Vinho e Futebol
Por Marcelo Copello O texto abaixo é de meu novo livro, “Vinho & Muito Mais” (Editora Best Seller). “Futebol não é uma questão de vida ou morte – é muito mais importante do que isso!” Bill Shankly “Futebol é um esporte de contato, assim como compras de natal” Jimmy Breslin Pra quem acha que […]
Por Marcelo Copello
O texto abaixo é de meu novo livro, “Vinho & Muito Mais” (Editora Best Seller).
“Futebol não é uma questão de vida ou morte – é muito mais importante do que isso!” Bill Shankly
“Futebol é um esporte de contato, assim como compras de natal” Jimmy Breslin
Pra quem acha que “casta francesa” é apenas uma “gaulesa recatada”, aí vai um pouco de cultura!
Já cantei e decantei a riqueza e complexidade do vinho tantas vezes quantos de seus goles tomei. Esta bebida, que para os antigos tinha propriedades mágicas, até hoje fascina legiões de seguidores, que projetam no líquido a sua imagem, fazendo valer a máxima do romano Plínio, in vino veritas.
Para alguns vinho é uma religião. As adegas são santuários onde pronunciam os nomes dos châteaux e safras baixo e com a sacralidade de uma prece. Decorar os nomes dos 1er Cru Classé equivale a saber os 10 mandamentos, e maldizer um grande vinho incita reações dignas da inquisição espanhola. “Detestei aquele tal de Pétrus 1982, estava rascante” – fogueira nele! Mas antes tortura: um mês amarrado tomando sangue de boi com um funil! “!
E a doutrina báquica seria passada para as proles. Dá até pra imaginar as pessoas batizando seus filhos com nomes de uvas. Os trigêmeos franceses seriam Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e a menina Merlot. O tio Gewürz e tia Traminer, teriam a priminha Chablis e o primo – Petit Syrah, que desde pequeno já fez sua opção sexual seria apelidado pelos amiguinhos de Petit “Será”.
Em Portugal poderíamos ter a tia Periquita e o tio Aragonês, que chamaria os filhos de Tinto Cão e Alfroucheiro, e a menininha Jaen, criada pela babá Tinta Caiada. O “paneleiro” poderia se chamar Fernão Pires de dia e Maria Gomes** à noite.
O vinho também pode ser erótico, proporcionando prazeres quase sexuais. Para muitos degustadores narinas e palatos são tão sensíveis quanto zonas erógenas e os suspiros proporcionados pelo nobre fermentado soam em alto volume. Outros passeiam pelas lojas de vinho como se circulassem em um sex-shop, fantasiando prazeres proibidos. Para estes as revistas especializadas em vinho deveriam trazer um pôster central mostrando uma bela garrafa em foto grande, com rótulo e, hummm, contra rótulo! Cada foto de garrafa é lida como uma ilustração do Kama Sutra. Afinal tanto o manual indiano, escrito no século IV pelo sábio e nobre Vatsyayana, quanto este livro são manuais de prazer…
Para muitos degustar soa como um esporte. O time de futebol poderia ser escalado com o gigante Chardonnay no gol, untuoso, ocupando todo os espaços. Atrás uma defesa sólida com líbero Malbec e os zagueirões Tannat e Carménère, no passa nada! Um meio de campo bem entrosado com Cabernet Franc, Merlot, o camisa 10 Cabernet Sauvignon, que chuta com as duas, e mais atrás na marcação Petit Verdot. No ataque o “rompedor” Shiraz, e os alas bem ligeiros Moscato e Alvarinho. No banco as armas secretas do treinador, o ponta Sauvignon Blanc, entraria sempre fresquinho no segundo tempo para cruzar para as cabeçadas explosivas de Champagne, ninguém sobe como ele! Este plantel deixa qualquer adversário tonto!
**Em Portugal a mesma casta é chamada de Fernão Pires no sul do país e de Maria Gomes no norte. Seria uma casta travesti?
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