A onda dos izakayas chega ao Rio
Chefs e empresários estão apostando nos típicos botecos japoneses, onde o foco é beber e petiscar
Era um fim de domingo quando um grupo de oito amigos japoneses conversava animadamente na sua língua materna. Uns bebiam cerveja, outros iam de saquê, enquanto a turma beliscava cubos de tofu frito com caldo de peixe (agedashi-dofu, para os íntimos) como se fossem uma porção de batata frita. Bem longe do Japão, o encontro se deu no Leblon, mais especificamente na Rua Humberto de Campos, na noite do último dia 19, no recém-inaugurado Pabu Izakaya. Aberto em fevereiro, o local já virou destino dos integrantes da pequena comunidade nipônica no Rio, que assiste à abertura em série de representantes dos tradicionais izakayas, uma das principais tendências gastronômicas para 2017. Eles são o equivalente ao boteco carioca, sem muita frescura no ambiente, com comidinhas mais caseiras e a preços acessíveis. Tanto que a jornalista Aya Yanagida escolheu o espaço para fazer sua despedida da cidade depois de passar uma temporada morando aqui. “Um izakaya que apareceu no Leblon e me fez esquecer que eu estava no Rio”, postou em sua conta no Instagram após um brinde no balcão.
No caso do pequenino Pabu, que acomoda apenas 23 comensais em um balcão, uma boa carta de saquês (servidos em copo americano), cervejas e sochu — típico destilado de batata — são companhia para pratos pouco difundidos por aqui. “Não quisemos ser radicais, mas tentamos preservar o conceito original ao máximo”, conta Cristiano Lana, que divide o empreendimento com quatro sócios, entre eles Eduardo Preciado, que já tinha posto um pé nesse ramo ao transformar o antigo Minimok de Ipanema em Sushi Izakaya Mok. “No Japão, não há sushi nem temaki nos izakayas. Ampliamos o leque, mas focamos os preparos típicos”, acrescenta Lana. Isso inclui a moela refogada na cerveja com shoyu, e o tonkatsu, um bife de carne de porco empanado. “Temos até sushi, mas nada de combinados”, adianta. Outro profissional a investir no filão foi o chef japonês Shin Koike. Radicado em São Paulo, onde comanda o prestigiado Sakagura A1, o mestre-cuca instalou no Vogue Square, ao lado do restaurante que leva seu nome, um estabelecimento mais despojado, o Roman Izakaya. O local tem iluminação baixa, trilha sonora alta e sugestões caseiras. “O brasileiro ainda associa comida japonesa a peixe cru, mas a cozinha do dia a dia é quente”, ensina Koike, que serve língua bovina, barriga de porco e rámen (ou lámen), ensopado de macarrão, vegetais e porco.
Historicamente, izakaya, que, em tradução literal, significa “lugar onde encontrar saquê”, era uma loja da bebida que oferecia provas de seus rótulos para que o cliente escolhesse o que levar. Para acompanhar a degustação, os donos começaram a servir petiscos simples. Conversa vai, conversa vem, as lojas transformaram-se em redutos para beber, beliscar e papear. No início, o cardápio era formado basicamente por conservas, frituras, grelhados, tudo para ser consumido junto com a bebida. Hoje, incorporaram traços de outros tipos de estabelecimento e, mesmo no Japão, já há exceções. Jovens chefs de cozinha, por exemplo, começaram a investir no modelo, mais barato que um restaurante, para mostrar seu trabalho autoral, e existem até grandes redes nesse formato. Por aqui, o mercado ainda engatinha, mas a tendência tem tudo a ver com a cidade. “Esse clima de informalidade combina com o Rio. Não sei como os empresários cariocas ainda não tinham apostado nisso”, surpreende-se Jo Takahashi, autor do livro Izakaya: por Dentro dos Botecos Japoneses. Agora, ao que tudo indica, essa é a bola da vez. Além do Pabu, do Mok e do Roman, o Minato Izakaya, um dos mais concorridos endereços da categoria em São Paulo, terá uma filial na cidade até o fim de abril.