Personalidades que marcaram a história no cinema, na música, na literatura, na realeza, heróis de guerras, políticos e até mesmo anônimos ficaram famosos à mesa, emprestando seus nomes a pratos que, mais do que aguçar o apetite, instigam a curiosidade. Quem são, por exemplo, os misteriosos Leão Velloso da sopa, o Gomes de Sá do bacalhau e as irmãs Tatin da saborosa torta que leva o nome delas? Descubra essas e outras histórias por trás dos pratos encontrados nos cardápios da cidade.
1 – Filé à oswaldo aranha
Tradicional do Rio de Janeiro, a receita é uma homenagem ao político gaúcho Oswaldo Euclides de Souza Aranha (1894-1960). Senador da República, um dos articuladores da Revolução de 1930, ministro da Fazenda e da Justiça durante o Governo Provisório de Getúlio Vargas, embaixador em Washington entre 1933 e 1937 e Ministro das Relações Exteriores em 1938. De acordo com Fabiano Dalla Bona, autor do livro Fama à mesa, Aranha costumava, nos seus anos de Senado Federal, almoçar no restaurante Cosmopolita, na Lapa. À época conhecido como Senadinho, ele era o ponto de encontro dos políticos, deputados e senadores. Ali, Aranha pedia quase que diariamente um bom filé, sempre mal passado, coberto com alho frito e acompanhado de arroz, farofa e batatas. Fazia também o mesmo pedido em outro local famoso e tradicional do Rio: o Café Lamas, no Flamengo.
Onde comer: Restaurante Cosmopolita e Café Lamas
2 – Bacalhau à gomes de sá
Esta tradicional receita portuguesa é de autoria de José Luís Gomes de Sá (1815-1926), nascido na cidade do Porto, filho de um comerciante de bacalhau. Após a falência do pai, foi obrigado a trabalhar como cozinheiro do restaurante Lisbonense, onde criou a receita. Trata-se de um prato típico da região norte de Portugal que ele decidiu inovar deixando as lascas do bacalhau marinando em leite aquecido para ficarem macias. O resultado foi um dos bacalhaus mais famosos dos cardápios no Rio.
Onde comer: Adegão Português
3 – Estrogonofe de carneVerdadeiro must da cozinha russa, este prato deve a sua invenção ao Dr. Strogonoff, médico a serviço da czarina Maria da Rússia (1854-1920). Segundo Fabiano Dalla Bona, ele exercia a sua profissão entre os caçadores de baleia e conta-se que, durante uma das viagens, houve uma grande intoxicação provocada pelos arenques polares, vitimando todo o séquito imperial de São Petersburgo. Foi então que o médico resolveu ministrar a toda a tripulação uma rígida dieta à base de arroz e carne bovina fermentada com nata e suco de cebolas. A carne caiu no gosto da corte moscovita e logo foi parar no cardápio do Cafè Puskin, às margens do Neva. Com a revolução de 1917 na Rússia, que terminou com a era dos czares, muitos russos migraram para a Europa, onde o strogonoff ganhou os detalhes finais resultando no sabor que hoje conhecemos.
Onde comer: A Polonesa e Giuseppe Grill
4 – Turnedô à rossini
O compositor erudito italiano Gioacchino Rossini (1792-1868) era também conhecido por ser um excelente gourmet. Amava se sentar à mesa, beber bons vinhos e preparar diversas receitas. Uma das especialidades do mestre era o turnedô à rossini. Conta-se que o nome deste prato seja pelo fato de que o mordomo do compositor era obrigado a touner le dos aos convidados, isto é, virar as costas para que eles não descobrissem o segredo da elaboração final do prato, receita inventada pelo renomado chef Antonin Carême em homenagem ao amigo.
Onde comer: Gero
5 – Sopa leão velloso
O cenário é o Rio antigo, mais especificamente a Rua do Ouvidor, 10. Fundado em 1884 e funcionando no mesmo local sob o mesmo nome desde então, o restaurante Rio Minho é um dos mais antigos da cidade. A casa, tombada pelo patrimônio histórico, é o berço de um dos mais tradicionais pratos da culinária carioca: a sopa leão velloso. O estabelecimento era frequentado por personalidades como o embaixador Pedro Leão Velloso Neto (1887-1947), criador da sopa criada a partir de uma adaptação do clássico da culinária francesa chamado bouillabaisse, tradicional na cidade de Marselha. Na versão abrasileirada, o açafrão foi eliminado e a sopa ganhou, ainda, o sabor dos pescados locais. “Leão Velloso lançou a sopa aqui com urucum, mas hoje ela é feita com pimentão doce”, conta o chef Ramon Isaac Tielas Domingues, há 30 anos à frente da cozinha do restaurante.
6 – Peixada à antonio houaiss e peixada à barãoOutras personalidades que frequentavam o Rio Minho e que também cederam seus nomes a receitas da casa foram José Maria da Silva Paranhos Junior (1845-1912), o Barão do Rio Branco, e o professor, diplomata, lexicógrafo e imortal da Academia Brasileira de Letras Antonio Houaiss (1915-1999). A peixada ao barão foi em homenagem ao Barão do Rio Branco, patrono do restaurante. “Ele vinha almoçar todos os dias aqui e ficava horas lendo jornal”, lembra Domingues. Já a peixada à antonio houaiss é uma homenagem ao imortal. “Perguntei se eu poderia batizar um prato com o nome dele e ele deixou”, orgulha-se o chef.
