Em uma viagem pela Califórnia em 2009, o empresário Pedro Aliperti percebeu uma tendência nos bares que visitou: muitos frequentadores levavam seu recipiente para abastecê-lo de cerveja direto da fonte. Não pensou duas vezes e logo arrematou o seu, que voltava sempre cheio para o albergue onde estava hospedado. Quando decidiu abrir seu bar no Rio, ele tratou de importar a novidade. O Caverna, badalado point boêmio em Botafogo, foi um dos primeiros a apostar na cultura dos growlers, como são chamados os recipientes reutilizáveis para transportar cerveja, que podem conservar a bebida fresca por dias. No ano passado, Aliperti começou a produção das garrafas de cerâmica, com desenho exclusivo e capacidade para 2 litros. As primeiras 100 unidades foram vendidas em seis meses. Por um erro da fábrica, a segunda encomenda veio na quantidade dobrada, e as 200 peças evaporaram em três meses. Um de seus primeiros clientes foi o publicitário Virgilio Dias, de 36 anos. Vizinho do bar, ele costuma levar seu growler cheio para beber em churrascos, festas e até mesmo em casa. “A garrafa conserva o sabor. É prático e bem melhor que comprar cerveja no supermercado”, avalia.
Surgidos nos Estados Unidos no fim do século XIX, quando era comum as crianças irem, munidas de baldes de metal, buscar nos bares das redondezas a cerveja para acompanhar o jantar, eles caíram em desuso quando a bebida engarrafada começou a se popularizar. De uns tempos para cá, voltaram com força, devidamente modernizados. Aos poucos, a moda começa a pegar por aqui. Com o mercado de cerveja artesanal em plena efervescência e a proliferação de torneiras de chope pela cidade, os cariocas estão descobrindo os benefícios dos galões retornáveis. A chegada de novas casas especializadas e a oferta de modelos diferentes e charmosos contribui para sua difusão. Inaugurado há pouco mais de um mês em Copacabana, o BeerLab, com nove torneiras de rótulos nacionais, lançou nas redes sociais a campanha #vadegrowler. “Tínhamos um growler que trouxemos de viagem e era usado como peça decorativa. Um dia fomos jantar na casa de amigos e queríamos levar chope artesanal, mas nenhum lugar enchia o vasilhame. Percebemos que havia um potencial”, conta a sócia Tatiana de Macedo Soares. Feito de vidro âmbar, o growler do estabelecimento, de 1 litro, sai por 36 reais, vazio, ou por 17 reais mais o litro da bebida, que pode custar de 29 a 64 reais. Por mês, são vendidas por volta de sessenta unidades, e cerca de 30% dos clientes do estabelecimento já adotaram a novidade.
Além do frescor e do caráter sustentável, sem embalagens descartáveis, outra vantagem é a economia. A maioria das casas oferece promoções para o chope vendido em refil. No Brewteco, com uma unidade em Copacabana e outra na Barra, por exemplo, o desconto é de 10% em qualquer marca para viagem, e no fim do mês será lançado o growler day, às terças, quando certos rótulos sairão pela metade do valor. “No início, a questão era explicar às pessoas do que se trata. Hoje, há um movimento crescente e há gente que abastece até para levar à praia”, diz o sócio Rafael Thomaz. Outras duas cervejarias recém-chegadas começam a comercializar nas próximas semanas seus exemplares, ambos de 2 litros. A Hop Lab, com trinta bicos na Praça da Bandeira, também terá preços especiais para refil. Já a Hocus Pocus DNA, lar da inventiva cervejaria carioca em Botafogo, aposta em um sistema de abastecimento mais moderno. De uma das catorze torneiras locais sai apenas gás carbônico, que substitui o oxigênio presente dentro do garrafão já cheio através de um sistema de pressão. Isolado do ar, o líquido pode durar de quatro a cinco meses fechado na geladeira, sem nenhum dano ao aroma e ao sabor, garante o sócio Pedro Butelli. “Mas o ideal é que se tome quanto antes e, depois de aberto, de uma vez só, para garantir o frescor”, recomenda. Ao que parece, haverá cada vez mais gente enchendo a lata (e o growler).