Thalita Reboucas

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A culpa é dos adultos

No auge do sucesso vampiresco de Crepúsculo ouvi de uma leitora de 11 anos, durante um bate-papo em um evento literário, a pergunta: – Por que você não faz Fala Sério, Vampiro? A plateia gargalhou, assustando a menina, que não intencionou fazer rir. Ela apenas queria que eu misturasse a Malu da minha série de […]

Por thalita
Atualizado em 25 fev 2017, 18h35 - Publicado em 4 ago 2014, 20h30
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  • No auge do sucesso vampiresco de Crepúsculo ouvi de uma leitora de 11 anos, durante um bate-papo em um evento literário, a pergunta:

    – Por que você não faz Fala Sério, Vampiro?

    A plateia gargalhou, assustando a menina, que não intencionou fazer rir. Ela apenas queria que eu misturasse a Malu da minha série de maior sucesso a seres de caninos avantajados que não morrem. Como explicou em seguida, seria um sonho ter suas “duas paixões num livro só”. Não é uma fofura a lógica pré-adolescente?

    Quando Meg Cabot veio para a Bienal do Rio me pediram Fala Sério, Princesa!. Mas não parou por aí. Uma garota que ama muito, muito mesmo, filhotes de cães sugeriu Fala Sério, Cachorrinho! na feira do livro de Campos.

    Tudo isso para dizer que numa mesma frase jovens podem ser coerentes e surpreendentes. E para dizer também que adorei a adaptação cinematográfica de A Culpa é das Estrelas, best-seller de John Green que caiu nas graças de adolescentes e pré-adolescentes do mundo todo, como minha sobrinha Maria Antonia, que se acabou de chorar comigo durante a sessão. Desde que soube do enorme êxito do título, fiquei intrigada. Trata-se de um romance entre dois jovens diagnosticados com câncer.

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    Para entender o sucesso do livro e do filme entre gente tão novinha, não preciso ir muito longe. Adolescentes gostam de sofrer, ouvi de uma leitora cerca de 10 anos atrás. Fiquei com isso na cabeça. E o sucesso de A Culpa é das Estrelas confirma o gosto pelo sofrimento dessa turma com espinhas, dúvidas cruéis, amores platônicos e hormônios em ebulição.

    Ao sair do cinema, encontrei uma amiga, cuja filha de 12 anos é fã incondicional de Hazel Grace e Augustus, os protagonistas da história de Green, e também dos meus livros.

    – O que esse filme tem? Me explica, por favor! — pediu ela. — Todo mundo sai com cara de choro!

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    – Adolescente gosta de sofrer — tentei, usando a frase que ouvi 10 anos atrás.

    – Não pode ser! Então como é que seus livros vendem tão bem? Não entendo!

    Também me fiz essa pergunta quando percebi a dimensão de A Culpa é das Estrelas. Pensei: “como eles gostam dos meus livros, todos pautados pelo humor e pela ironia, e do livro do Green?”. Elementar.

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    – Eles gostam do que os entretêm, do que capta sua atenção. Não importa se são histórias com vampiros, princesas, casais com câncer ou pessoas que podiam ser seus melhores amigos. Adolescente é assim. Por que eles têm que gostar de uma coisa só, por que não podem gostar de várias?

    A vontade de rotular adolescentes é muito grande. O mercado quer, os pais querem, os jornalistas querem. Mas adolescentes não são rotuláveis. Eles são muito mais complexos do que os adultos pensam. E gostam de rir e de chorar, de sofrer e de sentir a maior das alegrias, de agir como crianças e como gente grande no minuto seguinte, de experimentar, de ousar e sentir medo, de ler e ver filmes que falem ao coração, não importa o tema.

    Gostam de admirar o reflexo da lua no mar, de pirulito e pipoca, de questionar, de enfrentar, de abraços e beijos, de suspiros e bufos impacientes. E, sim, julgam pelas aparências, são muito chatos em alguns momentos e dóceis em outros. Iguais aos adultos. Só que sem filtro, sem máscaras. Adolescentes são adultos melhorados, não gastam sorriso à toa. Por isso sou tão fã dessa turminha — que certamente vai odiar ser chamada de “turminha” neste texto.

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