Como os mórmons segregados, perseguidos e dispersos pela região central dos Estados Unidos que se juntaram em peregrinação a Utah em meados do século XIX, centenas de apreciadores de musicais têm rumado quase que diariamente para o campus da UniRio, na Urca. É lá, na Sala Paschoal Carlos Magno, um pequeno teatro de 140 lugares, que está em cartaz, de segunda a quinta e aos sábados desde 25 de novembro, o divertidíssimo The Book of Mormon, primeira montagem brasileira do sucesso de Trey Parker, Matt Stone — os criadores do desenho animado South Park — e Robert Lopez — a mente por trás do Avenida Q, um dos musicais mais iconoclastas de todos os tempos. Ontem eu fui um desses peregrinos (a péssima foto aí em cima, feita no momento da reverência, é minha). E posso dizer sem medo: saí convertido.
Encenado originalmente em 2011, na Broadway, o musical conquistou o Tony em nada menos do que nove categorias, e atualmente tem montagens em mais de vinte cidades. Por aqui, a encenação é resultado de um belo projeto acadêmico de Rubens Lima Jr, professor do Centro de Letras e Artes da UniRio. Desde 2007, ele vem dirigindo musicais anualmente, sempre com presença maciça de estudantes de teatro — não apenas da UniRio como, a exemplo do que acontece em The Book of Mormon, da UFRJ e da UFF. Trata-se, portanto, de uma montagem universitária. E, como tal, feita com pouco dinheiro (ou certamente bem menos do que um grande musical feito por aqui). Mas é impressionante o que o talento genuíno é capaz de fazer a despeito de limitações orçamentárias, e esta produção é um caso eloquente disso.
Na história, um grupo de jovens missionários mórmons conclui sua formação religiosa, momento em que serão mandados, em duplas, para pregar em várias partes do mundo. O almofadinha e autocentrado Elder Price (Hugo Kerth, ótimo, à direita na foto) sonha em ir para Orlando, na Flórida, mas acaba, em Uganda — e, como se não bastasse, seu parceiro é Elder Cunningham (Leo Bahia, à esquerda, sem dúvida a grande estrela do elenco), um gorducho nerd e meio desmiolado. É claro que, bem ao estilo de Parker, Stone e Lopez, não sobra pedra sobre pedra: religião, gays, África e, por que não?, até mesmo os musicais viram alvo de piadas. Tudo ao som de músicas contagiantes com letras impagáveis, em versões de Alexandre Amorim. A ele se juntam profissionais com estrada, como o diretor musical Marcelo Farias e o coreógrafo Victor Maia.
Uma crítica completa, efetivamente, fica para outra hora. O que quero dizer aqui é: não deixe de ir. Só tem hoje, amanhã e sábado, às 21h (o campus da UniRio fica na Avenida Pasteur, 436). É de graça, mas tem que pegar senha com antecedência. E que se avise: as filas têm sido imensas. O que não falta, pelo visto, é gente querendo se converter.