Combinamos de ir à praia e eu já sabia que teria uma manhã incrível com ela. Talentosa Suzana sempre foi, mas de uns tempos pra cá ela uniu o talento à fama, pois sempre arrasa em suas aparições televisivas. Estou falando de Suzana Pires, linda, gostosa, hilária, inteligente e, para meu deleite, uma grande amiga. Aterrissou na areia como se estivesse chegando em Angra. Não, Angra é pouco. Ela estava musa de balneário europeu: vestidão, chapelão, cabelão, oclão. Costumo dizer que ela faz a linha rica de novela, já acorda chique.
Sentamos, rimos, quá quá quá pra cá, quá quá quá pra lá. Cinco minutos se passaram e uma mulher de seus 50 e muitos anos, cabelo loiro preso numa piranha de flor, biquíni muito pequeno e pele muito queimada de sol se aproximou:
– Desculpa atrapalhar vocês… Mas… Nossa… Ai, desculpa, fico até nervosa… Como é que vou falar… A-do-ro você.
– Obrigada! – agradeceu Suzana, feliz.
– Sério, você é… como é que vou dizer… um talento!
– Puxa, obrigada!
– Não quero atrapalhar, não, sabe? Desculpa mesmo.
– Imagina, não tá atrapalhando…
Foi a deixa para a loira da pele de urucum sentar-se na areia. Fazendo a linha “amiga íntima”, pegou a mão de Suzana e discursou:
– Tu tem uma coisa que… sei lá, sabe? Mexe com a gente, mexe com a alma da gente.
Opa! Aquilo estava ficando bom. Até me ajeitei na cadeira.
– Tu pegou o mesmo táxi que eu outro dia. O táxi do Albertinho, tu sabe quem é, né?
– Não, não me lembro de nenhum Albertinho, desculpa.
– Albertinho! Menina, ele que te levou pro cemitério às dez da noite! O que é que tu foi fazer no cemitério às dez da noite, dona Suzana?
– No cemitério? Ah! Fui gravar “Gabriela”!
– Isso! Tu fazia uma personagem ótima, rolava de rir, era a… a… Pera, eu sei, começa com F…
– Glória.
– Isso! Glória. Amei a Glória. Você e Ary Fontoura mandaram muito bem!
– Ary é mestre.
– Mestra é tu, que une talento, beleza e conteúdo. Porque não aguento mulher sem conteúdo. Tu tem é conteúdo, Suzana. Desculpa, é Suzana o quê, mesmo?
– Pires.
– Isso! Pires! Suzana Pires! Amo! Amo você! Mulher de conteúdo.
– Falando em conteúdo, preciso te apresentar uma mulher assim, do jeito que você gosta: Thalita R…
– Ribeiro!
– Rebouças – corrigi, sorrindo.
– Isso. Foi o que eu disse: Re-bou-ças. Amo você. Amo seus livros. Tenho todos os que você escreveu. Os dois. Tão novinha e já com dois livros publicados, hein?
– Que dois, menina? Já são 14 livros!
– Caramba! Jura? Menina, como é que eu só li dois? Li o “Fala sério, namorado” e o “Como ser feliz na adolescência”.
O que dizer numa hora dessas? Não existe “Fala sério, namorado” e nunca escrevi “Como ser feliz na adolescência”.
– P-pois é… agora você tem mais 12 pra ler.
– Ah, mas eu gosto mesmo é de ver você na televisão. Tu é vascaína roxa, né?
– Torço pro Fluminense.
– Exato, exato! Perdão, confundi! Vivo confundindo Vasco e Fluminense.
Ok, não vamos comentar essa parte. Sigamos em frente:
– Tu faz matéria pro Multishow, né?
– Não. Fazia pro Vídeo Show e pro Esporte Espetacular.
– Isso! Vejo sempre. Amo. A-mo!
Como é que digo pra uma pessoa que não faço tevê há dois anos? Arrumei um jeito ótimo:
– Que bom! Obrigada!
– Você devia fazer como a Su, posso te chamar assim, né, Su? Su tá sempre na mídia, nos sites de fofoca. Aliás, te vi num site outro dia, tu é mais gordinha nas fotos, sabia, Su? Aqui tu tá fina, tá até mais branca do que na televisão.
– É, maquiavam o corpo todo da gente pra fazer “Gabriela”.
– O corpo todo? Caramba! Que saco, hein? Mas é o preço da fama, né não? E tu, Thalita? Parecia tão magrinha na tevê… Ao vivo tu é mais corpulenta, né? Não tô te chamando de gorda, tô dizendo que tu tá ótima, que nem Su. Duas lindas, magras, inteligentes, mulheres de conteúdo. Não aguento mulher-bunda, sabe? Mulher que passa o dia na praia lagartixando sem ler um livro. Vai ler um livro, pô!
Silêncio… A mulher adorava uma conversa, mas a gente não sabia mais o que falar pra ela. Ela falou pela gente.
– Sabe vesícula?
Não consegui responder.
– Sei – disse Suzana.
– Arranquei a minha semana passada. Ninguém merece, né? Agora sério, alguém diz que tirei a vesícula há uma semana?
– Não – respondemos em coro Suzana e eu.
– Vocês querem beber alguma coisa? Uma cervejinha? A da barraca da Penha é a mais gelada. Penhaaaaa!
Ficamos ali um bom tempo. Bebendo cerveja (ela), falando de novela (ela), perguntando quem é gay e quem não é (ela), até que resolvi intervir:
– Desculpa, mas qual é o seu nome?
– Celeste.
– Celeste, tá ótimo o nosso papo, mas a Suzana veio me encontrar aqui porque a gente precisa conversar sobre umas coisas.
– Trabalho?
– Isso.
– Novela? Para! Thalita Ribeiro e Suzana Prato escrevendo e atuando na mesma novela! Morri!
Morri também.
– Não. Não é novel…
– Teatro? Cinema?
– Não. Não. É um negócio particular mesmo.
– Pode ficar tranquila. Sou um túmulo, fica à vontade, falaê.
E ali, sentada na areia, ela ficou. Sem a menor cerimônia, feliz, bronzeadíssima, rindo pra nós duas e louca para saber mais sobre o nosso assunto.
– Olha só, Celeste… Desculpe, mas preciso mesmo ficar a sós com a Suzana.
Suzana aproveitou para dizer que precisava ir na água e me chamou para ir com ela. Celeste alertou que a gente não ia conseguir mergulhar, que estava geladíssima. Fomos mesmo assim. Deu certo. Levantando-se, Celeste disse:
– Depois a gente bebe mais. Penhaaaa! Traz uma bem gelada pra mim!
Voltamos do mar e conversamos muito. Eu e Suzana, Suzana e eu. Mas Celeste não nos abandonou. Não nos abandonaria jamais. Sentada a poucos metros de distância, ela se fez presente durante toda a manhã.
– Penhaaaa! Traz uma estupidamente gelada pra Su e pra Tati! Essa vai ser por minha conta!