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As rotas etílicas despontam como opção turística no interior do Rio

As trilhas em torno do gim, da cerveja, da cachaça e até do vinho dão um gás a mais no turismo fluminense, que tem metas ousadas para o pós-pandemia

Por Carolina Barbosa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 ago 2021, 10h24 - Publicado em 20 ago 2021, 06h00
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    A destilaria do gim Amázzoni, em Barra Mansa: aberta aos turistas -
    A destilaria do gim Amázzoni, em Barra Mansa: aberta aos turistas – (./Divulgação)

    Meca dos rótulos mais desejados e bem pontuados pelas estrelas da enologia, a França atrai uma multidão de viajantes, ano após ano, em busca do pontilhado de vinícolas onde garimpam tesouros produzidos com o terroir local. Regiões inteiras do país têm no enoturismo sua mais vistosa atividade econômica — os passeios que aliam belas paisagens francesas à experimentação etílica faturam altas cifras, algo em torno de 5,2 bilhões de euros por ano (31,4 bilhões de reais). O Brasil ainda está distante de tal patamar, mas começam a ganhar espaço por aqui, em pleno interior fluminense, rotas impulsionadas pela aspiração de bebericar boas taças (ou tulipas) — e relaxar.

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    A pandemia, que freou as viagens internacionais, acabou sendo o motor de um movimento recorde por esses caminhos Rio adentro. Em julho, a média de ocupação na rede hoteleira nesse tipo de destino ficou acima dos 60%, com picos em Petrópolis (75%) e no Vale do Café (70%). “Em nenhum outro lugar do país se encontram, em um raio tão curto de distância, tantas opções turísticas etílicas — das tradicionais cachaças e cervejas aos gins e vinhos, que ganharam força”, diz o secretário de Estado de Turismo, Gustavo Tutuca.

    O cardápio de endereços é vasto, cheio de novidades não muito longe da capital e desperta o interesse de gente à procura de um programa que envolva história, um dedo de prosa e (por que não?) degustação alcoólica. Com 24 atrações espalhadas por cinco cidades da Serra Fluminense, a Rota Cervejeira concentra redutos que vão desde a gigante Bohemia até a artesanal Cervejaria Colonus, em Petrópolis, já idealizada para receber visitantes. “Começamos a fazer harmonizações com produtos elaborados a partir dos ingredientes da cerveja. Em meio às explicações dos processos, servimos nossa german pils, que exibe características marcantes de malte e notas que remetem a bolacha, com uma ciabatta feita de bagaço de cevada”, explica o sócio Leandro Leal.

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    A cerca de 35 minutos dali, em Corrêas, a Brassaria Matriz, encravada defronte a uma bela cachoeira, conhecida como Poço do Imperador, onde a família imperial costumava se reunir em convescotes no verão, também se tornou um refúgio da turma que aprecia os rótulos artesanais. Nos fins de semana, a casa costuma lotar trinta minutos após a abertura — e a fila de espera chega a duas horas.

    A ideia ali é que a produção mensal (em torno de 1 500 litros) de sete variedades, entre a amarguinha new england ipa com cupuaçu e a ácida gose com goiaba e maracujá, seja consumida in loco. “Essa proposta tem sido tão bem recebida que, desde que retomamos as atividades, o público triplicou”, comemora o sócio e cervejeiro Pedro Lito.

    O centro de produção da Bohemia: visita guiada e degustação -
    O centro de produção da Bohemia: visita guiada e degustação – (./Divulgação)
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    O caminho cervejeiro, já mais estabelecido, encontra um forte e promissor concorrente, que desponta no cenário fluminense: o gim. Sem sinalização e com acesso por uma curta estradinha de terra para quem sai da Via Dutra em direção a São Paulo, na altura de Barra Mansa, no Vale do Paraíba, uma fazenda do século XVIII abriga a destilaria do Amázzoni, condecorado com o Distiller of the Year no World Gin Awards 2021, espécie de Oscar do setor.

