Criado no Canadá, o festival Mondial de La Bière se estabeleceu como uma espécie de disputa de primeiríssima linha entre cervejeiros dos principais países produtores. Trata-se de uma grande vitrine com o que existe de mais refinado em matéria da bebida à base de lúpulo, cevada, trigo e outros cereais, e as melhores participantes são premiadas ao fim do evento. A partir de quinta (14), os cariocas terão a oportunidade de conhecer o que é essa espécie de Copa do Mundo da Cerveja, em que serão exibidas mais de 400 marcas de doze nações, incluindo o Brasil. A expectativa é que 20?000 pessoas visitem os mais de sessenta estandes de produtores e importadores montados na Praça Onze, no Centro, durante os quatro dias de apresentação. “O mercado brasileiro de rótulos premium ainda é incipiente, mas tem enorme potencial. Daí nossa decisão de trazer o Mondial para o Rio”, explica a canadense Jeannine Marois, que comanda a organização do festival.
Engana-se quem pensa que o Mondial de La Bière é apenas para aficionados e especialistas. Diferentemente de outras feiras do gênero, esta tem como alvo qualquer interessado em cervejas especiais. Fiel ao conceito de valorizar a experiência dos visitantes, contará com uma farta oferta de amostras das principais novidades do mercado. Entre os destaques estão, por exemplo, a britânica Shepherd Neame Generation Ale, em uma edição limitadíssima de 3?000 garrafas, e a excêntrica americana Rogue Voodoo Doughnut, com sabor de pasta de amendoim, chocolate e banana. Quem quiser ir além pode dar prosseguimento à farra etílica em um pequeno pub instalado no local ou mesmo em casa ? há uma lojinha na saída. “Queremos reproduzir o clima festivo que existe na exposição original em Montreal e apresentar aos consumidores tanto microcervejarias como grandes marcas”, resume Victor Montenegro, gerente da feira carioca.
Embora o mercado de cervejas especiais ainda esteja engatinhando no país, os importadores e pequenos produtores nacionais têm excelentes razões para brindar. Só no ano passado, mais de trinta registros foram solicitados ao Ministério da Agricultura ? o maior volume em três décadas. O setor denominado premium apresentou um aumento de 18% nos últimos dois anos e a expectativa é que até 2015 esse número atinja 20%. Sob a ótica internacional, o Brasil se destaca como um país cervejeiro em franca ascensão ? em termos absolutos, é o terceiro produtor do mundo ? e, no setor artesanal, tem variedades para exportação com boa qualidade. “É um momento de resgate do ritual de consumo da cerveja. O brasileiro está mais bem informado sobre o universo dos lúpulos e maltes e por aqui produtos de massa estão dividindo as atenções com as marcas especiais”, explica Marcelo Carneiro, dono da Colorado, um dos rótulos nacionais expostos.
O frisson que existe hoje no Rio em torno da bebida é comparável ao que cercou o vinho uma década atrás, mas com pequenas variações. Além de mais barata, a cerveja é associada a rituais menos austeros. “Ela tem um apelo muito mais informal, mesmo em se tratando das variedades sofisticadas”, explica o especialista José Raimundo Padilha, que se define como sommelier, exatamente como seus pares do mundo enogastronômico. É bom lembrar, no entanto, que a responsabilidade por essa popularidade é das marcas de massa, ainda que fiquem anos-luz atrás de suas congêneres especiais. Enquanto a versão mais refinada é produzida a partir de técnicas seculares e ingredientes nobres, a consumida em grande escala segue o estilo criado nos Estados Unidos durante a depressão econômica dos anos 1930. Pelo processo, são adicionados à fórmula milho e arroz, para reduzir o custo. O curioso é que o atual movimento de resgate das cervejas tradicionais também nasceu nos Estados Unidos e se fortaleceu nos anos 1980 e 1990. Não à toa, a bebida da moda é a imperial india pale ale, versão californiana da antiga cerveja britânica, bem mais encorpada e alcoólica. Potente e saborosa, é uma das favoritas para levantar aqui a taça de melhor do mundo.