Thalita Reboucas

Por Blog Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Blog da Thalita Rebouças
Continua após publicidade

Londres sem troca da guarda? Tô dentro!

Na última viagem que eu e meu marido fizemos a Paris tivemos a deliciosa companhia de um casal de amigos, o Caíca e a Cristina, em sua primeira visita à Cidade Luz. Lá, avisamos a eles que assim que pisassem de volta em solo carioca o primeiro amigo que encontrassem certamente perguntaria: “Foram a tal […]

Por thalita
Atualizado em 25 fev 2017, 19h17 - Publicado em 24 nov 2012, 13h24
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Na última viagem que eu e meu marido fizemos a Paris tivemos a deliciosa companhia de um casal de amigos, o Caíca e a Cristina, em sua primeira visita à Cidade Luz. Lá, avisamos a eles que assim que pisassem de volta em solo carioca o primeiro amigo que encontrassem certamente perguntaria: “Foram a tal lugar? Não?! Caramba, então vocês não conheceram Paris”. Complementamos com um adendo gaiato: “Todo mundo conhece mil lugares imperdíveis em Paris e em várias cidades do mundo. Por isso, pra facilitar, mesmo se não tiverem ido digam que foram e a-do-ra-ram”.

    Nunca viajo me sentindo na obrigação de ir aos pontos turísticos só porque todo mundo no mundo inteiro vai. Na minha humilde opinião, tudo bem ir a Roma e não ver o Papa, ir à Paris e não ver a Mona Lisa, ir à Natal e não andar de dromedário. Ah, sim. Eu descobri na minha ida à Natal que dromedários são uma atração e tanto por lá. Amo o Nordeste e este ano tive a possibilidade de conhecer a capital do Rio Grande do Norte e toda sua beleza por conta de um trabalho. Num dia de folga, propus ao meu acompanhante Wiled, amigo de todas as horas, um típico programa turístico: um passeio de buggy.

    O motorista chegou empolgado avisando que seriam seis horas de passeio. Diante da nossa cara de espanto, ele justificou: conheceríamos sete praias e duas lagoas. Duas lagoas! Ok, bora turistar!

    Depois de um engarrafamento quilométrico e suando bicas no banco de trás, eu e Wiled fomos apresentados à primeira praia: Genipabu. Ficamos impressionados. Era tudo muito: muito bonito, muito grandioso, muito arrebatador, muito quente, muitas dunas, muita gente, muito jegue. Opa! Jegue!

    – Quem quer foto com jegue? Quem quer foto com jegue? – perguntava um menino de bermuda.
    – Tire, moça. Jegue aqui é atração turística. E é baratinho. Agora, se montar no jegue é um pouquinho mais caro, viu? – explicou o motorista.
    – Mas tem fila, moço – reclamou Wiled.
    – Mas anda rapidinho, seu William.

    Wiled/ William e eu recusamos prontamente, e olha que o menino de bermuda era insistente à beça. Nada contra os jegues, até gosto deles, mas eu e o Wil não somos o tipo de turistas que tira fotos a todo momento, ainda mais de atrações turísticas. Fotografamos a paisagem mesmo (que dava de mil nos jegues) e, para total surpresa do motorista, que parecia não acreditar na nossa recusa para a foto, pedimos para ele seguir com o passeio.

    Continua após a publicidade

    Chegamos à primeira lagoa, cujo nome não me recordo e onde era impossível achar um espaço vazio na praia que a circundava. Lagoa bonita, lagoa lotada, vimos, não caímos na água e chamamos o motorista dez minutos depois de chegar lá.

    – Mas já? Era pra vocês ficarem pra base de uma horinha se refrescando aí. Ôxe, mas vocês não são fáceis…
    Partimos para a segunda lagoa.
    – Aqui vocês vão querer ficar. É a lagoa da tirolesa. Cai de bunda na água, o povo adora.
    ⎯ Mas a gente não tem mais idade pra isso, moço.
    ⎯ Como não? Isso aqui é atração turística!

    Cada vez mais inconformado com nossa atitude turismo zero, o motorista nos levou a outra praia, mais outra, e nós, sem sair do carro, nos limitávamos a suspirar embevecidos com a paisagem e seguir em frente. Sem parar para fotos. Finalmente chegamos à praia onde estavam os famosos dromedários.

    ⎯ Daqui a uma meia horinha eu tô de volta e pego vocês. Porque agora é a vez dos dromedários e eu duvido, du-vi-do!, que vocês não queiram dar uma voltinha de dromedário. Porque du-vi-do que no Rio tenha dromedário dando sopa assim!
    ⎯ Não! A gente não quer andar de dromedário… Já vimos os dromedários, são fofos.
    ⎯ E desde quando dromedário é fofo, dona? Dromedário é um bicho raro, gente! Aproveita o dromedário, vai por mim!
    ⎯ Sem dromedário, querido… ⎯ decretou Wiled.
    ⎯ Mas estamos adorando o passeio, mesmo sem dromedário, viu? ⎯ disse, pra deixá-lo mais felizinho.
    ⎯ Então agora vocês vão almoçar? Tem um restaurante aqui perto onde todos os turistas almoçam e adoram.

    Continua após a publicidade

    Preferimos almoçar perto do hotel a nos arriscar a cair numa cilada turística sem corcova.

    ⎯ Então vamos voltar pra Natal… Fazer o quê? ⎯ suspirou o motorista, que não era dromedário mas era um fofo.
    ⎯ Mas já? E as seis horas de passeio? ⎯ questionou Wiled.
    ⎯ Ôxe, mas vocês não quiseram fazer nada, seu Wilem… A gente em duas horas já matou tudo.

    No caminho de volta, ele passou por uma linda praia deserta, de água cristalina, cenário de filme. Quisemos parar para um mergulho.

    ⎯ Aqui? Mas justo aqui!? Aqui não tem nada demais! Ninguém para aqui! Nem comida pra vender tem! A senhora me desculpe, mas vocês são esquisitos, hein?

    Continua após a publicidade

    Rimos e nos jogamos na imensidão azul felizes como duas crianças, abestados com a beleza arrebatadora, com a natureza em estado bruto. E um silêncio celestial. Achamos sem querer o paraíso na Terra. Ele era nosso. Só nosso. E é assim que eu gosto de viajar: descobrindo lugares, experimentando sensações e comidas novas, me permitindo fazer o que ninguém faz, o que não está em nenhum guia turístico. Às vezes, sentar numa praça e ver a vida passar numa cidade que você visita pela primeira vez pode ser muito mais interessante e enriquecedor do que tirar mil fotos em lugares insuportavelmente lotados ou pegar uma fila gigante só para dizer que foi, sim, a tal lugar considerado imperdível pela maioria das pessoas.

    No almoço, num restaurante simples de culinária impecável, que escolhemos aleatoriamente quando bateu a fome, pedimos várias entradas para beliscar. Perguntei ao garçom:

    ⎯ Essa lula à dorê aqui do cardápio… Ela é tipo incrível?
    ⎯ Não é não, é empanada.

    Rolei de rir.

    Continua após a publicidade

    Como a lula era sensacional e fez muito bem às minhas papilas gustativas, mudei de hábito. Agora, quando quero dizer que algo é incrível, digo simplesmente que é empanado. Tipo empanado.

    E assim, com idas despretensiosas a restaurantes mais despretensiosos ainda, viagens como essa se tornam inesquecíveis. Falando em inesquecível, Natal é tudo de bom e mais um pouco. É tipo empanado. E bota empanado nisso!

    Publicidade

    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de 35,60/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.