Onde comer: Rio Minho
7 – Tarte tatin
Esta receita foi fruto de um feliz engano. Na França ela é chamada de tarte des demoiselles tatin, ou seja, era uma torta de duas senhoritas que tomavam conta do restaurante do Hotel Tatin, de gestão familiar, na região francesa de La Sologne. Após a morte do patriarca, Jean, o estabelecimento passou a ser comandado por suas duas filhas. Caroline, a irmã caçula, se ocupava de receber a clientela e tornar o ambiente caloroso. A mais velha, Stéphanie, cuidava da cozinha. Formada pela escola de gastronomia Cordon Bleu, tinha como especialidade uma torta de maçãs caramelizada. Um dia, não se sabe ao certo o porquê, ela se esqueceu de colocar a massa no fundo da forma. Quando percebeu que não havia tempo para fazer outra torta, pôs a massa por cima das maçãs e do açúcar caramelizado, deixou cozinhar, virou ao contrário e serviu ainda quente aos convidados, que ficaram extasiados com a novidade.
Onde comer: Le Vin
8 – Frango atropelado de Tom Jobim
De acordo com Venceslao Valcich Jr., gerente do restaurante Plataforma, foi o próprio Tom Jobim que batizou o galeto nos anos 80. Frequentador assíduo da casa, ele gostava de comer frango, mais especificamente a versão desossada, feita na brasa sem muita gordura. “Ele dizia que o frango parecia atropelado, aí o nome pegou. Hoje, pedem muito com creme de milho, mas o Tom comia com arroz mesmo”, conta Valcich.
Onde comer: Plataforma
9 – Waffle santos dumont
Aberta em 1824, a Confeitaria Colombo é um patrimônio cultural e artístico da cidade que se tornou, com seus luxuosos salões, o reduto de artistas, intelectuais e políticos no século XIX. Personalidades como Olavo Bilac, Rui Barbosa, Chiquinha Gonzaga, Villa Lobos, Virginia Lane, Getúlio Vargas e Santos Dumont eram frequentadores da casa. O pai da aviação batizou inclusive o waffle que ele sempre pedia, com goiabada mole, sorvete de baunilha e chantilly.
Onde comer: Confeitaria Colombo, Centro.
10 – Omelete lebrão
Manoel José Lebrão foi o mentor, criador, fundador e dono da Confeitaria Colombo durante 25 anos, responsável por criar a omelete que leva tomate, queijo-de-minas e orégano. Quando saiu do estabelecimento, deixou-o aos funcionários. Lebrão foi também um dos maiores financiadores da Santa Casa de Misericórdia e do Real Gabinete de Leitura.
Onde comer: Confeitaria Colombo, Centro.
11 – Bolo rivadavia
O bolo é uma homenagem ao primeiro presidente argentino Bernardino de la Trinidad Gónzalez Rivadavia y Rivadavia (1780-1845), que governou de 8 de fevereiro de 1826 a 7 de julho de 1827. O doce é formado por discos de pão-de-ló recheados com doce de leite e cobertos de fondant. Desde 1930, integra o cardápio da Confeitaria Colombo, no centro do Rio. Rivadavia foi ativo tanto na resistência argentina à invasão britânica de 1806 quanto no movimento de independência do país em 1810. Em junho de 1821, foi nomeado ministro de governo da província de Buenos Aires, onde focou em melhorias urbanas construindo largas avenidas, escolas, calçamento e iluminação pública. Em 1826, foi eleito o primeiro presidente da Argentina, tendo criado diversos museus e expandido a biblioteca nacional.
Onde comer: Confeitaria Colombo.
12 – Hambúrguer joe di maggio
O sanduíche do Joe & Leo?s é uma homenagem a um dos jogadores de beisebol mais famosos do mundo. Ele foi casado com Marilyn Monroe e, ao se aposentar em 1951, foi considerado um dos melhores de todos os tempos do yankees. O hambúrguer em homenagem ao esportista leva 200 gramas de um mix de picanha, calabresa e parmesão temperado com especiarias, coberto com mussarela de búfala, folhas de agrião e radicchio no pão com gergelim. É servido com batatas fritas ou cebolas empanadas.
Onde: Joe & Leo?s
13 – Mr. batista?s prawns
O mais contemporâneo de todos os pratos listados aqui foi criado em homenagem ao dono do restaurante, o bilionário Eike Batista, que adora camarões. Os crustáceos são servidos no Mr. Lam acompanhados de molho agridoce transparente com nove especiarias, levemente picante. O chef chinês Sik Shung Lam, já aposentado, conquistou muitos outros admiradores de peso pelo estômago, como Yoko Ono e John Lennon, em seus 40 anos de carreira. Mas foi Batista quem ficou tão encantado com o satay de frango (espetinho de frango frito com molhos especiais) preparado pelo chef chinês em Nova York que resolveu abrir uma filial no Rio.
Onde comer: Mr. Lam