Na parte final do papo (confira a primeira parte aqui e a segunda aqui) entre Fábio Porchat, Marcos Veras e Gabriel Louchard, eles falam sobre piadas que não funcionam, stand-up comedy na TV, influências e o maior pecado entre os comediantes: roubar o texto alheio. Confira:
FÁBIO PORCHAT: Uma pergunta aos outros dois: o que te faz desistir de uma piada? Além, lógico, dela não estar funcionando…
MARCOS VERAS: O que me faz desistir de uma piada? Bom, se eu sentir que ofendi alguém, mesmo as pessoas rindo daquilo, eu tiro a piada. Sei que o humor sempre tem uma vítima, mas ofender, não. É claro que ofender é um limite em que eu avalio o que é ou não ofensa. Porque senão todos vão se sentir ofendidos com alguma coisa e aí acaba a peça. Teve uma época em que eu fazia uma piada com o (ator) Dado Dolabella. No final do show, veio um amigo dele muito educado, dizendo que amou o show, mas me pediu pra parar com aquela piada, pois o Dado estava passando por um momento muito difícil, conturbado, e que ele era muito amigo dele, e que isso podia reverberar e prejudicá-lo. Fui lá e, sem nenhum problema, parei de fazer a piada.
GABRIEL LOUCHARD: Desisto da piada se sentir que ofendeu, aí, não. Não tem por que forçar. Outro caso em que desisto é se a piada não fica tão verdadeira. Às vezes a piada é ótima, mas eu não me encaixo naquela situação, não acredito naquilo de verdade, aí é melhor desistir do que forçar uma barra.
MARCOS VERAS: Uma pegunta: vocês, como atores, não tem vontade de fazer teatro? Calma… com mais pessoas no elenco, cenários, figurinos, dramaturgia?
FÁBIO PORCHAT: Claro que sim. Não quero estar fadado à solidão pra sempre!
GABRIEL LOUCHARD: Tenho vontade de dividir o palco com outros atores, sim, é claro, mas não agora, pois estou 100% envolvido com o Como É que Pode? e o Zorra Total. Se bem que tempo se arruma, olha o Veras, não é mágico e arruma tempo para o Zorra, Encontro com Fátima, Atreva-se e Falando a Veras. Veras, não embaralha os textos não? Já deu aquele famoso branco no Atreva-se? No stand-up, esquecer o texto é mais tranquilo, passa batido, pois tudo para o público parece um pouco de improviso.
MARCOS VERAS: Em um solo de stand-up é muito difícil dar branco. O texto é seu, coloquial, a gente brinca, dá-se um jeito na hora. No caso do Atreva-se, que tem dramaturgia, uma história para contar, o branco se mostra diferente. Se você estiver concentrado, o branco dura pouco e você improvisa com coerência. Se estiver desconcentrado o riso vem na hora, a plateia sempre gosta de ver o ator se dando mal, e eu tenho riso frouxo. Sobre fazer tantas coisas ao mesmo tempo, eu também me pergunto como dá. Mas não vejo problema nisso. Calma aí, deixa eu perguntar pra minha esposa pra ver o que ela acha…
Vocês acham que stand-up funciona na TV? Já tive uma experiência no Fantástico e acho que foi legal.
GABRIEL LOUCHARD: Claro que pode dar certo na TV. O Jô Soares abre muito espaço para isso, tinha o quadro Humor da Caneca. O Altas Horas (programa do apresentador Serginho Groisman) também dá muito espaço, o Faustão agora com o quadro Saco de Risadas, o Paulo Gustavo bombando no Multishow. Dá certo, sim! Mas, é claro, no teatro flui mais, pois você tem a resposta imediata do público, acho que fica mais quente. Em TV, quando não é programa de auditório, não fica tão quente, mas funciona, sim!
FÁBIO PORCHAT: Acho que stand-up funciona na TV, sim. Mas é uma coisa um pouco esquemática. Tem que ser no teatro, com plateia reagindo na hora, é a risada que alimenta o humorista. Se não tiver ninguém rindo fica esquisito.
VEJA RIO: Vocês já roubaram piada alheia? Mesmo que não tenha sido a piada inteira, mas pelo menos a ideia, devidamente adaptada? Se tivessem que escolher só uma, que piada vocês ouviram na boca de outro stand-up comedian e pensaram: “Putz, essa eu queria ter feito”?
GABRIEL LOUCHARD: Piada é sagrado! Eu já usei no show umas gags, piadas curtinhas, que o Hassum usava, claro que com a autorização dele. Mas textos, não, não tem como usar o um stand-up de um colega.
