Sardenha – Vinhos com alma
Por Marcelo Copello Historicamente, a Sardenha passou pelo domínio de gregos, fenícios, cartaginenses, árabes, romanos, vândalos, godos e resistiu até aos turistas. Esta ilha é separada da Itália não apenas geograficamente, mas também cultural e ecologicamente. Seus vinhos, assim como seus habitantes, sempre foram discriminados em toda a península. Os vinhos tem fama de rústicos, pesadões e demasiadamente alcoólicos, frutos de uma região […]
Por Marcelo Copello
Historicamente, a Sardenha passou pelo domínio de gregos, fenícios, cartaginenses, árabes, romanos, vândalos, godos e resistiu até aos turistas. Esta ilha é separada da Itália não apenas geograficamente, mas também cultural e ecologicamente. Seus vinhos, assim como seus habitantes, sempre foram discriminados em toda a península. Os vinhos tem fama de rústicos, pesadões e demasiadamente alcoólicos, frutos de uma região de clima mediterrâneo excessivamente quente e de técnicas rudimentares de vinificação. Os sardos (assim como os sicilianos), no entanto, se orgulham de dizer que a alma dos famosos rótulos do norte vem de seus vinhos. O fato se refere à prática de muitos produtores de regiões mais nobres se utilizarem de vinhos do sul para dar mais cor, corpo e álcool aos seus, prática muitas vezes ilegal. Os produtores de vinhos da Sardenha há cerca de três décadas vêm se modernizando, buscando soluções inovadoras e investindo em tecnologia. Hoje, já podemos provar grandes caldos sardos, em vários estilos. As principais uvas da região refletem sua maior afinidade com França e Espanha do que com a própria Itália, e são as tintas Cannonau (chamada de Grenache na França e Garnacha na Espanha) e Carignano (Carignan ou Cariñena). BACO testou oito rótulos sardos, em estilos bem distintos, mas todos com muita personalidade e qualidade.
Barrua 2007, Agricola Punica, Sardenha-Itália (Ravin,www.ravin.com.br).
Elaborado com 85% Carignano, 10% Cabernet Sauvignon e 5% Merlot, fica 18 meses em barricas de carvalho francês, 1/3 novas. Rubi muito escuro violáceo. Aroma intenso e rico, com fruta muito pura e bem definida, muita cereja preta, cassis, figos, ameixas, notas florais, couro, azeitona, terra molhada, especiarias doces, perfil ao mesmo tempo quente e elegante. Paladar encorpado, mas sem exageros na extração, com Acidez moderada e equilibrada, 14,5% de álcool, taninos aveludados e ainda presentes. Decantar, pois tem depósitos. Pronto ou para mais cinco a dez anos de guarda.
Nota: 94
Tuderi 2006, Dettori, Sardenha-Itália (Decanter, www.decanter.com.br)
100% Cannonau, de vinhas de mais de 50 anos em pé franco, em solo calcário, com 24 a 36 meses em tanques de cimento, natural na viticultura e vinificação, sem SO2, clarificação ou filtração. Na cor é rubi clarinho, com aromas de fruta muito doce, passas, resinas, ervas, pimenta, tabaco, nota de acidez volátil. Paladar muito macio, com 15,5% de álcool, taninos finos, textura aveludada, boa acidez, longo e equilibrado. Muito caráter, uma experiência totalmente fora do padrão comercial. Como é alcoólico, servir um pouco mais resfriado, a cerca de 15ºC.
Nota: 91
Renosu Bianco di Romangia, Dettori, Sardenha-Itália (Decanter, www.decanter.com.br)
Cerca de 95% Vermentino e 5% Moscato, de vinhas de 40 anos de baixo rendimento, elaboração natural, com maceração pelicular, fermenta sem controle de temperatura com leveduras selvagens, sem SO2, sem clarificação ou filtração, fica 30 meses em tanques de cimento. Cor dourada. Aroma intenso e muito original, de damasco, laranja, passas, mel, flores brancas (acácia), ervas, nota mineral. Paladar estruturado e fresco, 14% de álcool, com toque de açúcar residual, longo. Muita personalidade, diferente e delicioso. Decantar ao servir.
Nota: 92
Rocca Rubia Riserva 2009, Santadi, Sardenha-Itália (Mistral, www.mistral.com.br)
100% Carignanno com 12 meses em barricas francesas. Vermelho rubi escuro violáceo. Aroma intenso e frutado, com notas de ameixas e amoras, baunilha, couro novo, ervas, pimenta, notas florais. Paladar de bom corpo, com 14% de álcool, com taninos doces, sedoso, macio e longo. Bom custo benefício.
Nota: 90
Costera 2009, Argiolas, Sardenha-Itália (Vinci, www.vinci.com.br)
Elaborado com 90% Cannonau, 5% Carignano, 5% Bovale Sardo, com oito a dez meses em barricas. Rubi escuro violáceo. Aroma intenso, rico e quente, com frutas maduras, menta, alcaçuz, amoras, café. Paladar de médio corpo, textura macia e envolvente, com taninos doces e boa acidez, 14% de álcool. Delicioso e fácil de agradar, ótima compra.
Nota: 90
Montessu 2008, Agrícola Punica, Sardenha-Itália (Ravin, www.ravin.com.br)
60% Carignano, 10% Syrah, 10% Cabernet Franc, 10% Cabernet Sauvignon e 10% Merlot, com 15 meses em barricas de carvalho francês. Vermelhorubi escuro com reflexos violáceos. Aroma de bom ataque, frutado, com notas de ameixa preta, tabaco, pimenta preta, chocolate, baunilha e alcaçuz. Paladar de médio-bom corpo, com 14% de álcool, taninos finos e doces, longo e macio.
Nota: 89
Dule Riserva 2008, Gabbas, Sardenha-Itália (Decanter, www.decanter.com.br)
100% Cannonau, 12 meses em barricas de carvalho francês. Vinhas com 40 anos de idade, baixos rendimentos e cultivo sustentável, com controle de pragas através de compostos naturais. Rubi entre claro e escuro. Aroma rico, com notas de terra molhada, ferrugem, passas, especiarias doces, couro. Paladar de bom corpo, quente, com 14,5% de álcool, macio, boa acidez, longo. Muita personalidade, originalidade e com toque rústico que lhe dá distinção.
Nota: 89
Lillové 2010, Gabbas, Sardenha-Itália (Decanter, www.decanter.com.br)
90% Cannonau, 10% outras variedades, em solo de granito, sem madeira, elaboração totalmente natural. Cor vermelho-rubi violáceo, entre claro e escuro. Aroma frutado, fresco, com notas de framboesa, passas, ervas, fundo mineral elegante. Paladar de médio corpo, fresco, taninos presentes, 14,5% de álcool. Deliciosa expressão da Cannonau, com muita pureza e personalidade
Nota: 88
Marcelo Copello (mcopello@simplesmentevinho.com.br)