatro, e quando percebi era o “Mágico Gabriel”. Durante um tempo, achei legal, mas depois vi que não era o que eu queria, não queria ser rotulado como mágico. Eu sempre gostei de fazer mágicas, mas ainda mais de atuar e fazer humor. Eu já fazia mágicas de uma forma engraçada, com uma proposta diferente, nova. O pulo do gato foi há uns cinco anos, quando conheci o (comediante) Leandro Hassum. Ficamos amigos e comecei a fazer participações no Nós na Fita (espetáculo que Hassum fazia com Marcius Melhem) e no Lente de Aumento (stand-up de Hassum). A partir daí, pude experimentar o stand-up, e o meu desafio era fazer humor, apenas o texto, sem o apoio das mágicas. Pratiquei bem, estudei, fiz o curso do Porchat lá na CAL. Finalmente consegui, vi que deu resultado, daí me senti à vontade para montar um espetáculo onde eu fizesse as coisas que eu mais gosto: mágica e humor, sendo que em alguns momentos eu faço apenas textos de stand-up e, em outros, números de mágicas cômicos. Portanto, me considero um humorista que faz mágicas também.