Brie, camembert e roquefort vêm da França. Reforçam a equipe os italianos parmigiano reggiano e grana padano, acompanhados pelos astros da Holanda maasdam e gouda. Trata-se, definitivamente, de um dream team das tábuas de queijos. A novidade é a seguinte: como no internacional escrete espanhol, esse Barcelona dos laticínios hoje se completa com craques brasileiros, sem nenhum prejuízo para a qualidade da equipe. Longe disso. Nas vitrines refrigeradas — e, dizem, às vezes escondidos na bagagem de quem volta do exterior —, os importados ainda brilham. São, no entanto, seguidos cada vez mais de perto por concorrentes mineiros, nordestinos, paulistas e cariocas. Provas disso, em fatias e lasquinhas, se encontram espalhadas por variados endereços da cidade.
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No Jardim Botânico, a Casa Carandaí exibe uma elegante, e rara no Rio, cave de maturação dedicada a sugestões locais. “Quando abri, há três anos, os nacionais não representavam mais do que 30% do negócio. Esse número dobrou e hoje a aceitação é tamanha que o estoque zerou no Dia dos Pais”, conta João Luiz Garcia, dono do estabelecimento. A fisioterapeuta Ana Doerzapff contribui para o sucesso nas vendas. “Viajo muito a trabalho e sempre que tenho a chance provo queijos típicos. Os nossos não devem nada aos estrangeiros”, atesta. Ela adora os produzidos na Serra da Canastra, em Minas Gerais: “Tenho sempre em casa, sirvo como sobremesa, com goiabada”, conta. Em lojas como a Cosa Nostra Deli e a Grão & Cia, ambas em Ipanema, sabores brasileiros também ganham destaque. No Humaitá, o Calavera Kitchen & Bar até subverte o tradicional queijos e vinhos, trocando a bebida por cerveja — também brasileira. Araxás, canastras, serranos e afins ainda aparecem em bom número no cardápio de restaurantes, a exemplo do Formidable Bistrot, do Cota 200 e do Laguiole.
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Outra frente aberta é a das feiras gourmets. Projeto de sucesso na cidade, a Junta Local promove a venda, em eventos itinerantes e on-line, de produtos regionais, artesanais, não encontrados nos supermercados. Vários são representados pelo Queijo com Prosa, empreitada de Daniel Martins. Ele tem contato com quase quarenta queijeiros Brasil afora (confira alguns sabores no quadro ao lado). Muitas das delícias garimpadas por Martins existem há tempos, mas barreiras comerciais, sanitárias e burocráticas impediam sua chegada ao Rio. Como a grande maioria dos queijos é produzida com leite cru, sem sofrer nenhum tipo de pasteurização, uma legislação datada de 1952 não autorizava a venda dos produtos nem os reconhecia oficialmente. Em dezembro de 2011, um decreto permitiu a comercialização em regiões específicas do país, como a hoje famosa Serra da Canastra, em Minas Gerais.
Dois anos depois da primeira vitória, a circulação dos nossos queijos foi legalizada e sua difusão se expandiu. A adequação às normas, como a autorização junto à Secretaria de Inspeção Federal (S.I.F.), é uma justificativa para os preços de Primeiro Mundo. Um exemplo: o quilo do mineiro Capim Canastra, que no fim de junho conquistou a medalha de prata no concurso francês Mondial du Fromage de Tours, custa em média 95 reais. Chef do restaurante Laguiole, Elia Schramm acredita que ainda há muito caminho pela frente. “Temos ao nosso lado uma gama de produtos maravilhosos, mas ainda vivemos em guerrilha para difundir e valorizar o que é nosso”, analisa o mestre-cuca, que utiliza queijos de Teresópolis e da Serra da Canastra, todos legalizados, em seu menu degustação. Saborosa, a luta continua. “Descobri uma mussarela de búfala ainda sem registro, feita na Ilha de Marajó, que se iguala às do sul da Itália”, avisa Garcia, da Casa Carandaí.