As pessoas vem tentando descobrir como viver há muito tempo. Você habita a terra do que sabe, em termos pragmáticos e conceituais. Agora, imagine o que está além disso? Existe um imenso espaço de coisas que você não sabe, que outras pessoas podem compreender, pelo menos em parte. E além desse reino das coisas que alguém sabe, existe o espaço das coisas que ninguém sabe. Então é assim: o seu mundo é um território conhecido, rodeado pelo relativamente desconhecido, cercado pelo absolutamente desconhecido.
Acredito que vivemos pela beleza, pela literatura, pela arte. Não podemos viver sem alguma conexão com o divino – e a beleza é divina – porque em sua ausência, a vida é muito curta, sombria e trágica. Pode ser avassalador nos abrirmos para a beleza do mundo que nós, como adultos, recobrimos com a simplicidade. Às vezes perdemos a noção da grandeza e do deslumbramento que o mundo sem barreiras é capaz de produzir, e acabamos reduzindo nossas vidas apenas às necessidades.
Me matriculei num ateliê de perfumistas. Vivo há dois anos mergulhada nos saberes da terra, aprendendo o uso medicinal das ervas, dos óleos e tinturas para compor as sessões restaurativas com meus alunos. Acrescentei a isso o sonho de descobrir o cheiro de cada um, ou melhor, o elixir daquele momento, de cada um. Então, se houver a habilidade na prática, como há na fantasia, em breve a minha perfumaria botânica será algo real. Nem todos precisam estar nessa fronteira da transformação entre o desconhecido em conhecido, claro.
Fico pensando que criar algo bonito é difícil, mas vale a pena. Se você aprender a criar algo belo em sua vida, mesmo que seja um aspecto isolado, você terá estabelecido uma relação com a beleza. A partir daí, você pode expandir esse relacionamento para outros elementos da sua vida e do mundo. Isso requer ousadia.
Como podemos nos tornar mais quem somos e menos uma ferramenta tediosa sujeita à pressão dos pares, popularidade, moda e ideologia? Talvez estabelecendo um vínculo com o que está além da gente, convidando a beleza a fazer parte de nossas narrativas.
A vida é o que se repete, e vale a pena corrigir tudo o que se repete. Não se engane: seja nadando contra a corrente, seja flutuando a deriva, você envelhece com a mesma rapidez. Porém não há direção quando se está à deriva. A probabilidade de você alcançar o que precisa ou deseja é muito baixa nessa situação. Então, enfrentemos a maldita-bendita batalha. Posso acreditar em uma coisa hoje e em outra amanhã e muitas vezes não tenho problemas com isso, pelo menos no curto prazo.
A dissociação de pensamento e ação é essencial para o pensamento abstrato. E é o abstrato que nos ajuda a pisar no freio das ansiedades, ativando o sistema nervoso parassimpático. Acontece que vivemos tão mergulhados em análises e julgamentos que desaprendemos a comandar o lado direito do cérebro. Boa parte das pessoas que começam a praticar comigo, não conseguem criar imagens em suas telas mentais. Não à toa que vivem de insônia em insônia, de tarja preta em tarja preta, de silêncios opressores.
A simplicidade da realidade é que o silêncio é expansão.
E eu desejo que todos sejam mar.