Por Marcelo Copello
Uma das safras mais poderosas de Bordeaux em todos os tempos, frequentemente comparada (com vantagem) à mais famosa 1961, que saiu logo depois.
Quando os Bordeaux de 1959 foram lançados foram muito elogiados. Alguns críticos, contudo, alertaram que por sua baixa acidez os vinhos desta safra teriam vida curta. Hoje, quase 60 anos depois os melhores vinhos de 1959 ainda estão evoluindo. Um delicioso engano.
Participei de uma espetacular prova, com 6 grandes Bordeaux de 1959, todos em perfeitas condições, mostrando incrível consistência. Como sempre agradeço antes aos que me proporcionaram esta experiência e que comigo a compartilharam.
A SAFRA 1959 EM BORDEAUX
Em termos de clima este foi um ano perfeito do início ao fim, com verão quente, seco e com muitas horas de sol. O único porém foi a chuva no outono, o que fez com que muitos produtores adiassem a colheita em cerca de duas semanas, começando em 20 de setembro. As uvas resultaram muito concentradas e de acidez abaixo da média (fato plenamente compensado por abundância de taninos e demais elementos do vinho).
ESTILO
Em estilo os 1959 são frequentemente comparados a outros anos quentes, como 1982 e 1990 (quem sabe também 2003 e 2009, o tempo dirá). Os melhores 1959 são muito encorpados, opulentos, de textura macia, largos, potentes no nariz e boca, com grande profundidade, muitas camadas de sabor, e grande finesse. A safra foi excelente dos dois lados do rio, em todas as AOC. Os destaques foram Mouton (para muitos o melhor da safra), Lafite (nesta prova foi meu preferido embora ache que o Mouton vai ultrapassá-lo no futuro), além de Latour, Cheval Blanc, Petrus, Haut Brion e La Mission Haut Brion.
VINHOS PROVADOS
Château Lafite Rothschild 1959
Granada muito escuro, sem sinais de idade. Aroma intenso perfumado, muito puro, com notas minerais, de couro, flores, trufas, cerejas. Paladar poderoso, incrivelmente tenso e ao mesmo tempo macio, com força e fineza de taninos (que é o que sempre me impressiona nos melhores Lafites), muito longo. Clássico, espetacular, incrivelmente bem integrado. Está já aberto, em um momento ótimo, no apogeu, onde deve se manter muitos anos. Nota 100+.
Nota: 100+ pontos
Château Mouton Rothschild 1959
Cor granada muito escuro, sem sinais de evolução na cor. Aroma compacto e fresco, com notas de frutas maduras, cassis, madeira nova, couro, especiarias. Paladar de grande estrutura, gordo e macio, com taninos ainda presentes, Eu diria que ainda não se desenvolveu totalmente, aos quase 60 anos ainda não chegou a seu apogeu, tem muitos anos de vida pela frente. O mais jovem da prova de 1959.
Nota: 100 pontos
Granada escuro, com reflexos alaranjados. Aroma complexo, rico e concentrado, com muita fruta madura, couro, especiarias, cedro,cogumelos, ervas, terra molhada. Paladar encorpado, taninos firmes, álcool a acidez altos, excelente equilíbrio, bastante expressivo, no auge, onde deve se manter, pois não há sinais de decadência. Um grande ano para o Palmer (em uma outra prova da qual participei, este bateu às cegas o Château Margaux 1959).
Nota: 98 pontos
Cor clara, com bastante evolução, granada-alaranjada, um pouco turvo. Aroma bastante etéreo, abriu-se devagar e mostrou grande complexidade, com notas de couro, baunilha, frutas secas, passas, tabaco, cedro, trufas. Em estilo diferente dos demais, menos encorpado e mais evoluído, mas não menos espetacular, com grande elegância e complexidade. Um grande vinho, maduro, perfeito, mas não deve evoluir mais.
Nota: 96 pontos
Château Léoville Las Cases 1959
Granada alaranjado. Aroma intenso, com notas de couro, especiarias, boa evolução, funghi, pimenta preta, cerejas, ameixa passa. Paladar firme, textura macia, cai um pouco no final. Excelente Bordeaux maduro em seu auge, perfeito, mas não deve evoluir mais.
Nota: 94 pontos
Granada alaranjado escuro. Aroma intenso, com notas minerais, de grafite, além de frutas negras maduras, madeira nova e muitas especiarias, ervas. Paladar estruturado, taninos firmes, acidez boa, seco e fresco. Ótimo vinho, perfeito e sem sinais de decadência, mas sem a complexidade e profundidade dos demais, “fechou a raia” da prova de 1959.
Nota: 93 pontos