Com o boom das cervejas artesanais nos últimos anos, as versões india pale ale (ou IPA, para os íntimos) caíram na preferência dos cariocas. Recentemente, o reinado das amarguinhas vem sendo ameaçado por outro estilo em ascensão: as sour. Ao primeiro gole, o sabor azedinho pode causar estranheza, mas as cervejas ácidas têm conquistado público no mundo inteiro. Tanto é que, em setembro, a revista americana Time publicou uma reportagem sobre a tendência. No último Mondial de la Bière do Rio, o gênero foi a grande vedete, com 38 lançamentos das principais marcas participantes, contra nove em 2016. Sócio da Overhop, que apresentou cinco rótulos no evento, Rodrigo Baruffaldi espantou-se com o sucesso de vendas. “Não esperávamos tanta procura. Eles saíram como IPAs”, diz. Com a boa recepção, a Mango Jelly e a Guava Jelly, feitas com manga e goiaba, respectivamente, entram em linha em dezembro, e marcas como Three Monkeys, 3 Cariocas, Suburbana e 2cabeças também contam com novidades. “É uma cerveja refrescante, de baixo teor alcoólico, perfeita para o nosso clima, para tomar na praia”, aposta o sommelier de cervejas Gil Lebre.
Embora o gosto seja um tanto inusitado para quem está acostumado às cervejas tradicionais, as sour são produzidas desde o início dos tempos, quando a bebida ainda não era pasteurizada, e muito difundidas na Bélgica. A acidez pode ser provocada por fermentação dupla e pela adição de bactérias, que transformam o açúcar em ácido láctico, em variações como as berliner weisse (de trigo), as salgadinhas gose (com sal marinho e coentro) e as adocicadas fruit beers. Pioneiro na produção local, Afonso Dolabella, da RockBird, penou para lançar a Umbu Weisse, a primeira sour carioca, feita com a fruta do Nordeste, em 2016. “Foi difícil convencer uma fábrica a fazer uma cerveja com lactobacilo, ingrediente contaminante que poderia comprometer toda a instalação. Muitas se recusaram”, lembra. A mineira Antuérpia abraçou o projeto, que virou uma linha de produtos, com uma versão de taperebá e, em breve, outra de camu-camu. A aceitação foi tal que a produção das Umbu e Taperebá Weisse passou de 2 000 para 10 000 litros em um ano. As azedas vieram para ficar.