Do alto dos meus 32 anos, eu passava mais uma tarde numa livraria, abordando as pessoas para tentar vender meus livros, quando uma menina de 14 anos (de salto altíssimo, várias camadas de rímel e minissaia jeans) se aproximou:
— Você tem tantos livros e é tão novinha… Desculpa perguntar, mas quantos anos você tem?
— Trinta e dois — respondi, desconfiada. Isso lá é pergunta que se faça?
— Trinta e dois!? Sério? Caraca! — assustou-se sinceramente. Chegando mais perto, sussurrou ao meu ouvido: — Sem plástica ou com plástica?
A pergunta me chocou. Primeiro, porque me senti uma anciã. Segundo, por uma menina de 14 anos (14 anos!!!) achar que uma aparência jovem só pode ser obtida com plástica, mesmo que a dona dessa aparência tenha apenas 32 anos.
Tentei esconder o espanto e fazer uma cara normal.
— Sem plástica! Por quê? Você acha que eu estou precisando?
— Não! De jeito nenhum! É que é impressionante você ser desse jeito sem plástica. Não rolou nem um botox? Mesmo?
— Não, claro que não!
— Tô chokitaaaa! — exclamou, boca aberta, mãos no rosto. — Já falei pra minha mãe que eu quero fazer plástica. Quando eu fizer 18 vou melhorar o nariz e botar peito. O meu é muito pequeno, os garotos não gostam.
— Arrã… — reagi, sem conseguir dizer mais nada.
— Também penso em fazer uma lipinha. Minha mãe já fez e ficou ótima.
Lipinha. A menina de 14 anos (14 anos!!!) chamava lipoaspiração, aquela cirurgia invasiva que tira gordura do corpo com uma cânula, de LIPINHA!!! Uma coisa quase fofinha!
Meu Deus!, berrei em pensamento.
Apesar da vaidade exacerbada e da confiança cega nos benefícios da plástica e do botox, ela era apenas uma menina. Menina que não via a hora de ser mulher. Confesso, fiquei incomodada.
Naquela época já diziam que a infância estava encurtada. Mas o encurtamento continua, inclemente. Já com 36 anos, meses atrás, presenciei por acaso uma festa de aniversário num salão de beleza. Sim, pirralhas hoje comemoram idade nova no salão. Mas a pirralha em questão tinha apenas oito anos!
Uma das convidadas reclamou com o maquiador: “Não dá pra passar corretivo? Odeio olheira!”.
Bateu uma tristeza, uma melancolia dolorida. Esse mundo louco e apressadinho em que vivemos não dá chance para que essas meninas entendam: ser criança é que é tudo de bom.