Na noite da próxima terça (11), o chef e sommelier de cervejas Daniel Martins abrirá os trabalhos de uma nova confraria. Ele poderia até cozinhar algo ou falar sobre o boom das cervejas artesanais, mas o foco agora é outro. A estrela da vez entre os gourmands cariocas são os queijos. Não as versões francesas de brie, camembert e roquefort, mas as receitas nacionais, de pequenos produtores, que dificilmente são encontradas nos grandes mercados. Exemplares desse tipo serão levados para o encontro, idealizado em parceria com o jornalista e consultor americano Dan Strongin, ex-presidente do American Society of Cheese, e que acontecerá uma vez por mês no restaurante Lorenzo Bistrô, no Jardim Botânico. “Queremos reunir apreciadores, trocar informações e disseminar a revolução queijeira que está sendo capitaneada por pequenos produtores de todo o Brasil”, afirma Martins, criador do projeto Queijo com Prosa.
O lançamento da iniciativa integra a programação do primeiro Festival de Queijos Brasileiros. Promovido pela Casa Carandaí e pela empreitada de Martins, o evento vai até 8 de agosto e terá um mês de atividades dedicadas ao laticínio nacional, além, é claro, da venda de exemplares especiais. Só para esta temporada, foram encomendados mais de 500 quilos de aproximadamente quarenta tipos. O mais aguardado deles virá da região mineira de Araxá, um dos novos polos de produção. Conhecido como Senzala, variedade de casca branca, interior macio e semicremoso, foi eleito o melhor queijo de leite cru e massa prensada no Mondial du Fromage 2017, concurso realizado no início de junho em Tours, na França, arrebanhando as medalhas de ouro e superouro (condecoração máxima). Inédito por aqui, o quilo dele estará disponível por um valor na faixa de 100 reais na feirinha que a loja do Jardim Botânico promoverá neste fim de semana.
Estrelas dos empórios e delicatessens sofisticados, os queijos nacionais também vêm se tornando mais populares em eventos informais, ao ar livre e nas ruas. Na última edição da feira Junta Local, que recebeu cerca de 1 000 pessoas, o casal de arquitetos Túlio Mota e Natalia Arica expôs variações de dezenas de produtores, todos da Serra da Canastra. “Apesar de trabalharmos com outros produtos artesanais, o queijo é nosso carro-chefe”, enfatiza Mota. A cada edição, a Dariquim, sua marca, chega a vender em torno de oitenta peças, com valores entre 50 e 120 reais. “Basicamente, o nosso estoque zera”, completa. O próprio chef Claude Troisgros, dono de seis restaurantes na cidade, contribui para o sucesso do setor. “Sempre compro queijos artesanais brasileiros para complementar os jantares com amigos na minha casa. Como bom francês, gosto de comê-lo antes da sobremesa, segundo manda a tradição”, diz ele. “Eles estão cada vez mais surpreendentes, com características e personalidades independentes”, acrescenta o cozinheiro, que é fã do Cuesta Reserva, maturado por quase dois anos na região de Pardinho, no interior de São Paulo.
Outra frente aberta pelo mercado em expansão foi a criação de plataformas de assinaturas on-line surgidas nos últimos dois anos. É o caso do pioneiro Clube do Queijo RJ, em que os setenta cadastrados dispõem de planos com mensalidades entre 105 e 279 reais. Os negócios nesse ramo vêm dando tão certo que já existem até lojas temáticas, completamente dedicadas às versões nacionais. Uma delas é tocada há dois meses pelo caçador de queijos André Deolindo no complexo Uptown, na Barra, onde ele comercializa cerca de 200 quilos por semana. “O ponto aumentou minhas vendas em mais de 60%. Mesmo os sabores mais pronunciados têm bastante aceitação à medida que o cliente vem aqui e prova”, explica. Seus passos serão seguidos pela loja virtual Empório São Roque, que oferece trinta variedades de queijo de vaca, cabra, ovelha e búfala no portfólio e abre daqui a dois meses um quiosque na Estação Carioca do metrô. Como se vê, ainda há muito território para o rei dos laticínios conquistar.