Uma amiga que mora na Inglaterra me liga e pede que eu seja cicerone de um londrino que terá apenas um dia no Rio. Topo na hora. Nasci para ser guia de turismo, conheço como poucos a cidade e seus encantos mil.
– Como gritam as mulheres lá dentro! – comentou ao desembarcar, antes mesmo de me dar bom-dia.
Ok, compreensível o espanto. Aquela bagunça de vozes anunciando táxis logo na chegada é mesmo estranha. Mas começamos mal. Implico com quem não dá bom-dia.
No caminho, resolveu comentar sobre… as vans.
– Param assim, no meio da rua? Não tem um ponto?
Que difícil explicar as vans! Poxa, tanta coisa boa pra apreciar e ele reparando nas vans? Gringo chato!
– Esse trânsito é sempre lento? – questionou, em plena orla de Ipanema, aquela maravilha de cenário.
Fiquei com vontade de fazer picadinho de gringo. Mas fui magnânima. Está reclamando? Toma Santa Teresa!
– Que vista incrível! – exclamou, extasiado, assim que chegamos ao restaurante de onde se vê o Rio em toda sua plenitude.
Foto daqui, foto de lá, caipirinhas, petiscos, rango de lamber os beiços e…
– Que cidade! Que comida! E que caipirinha! – elogiou.
Bingo! Sabia que o Rio não ia me decepcionar. O inglês zero dotado de humor estava, enfim, arrebatado. Mas eu queria mais, queria deixá-lo apaixonado. Adolescentemente apaixonado pela cidade mais especial que conheço.
Rumei para o entardecer do Bar Urca.
– Onde ficam as mesas?
– Não tem mesa. Nem cadeira. A gente senta na mureta.
– E os garçons?
– Não tem garçom. A gente faz o pedido no balcão e volta pra babar com essa vista.
– Oh. My. God. Que vista! – suspirou.
– O Rio é gostoso assim. Simples assim. Grandioso assim – expliquei. – Aproveita o visual enquanto vou pegar cerveja e umas empadas.
Quando voltei, ele ria com os vizinhos de mureta, que logo viraram nossos melhores amigos. Entre um brinde e outro, apresentamos ao gringo uma peculiaridade carioca que existe desde que o Rio é Rio: a amizade de bar.
O céu já mudava de cor quando chegou uma traineira com um grupo animado cantando “Como é grande o meu amor por você” e estimulando o pessoal da mureta a cantar junto. De braços levantados e com toda a força do gogó, entramos no clima.
Encantamento bocó estampado no rosto, ele comentou:
– Achei que tanta alegria só acontecia no Carnaval.
Apenas sorri. Ele olhou o relógio, triste por ter que partir.
Antes de entrar no táxi, disse:
– Vou voltar. Quero ficar mais tempo por aqui.
– Eu já sabia – respondi, vitoriosa, antes de dar uma mordida na minha sétima empada e brindar o cair da noite com meus novos amigos: – Ao Rio!