FÁBIO PORCHAT: Roubar texto é como roubar dinheiro. Devia dar cadeia, inclusive. Hahaha. Tem uma piada do Veras que eu acho ótima e que já me vi passando diversas vezes por ela: a da modelo que posa para uma foto, em que o fotógrafo fala “ajeita a mão, a perna, a cabeçaa, sorri, agora fica natural”.
GABRIEL LOUCHARD: Essa é ótima!!! Eu gostaria de ter escrito o texto do Hassum sobre religião, principalmente a parte em que ele imita uma macumbeira falando com ele, naquela linguagem de macumbês, e ele retruca “senhora, vai fazer uma fono, não to entendendo nada, a senhora lida com o público, vamos articular!” Porchat, seu texto sobre banheiro de mulher é demais também! Tô até pensando em fazer esta semana! Hahahaha!
MARCOS VERAS: Roubar piada é feio, é podre, é imundo, pena de morte. Não acho legal fazer isso. A matéria-prima do comediante é criar, sempre. O que pode acontecer, e acontece, é que cabeça de comediante pensa as mesmas besteiras às vezes, então pode ter algo parecido, mas nunca igual. Por exemplo, quantos comediantes falam de avião e aeroporto? Normal, porque passamos por isso sempre, então uma observação ou outra pode coincidir, mas com um detalhe ou ponto de vista diferentes. As piadas de viagens de férias do Porchat são incríveis porque você visualiza todo aquele momento e como ele passou por aquilo, tudo o que ele fala tem um propriedade incrível. Você acredita e ri junto. Não sei se tenho mais invejas das piadas ou das viagens, rsrrs.
GABRIEL LOUCHARD: Galera, para vocês quem são as referências no humor aqui no Brasil?
MARCOS VERAS: Referências de humor aqui no Brasil são várias. Citar um é impossível. Mas vamos lá: Chico, Jô, Golias, Agildo, Pedro Cardoso, Luiz Fernando Guimarães, Porchat (é verdade), eu (mentira).
FÁBIO PORCHAT: TV Pirata, Os Normais, Pedro Cardoso, Golias, Chico Anysio, Lúcio Mauro, Jorge Dória.
GABRIEL LOUCHARD: Jorge Dória, sensacional! Pedro Cardoso é unanimidade! Ah, e o Inri Cristo também! Hahaha. Já entre os programas, A Grande Família (Porchat, deve ser demais fazer!), Os Trapalhões, Chaves, TV Pirata, Comédia da Vida Privada e, é claro, o horário eleitoral gratuito.
VEJA RIO: E as influências de fora?
FÁBIO PORCHAT: Monty Phyton.
MARCOS VERAS: Monty Phyton, Buster Keaton.
GABRIEL LOUCHARD: Gosto muito do Jim Carrey, Ramon Valdez, intérprete do Seu Madruga, Peter Sellers e Steve Martin!
MARCOS VERAS: Pergunta para Porchat e Gabriel: vocês têm vontade de fazer drama? Digo, como ator e não na vida a dois. Uiii.
GABRIEL LOUCHARD: Veras, estou agora dentro do avião, indo de Manaus pra São Paulo, num voo lotado e debaixo de um temporal!!! Quer drama maior? Falando sério, acho legal pela experiência. Acabei de filmar um curta do Maurício Rizzo, um drama, mas com pitadas de comédia. Mas vontade, vontade, no momento não sinto, não é algo que me desperta tanto interesse, pelo menos por agora, nesta fase da minha carreira.
MARCOS VERAS: Apesar de achar a comédia muito mais difícil, gosto de experimentar outras áreas. No Atreva-se, mesmo, além da comédia, um dos personagens que faço vive um drama.
FÁBIO PORCHAT: Eu sempre digo que gosto de boas histórias, comédia, drama, terror. Claro que eu tenho uma facilidade pra comédia, mas drama é um desafio que eu quero ter.
MARCOS VERAS: E o Marcos Feliciano representa vocês? Tô zuando, só pra gerar polêmica mesmo.
VEJA RIO: Para finalizar: com o que não se pode fazer piada?
GABRIEL LOUCHARD: Eu não faço piadas com a aparência das pessoas e nem com tragédias, acidentes ou assuntos que marcaram ou chocaram as pessoas com uma carga dramática forte. Fica grosseiro.
MARCOS VERAS: Não faço piada com tragédias recentes que chocaram a sociedade. Talvez, com o passar do tempo, seja permitido, mas uma favela pega fogo e o comediante vai para o Twitter ou para o palco fazer piada daquilo para mostrar que é antenado, que é atual, acho muito triste.
FÁBIO PORCHAT: Eu não faco piada com time de futebol, porque é a unica coisa que faz a plateia se irritar de verdade.