As latinhas de hard seltzer vão emplacar como a bebida do próximo verão?
Nos Estados Unidos, a bebida gasosa alcoólica e saborizada já disputa mercado com a cerveja. Por aqui, começa agora a conquistar prateleiras e paladares
Sabe quando a água gasosa vem à mesa e o garçom pergunta se você quer um limãozinho espremido junto? É por aí, mas neste caso valem todas as frutas: abacaxi, maracujá, morango, pêssego, tangerina. Acrescente ainda uma pequena dose de gim, vodca ou outro destilado e está feita aquela que promete ser a bebida do próximo verão: a hard seltzer. Após o longo inverno pandêmico, as latinhas do produto, já pronto para beber, começaram a pipocar nas prateleiras dos mercados em novas marcas e ganharam espaço na carta de bares e restaurantes.
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Além de levinha, ela possui, em média, 40% menos calorias quando comparada, por exemplo, às cervejas do estilo american lager, as mais consumidas no Brasil. “Gostei de primeira, acho uma delícia. Vai ser a minha bebida do Carnaval”, diz a gerente de vendas Dandara Rivera, de 32 anos, fã da novidade junto com a amiga, a médica Renata do Val, 32. Elas foram iniciadas nas novas bolhas pela Hintz, que já está no cardápio de bares como o Brewteco. Trata-se de uma criação da cervejaria Three Monkeys, a primeira artesanal do Rio a apostar na tendência, que também atraiu a atenção de gigantes como a Coca-Cola e a Diageo.
Para chegar à fórmula made in Rio, Bernardo Costa e Silva, 36 anos, encomendou em 2020 amostras ao pai, que estava nos Estados Unidos. Aprovou a White Claw, a campeã de vendas no mundo, no sabor manga, mas decidiu investir nos exemplares mesclados em quatro variedades. Uma delas reúne aromas naturais de melancia, limão e gengibre; outra combina abacaxi, coco e maracujá numa linha bem tropical, comum nos drinques daqui, como a caipivodca.
“Pensamos no paladar dos cariocas, que apreciam essa mistura de frutas”, explica o empresário, que prevê lançar outros mixes da bebida de baixo teor alcoólico, mais uma das características da hard seltzer — as latinhas oscilam entre 4,5% e 5%, o mesmo das cervejas leves, porém, diferentemente delas, não contêm glúten. As embalagens, de cerca de 300 mililitros, ainda registram baixíssimo índice de carboidratos, cerca de 2 gramas, chamando a atenção da turma adepta das dietas low carb. Os sabores, por sua vez, são compostos de essências geralmente naturais, sem o dulçor típico de sucos ou refrigerantes.
Os ingredientes que vão ao copo parecem ornar bem com estas praias. “É a bebida da areia, do ar livre e de quem se alimenta bem. Tem tudo para prosperar por aqui”, acredita Virginia Vilela, 33 anos, à frente da paulistana Joví, presente em grandes redes de mercado como o Pão de Açúcar. Disponível em quatro sabores — abacaxi, limão, morango e tangerina —, a marca, nascida em 2017, quatro anos após o lançamento do produto nos Estados Unidos, viu as vendas duplicarem no último ano.
De acordo com pesquisas de marketing da Coca-Cola, que escolheu em outubro do ano passado o Brasil para testar sua hard seltzer Topo Chico, primeira investida alcoólica de alcance global da companhia, o alvo é o consumidor entre 21 e 35 anos. Trata-se da geração millennial, que valoriza conveniência e praticidade e, portanto, aprova os drinques prontos para o consumo. “Temos observado uma subida nas vendas nesse segmento e vemos aí um público em potencial para as hard seltzers, como já acontece lá fora”, afirma o diretor de marketing Pedro Abbondanza.
No Hemisfério Norte, o cenário é animador para as latinhas de água com gás alcoólica e saborizada. Em poucos meses de 2020, sobretudo naqueles de temperaturas mais elevadas, as três principais marcas de hard seltzer alcançaram venda superior à dos seis principais rótulos de cerveja nos Estados Unidos. O milionário intervalo comercial do Super Bowl 2020, a final do futebol americano, deu visibilidade planetária à bebida quando o rapper Post Malone, celebridade das redes sociais com mais de 22 milhões de seguidores só no Instagram, apareceu no filmete entrando em uma loja de conveniência para comprar cerveja e saindo de lá com um engradado de Bud Seltzer, a versão da maior marca cervejeira no país.
No início de 2018, segundo dados da Nielsen, dez rótulos de hard seltzer frequentavam as prateleiras nos Estados Unidos, número que ascendeu aos setenta atuais, girando um mercado de 4 bilhões de dólares anuais. Deve atingir os 30 bilhões até 2025, de acordo com o banco de investimentos Goldman Sachs. As estatísticas mostram ainda que 55% dos consumidores americanos de álcool levaram uma hard seltzer à boca pelo menos uma vez por semana no ano que passou.
No Brasil, há sinais que também permitem olhar com otimismo para a expansão desse mercado. “Vejo as pessoas cada vez mais abertas a experimentar, especialmente os jovens, que estão buscando bebidas com menos calorias e álcool”, afirma Laura Esteves, gerente da Isla, lançada pela Ambev no Brasil à base de gim em latinhas de 269 mililitros, tudo com 99 calorias e 4% de teor alcoólico. É natural que pesos-pesados como AB InBev, Boston Beer Company (da famosa Samuel Adams) e Heineken tenham ingressado nesse mercado — e que as estreantes nacionais pisem no acelerador.
Ao time que já conta com Hintz e Joví, juntou-se recentemente a Kariwoka, das sócias Vivian Appel e Marcella do Valle. Após três anos de testes e degustações, as recém-lançadas versões nos sabores limão e frutas vermelhas começaram a aparecer nos pontos de venda da cidade de um mês para cá. “É a bebida que traduz com perfeição o estilo de vida dos cariocas — prática, leve, dá para consumir mais de uma sem aquela sensação de estufamento”, observa Vivian. Um brinde ao verão.