A cada inverno volta o ritual, desta vez com mais nuances e sabores: basta diminuir a temperatura e o carioca que anda pelas ruas se vê puxado por um impulso irrefreável ? tomar um caldo quente, ou uma sopa, na barraquinha ali da esquina. Com o recorrente caos no trânsito, todo mundo perdendo tempo à espera do ônibus ou do táxi, mais gente acaba caindo na tentação. E há de tudo um pouco: do feijão mexicano à sopa de siri, da canja de galinha ao creme de grão-de-bico com bacalhau, esse último um dos destaques da barraca de Sandro e Kleiton Lopes, em Botafogo, conhecida como Sopa Dois Irmãos. Dia desses, o chef Rafael Costa e Silva, do Lasai, badalado restaurante da Rua Conde de Irajá, deu uma conferida nas opções do menu do quiosque, que é próximo. Provou vários, e virou fã do caldo de mocotó. Ele lembra que em Nova York, por exemplo, as sopas de rua “nunca saem de moda”, e admite: “Apesar de não ser um prato para todo dia, adoro esse tipo de comida”.
Numa noite fresca, uma barraca dessas pode chegar a vender 400 potinhos. Há quem faça entrega em domicílio e alguns, como Antônio Ésio, do Largo do Machado, incrementa sua carroça com neon. Muitos não têm nem hora para fechar ? caso do Caldinhos da Lapa, que por causa do burburinho da região costuma servir sem intervalo até as 5 da madrugada, sempre com fila.
Falta, porém, um detalhe para a atividade pegar de vez: regulação (até para que se possa fiscalizar, por exemplo, a higiene). Uma lei de 1992 trata de ambulantes de comestíveis na cidade, mas só abrange negócios ligados à venda de angu. Ou seja, no duro, ninguém poderia oferecer nem caldos nem sopas. Mas, como esses são alimentos assemelhados ao angu, a Secretaria de Ordem Pública não tem proibido que os sopeiros também trabalhem. E, diante desse boom de barracas de sopas, no próprio órgão é palavra corrente que a legislação envelheceu, e não corresponde mais à realidade do Rio. Isso ainda vai dar muito caldo.