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Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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Em clima de Papa

Por Marcelo Copello   Como o Papa Francisco vem aí, hoje vamos falar um pouco sobre o vinho na Bíblia   A Bíblia se refere ao vinho desde suas primeiras páginas e o cita cerca de 450 vezes no total. O Velho Testamento mostra a bebida sagrada como dádiva intelectual e espiritual, associando-a à sabedoria divina. Segundo a Bíblia, Noé […]

Por marcelo
Atualizado em 25 fev 2017, 19h02 - Publicado em 22 jul 2013, 14h52
 (Divulgação/Divulgação)
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Por Marcelo Copello

 

Como o Papa Francisco vem aí, hoje vamos falar um pouco sobre o vinho na Bíblia

 

A Bíblia se refere ao vinho desde suas primeiras páginas e o cita cerca de 450 vezes no total. O Velho Testamento mostra a bebida sagrada como dádiva intelectual e espiritual, associando-a à sabedoria divina. Segundo a Bíblia, Noé inventou o vinho. Ao chegar ao monte Ararat, a primeira coisa que fez foi plantar a videira, fazer vinho e embriagar-se em proporções bíblicas. O livro sagrado, porém, desculpa o porre de Noé, que conquistou este direito depois de ver tanta água. Metaforicamente, podemos ver o dilúvio como o triunfo da água purificadora. Noé foi o grande vingador dos enófilos, redimindo a terra e seus frutos, transmutando simbolicamente a água em vinho, a razão em emoção.

 

Segundo o livro dos Provérbios, “todo hebreu que não cultivasse a vinha era considerado preguiçoso”. O vinho era tido como um deleite para o coração dos mortais (Salmos) e do próprio Deus (Livro dos Juízes). Para o Talmude (livro básico da religião judaica), os israelitas não têm festa sacra sem vinho. A parra tornou-se o símbolo do povo judeu.

 

O Novo Testamento é igualmente abundante em referências à vinha e ao vinho. Foi com o vinho que Jesus fez seu primeiro milagre, nas bodas de Canaã, onde o vinho subitamente acabou. Mas, como em toda grande festa, desde aqueles tempos, o vinho não podia faltar. Jesus mandou então encher potes com água e a transformou-a em vinho. Sobre este episódio, Richard Crashaw, poeta religioso inglês, escreveu: “a água ao ver cristo ficou envergonhada e corou”.

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A videira, as uvas e a vindima constituíram imagens que permitiram ilustrar, de uma maneira mais próxima da realidade dos fiéis, os ritos sacramentais e os pontos fundamentais da doutrina cristã. Jesus Cristo é representado pelo cacho de uvas, cujo esmagamento constitui um sacrifício voluntário e cujo sumo é seu sangue. Jesus tinha elevado, deste modo, a nossa natureza, fraca como a água, até ele, tornando-nos participantes da natureza divina.

 

Para o neozelandês Rod Phillips, em seu livro “Uma Breve História do Vinho”, “havia muitas semelhanças entre as representações de Jesus e Baco. Ambos são filhos de um deus com uma mulher mortal. Na época de Jesus, Baco se tornou uma figura salvadora, com poderes de assegurar a vida após a morte. O milagre da transformação de água em vinho faz lembrar uma situação característica de Baco. Para os gregos, beber vinho era beber deus – uma crença que se manteve na eucaristia cristã”.

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Jesus, que descreve a si mesmo como “Vitis Vera” (videira verdadeira) e seus discípulos como ramos, em sua última ceia, ao passar o cálice a seus discípulos, escolheu o vinho como símbolo de seu sangue, tornando-o inerente aos ritos cristãos.

 

A teologia católica, por exemplo, exige explicitamente que no sacramento seja utilizado o vinho. Em 585 d.C., o Concílio de Auxerre proibiu o uso do vinho temperado com mel ou de qualquer outra bebida que não fosse vinho autêntico, como cerveja ou fermentados de outras frutas como a sidra, feita de maçã. Deveria ser usado o “vinum de vite” (vinho da vinha).

 

Através da História, a cultura da vinha se desenvolveu, em grande parte, em conjunto com a disseminação do Cristianismo, inicialmente com propósitos religiosos e mais tarde para satisfazer prazeres seculares. Não por acaso os maiores produtores de vinho de hoje são países de longa tradição cristã (Itália, França, Espanha etc).

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Em várias civilizações, o vinho também já foi uma bebida de atitude. O consumo do fermentado separou os pagãos dos devotos em muitas culturas. Para gregos e romanos, os bárbaros bebiam cerveja, enquanto pessoas civilizadas bebiam o néctar sagrado. Basta dar uma olhada nas peças publicitárias destas bebidas hoje, para concluir que esta associação, subliminarmente, persiste.

 

Na Idade Média, a Igreja Católica tornou-se importante financiadora da vinicultura. Os mosteiros eram importantes centros de produção, não apenas para consumo próprio, pois a Igreja descobriu que o vinho era também um ótimo negócio. Muitos religiosos (bispos e até papas) eram proprietários (pessoalmente e não como representantes da igreja) de vinícolas.

 

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Os monges da Abadia de Cîteaux, chamados de cistercienses, foram talvez os melhores enólogos da Idade Média. Fundada na Borgonha no século XI, esta ordem religiosa se expandiu pelo resto da França e por quase toda a Europa, disseminando tecnologia vinícola. Alguns de seus domínios viriam a conquistar reputada fama, como Beaune, Pommard, Vosne, Nuits, Corton, Clos de Vougeot. Várias ordens religiosas se associaram a grandes vinhos, como os monges de Bèze, que produziam o Chambertin, vinho favorito de Napoleão, e os beneditinos da Abadia de Hautvillers que, liderados por Dom Pérignon, produziram o Champagne.

 

O vinho também teve papel relevante nos conflitos que levaram ao Cisma, que culminou com a transferência da sede da Igreja de Roma para Avignon, no sul da França, de 1309 a 1378. Oito papas reinaram em Avignon e foram conhecidos como “papas do vinho”. O primeiro deles foi Clemente V, fundador em Bordeaux de um vinhedo que leva seu nome, o Château Pape Clement. João XXII, que o sucedeu, fundou o Châteauneuf-du-Pape, literalmente “castelo novo do papa”, sua residência de verão, cujos vinhedos se tornaram hoje a AOC (Appellation d’Origine Contrôlée) mais notória das Côtes du Rhône Meridionales. Em 1364, Urbano V, outro dos Papas do vinho, promulgou um edito proibindo que a Abadia de Cîteaux enviasse vinho à Roma sob pena de excomunhão. O poeta italiano Petrarca conta que, quando do fim do Cisma, os cardeais não queriam deixar a França, pois em Roma não havia o vinho de Beaune.

 

A Santa Inquisição também teve o vinho no topo de sua pauta. Perseguiu, de 1184 a 1820, por heresia, aqueles fizeram a apologia da abstinência de vinho.

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Marcelo Copello (mcopello@simplesmentevinho.com.br)

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