Por Marcelo Copello
Estava eu em Londres há uns três anos atrás, no meu Uber já a caminho do aeroporto, rumo àquele país cafajeste que insisto em amar, quando….
O trânsito estava meio parado e muitas pessoas se aglomeravam para ver a limousine Rolls Royce envidraçada que passou lentamente rente à minha van. De dentro do aquário de luxo uma velhinha com ares de século XIX acenava simpaticamente para todos os lados. Um dos acenos me acertou em cheio.
Retribuo eu agora com este artigo o aceno pessoal e privado que da Rainha Elisabeth II deu só pra mim naquele instante e em que nossos carros quase se bolinaram.
Minha homenagem não será à pessoa da rainha, mas à seus súditos. A distinta senhora gosta mesmo é de um coquetel à base de Dubonnet (uma espécie de vermute), com gin e limão. Já o povo britânico, que classifico como OS GRANDES BEBEDORES DA HISTÓRIA, sorve de tudo e em quantidades bíblicas. Apenas para citar alguns exemplos, foram os ingleses impulsionaram a produção de vinho na Austrália, na África do Sul, nos Estados Unidos e no Douro, na produção do Vinho do Porto. Hoje a Inglaterra é o grande centro da imprensa e dos grandes comerciantes de vinho no mundo. Falo de vinho, mas se falasse de cerveja, gin, sherry ou whisky, os britânicos também teriam lugar de destaque no enredo.
O personagem que melhor encarna o espírito etílico deste povo é o ex-primeiro ministro da Inglaterra, Winston Churchill (1874-1965). Ele já começava com vinho no café da manhã, quando normalmente tomava um vinho branco alemão bem leve. Entre as refeições bebia lentamente pequenos goles de whisky escocês, diluído em bastante água. Para almoço e jantar começava invariavelmente com Champagne, seguido de Bordeaux e finalizando com Vinho do Porto. Perto do fim de sua longa vida (91 anos), disse: “Tirei mais proveito do álcool do que o álcool tirou de mim”.
Vale citar que como bebedores os britânicos se destacam na qualidade e variedade do consumo, mas não volume final de álcool. Vejam o ranking de consumo mundial de álcool puro da neste post www.marcelocopello.com/post/quais-os-povos-mais-bebados-do-mundo
Prova de Bordeaux 1926 em Magnums
A mais agradável homenagem que pude pensar aos 90 anos da rainha foi publicar esta prova. Na realidade provei estes vinhos à uns 2 anos mas nunca havia publicado nada a respeito. Agradeço imensamente aos amigos que comigo compartilharam estas raridades. Simplesmente inesquecível!
Considerada a melhor década do século XX para os vinhos de Bordeaux, os anos 1920 nos proporcionaram ao menos quatro grandes anos: 1921, 1926, 1928 e 1929. O ano da rainha, 1926, foi quente, de verão muito quente, vinhos ricos, cheios de taninos e muito longevos.
A prova consistiu de quatro garrafas Magnum de 1926. Uma infelizmente estava morta (que o deus BACO a tenha), mas plenamente compensada pelas outras três, excepcionais e muito parelhas em qualidade.
Um dos maiores, senão o maior vinho desta safra. Granada-alaranjado, cor de tijolo, escura. Aroma perfeito e limpo, com nota balsâmica, eucalipto, ervas, muitas especiarias, frutas secas, nozes, tabaco, terra molhada, madeira ainda aparece depois de 90 anos! Paladar seco e estruturado por taninos firmes ainda presentes (!), mas longe de ser muito encorpado, elegante, equilibrado, rico e profundo. Não impressiona na largada, mas vai crescendo na taça ao longo da prova. Um vinho que beira a perfeição, impressiona bastante.
Nota: 99 pontos
Château Calon-Sègur 1926 Magnum
Este Château surpreendeu. Primeiro por superar o Château Margaux, teoricamente superior na hierarquia de Bordeaux de 1855 – o Margauux é Premier (1O ) Cru Classé e o Calon-Sègur um Troisième (3O ) Cru Classé. Depois surpreendeu por sua juventude. Mostrou-se o mais jovial desta pequena prova, aparentando ser facilmente 50 anos mais novo. Granada-alaranjado, entre claro e escuro, com aromas intensos e ricos, bem típicos de Bordeauc, com notas de grafite, ferrugem, terra molhada, especiarias, madeira. Paladar estruturado, com taninos presentes, quase rústicos, mostrando um conjunto coeso e equilibrado.
Nota: 97 pontos
Com sua elegância de sempre o Margaux mostrou-se o mais claro e evoluído da prova dos 1926. Maravilhosamente maduro, com notas terceárias nos aromas, como notas químicas de iodo, pelica, especiarias, cedro. Paladar leve, macio, delicioso, taninos resolvidos, acidez moderada, mantendo o equilíbrio e a dignidade do grande vinhos que é.
Nota: 95 pontos
Château Haut-Brion 1926 Magnum
Já um aceto balsâmico, negro e viscoso – RIP.