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    Os visitantes são recebidos em pequenos grupos para uma experiência intimista, que perpassa desde a rica história do local, antiga sede da fabricação de cana-de-açúcar e café, até uma imersão pelos princípios da elaboração artesanal da bebida, preparada em alambiques de cobre, que emanam seus complexos aromas. Tudo, como não podia deixar de ser, regado a gim-tônica e coroado com um saboroso almoço. “No início da pandemia, não tínhamos nada muito bem estruturado, mas aprimoramos o atendimento, implementamos serviço de helicóptero e o crescimento foi exponencial”, conta, entusiasmado, o sócio Arturo Isola.

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    Ele e outros que apostam nas rotas etílicas sabem que são precursores em uma cultura que está começando a germinar nestas praias. “Em um mercado tão pouco educado para esse tipo de bebida, abrir a destilaria vale mais do que qualquer propaganda, é a nossa casa. Poder ver o que está por trás do rótulo torna o consumo uma experiência única”, diz Isola, que produz 3 000 garrafas por dia. Ainda nessa seara, a destilaria Alquimia, em Itaboraí, responsável pela fabricação dos gins Mutatis e Galaxy e de um rótulo de rum, está ampliando suas instalações para, até o fim do ano, estrear para o público. Investe também em um bar para degustação e área para churrasco. “É a cara do carioca”, acredita o sócio Flávio Lima.

    Vinícola Inconfidência: inspiração para novos projetos na região -
    Vinícola Inconfidência: inspiração para novos projetos na região – (./Divulgação)

    Com 64 produtores cadastrados, a rota em torno da popular cachaça reúne propriedades localizadas de norte a sul do mapa fluminense. Marchetados na Costa Verde estão alguns dos alambiques mais antigos do país — caso do Coqueiro, com mais de dois séculos de serviços prestados aos apreciadores de uma branquinha de qualidade. “A pandemia nos deu a chance de nos reinventar, sem perder a essência. Queremos cada vez mais inserir a cachaça no turismo de experiência”, explica Eduardo Calegario Mello, sócio do primeiro alambique de Paraty com certificação orgânica.

    Na propriedade, bebericam-se, além da receita clássica, amostras envelhecidas e a azulada, que fica com tal tonalidade graças à mistura com folhas de tangerina. Já na região do Vale do Café, no sul fluminense, municípios como Valença, Vassouras e Rio das Flores abrigam engenhos à frente de marcas premiadas, além de surpresas recém-chegadas — a Pindorama é uma delas.

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    Foi concebida em um alambique histórico, datado do século XIX, no município de Engenheiro Paulo de Frontin, todo restaurado para alojar a produção e receber turistas. “Mostramos ao vivo para as pessoas o que fazemos, levamos para o mundo e é tão valorizado em outras culturas”, diz o sócio Rafael D’Aló.

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    Até o que, à primeira vista, poderia parecer improvável, dado o nosso terroir, encontrou terreno fértil em Paraíba do Sul, próximo a Secretário. Por lá está fincada a pioneira Vinícola Inconfidência, que passou por muita tentativa e erro para colher a primeira safra, em 2013, graças à técnica da dupla poda (que consiste em “enganar” a videira para que frutifique e a colheita seja no inverno). Uma adaptação aqui, outra ali, e voilà: hoje há 22 000 parreiras plantadas em 6 hectares de variedades tintas, como syrah, cabernet franc, cabernet sauvignon e merlot, e brancas, como sauvignon blanc e viognier.

    Temporariamente interrompida em decorrência da pandemia, a visita guiada será em breve retomada, com o avanço da vacinação. “Nas redes sociais, estamos levando até bronca das pessoas, que questionam quando, afinal, reabriremos”, diverte-se o sócio Maurício Bittencourt Aranha. Nos planos está a construção de uma área de degustação no terreno das uvas, com gramado para piquenique e lojinha. “Vamos fazer bons vinhos e colocar o Rio na rota nacional”, promete.

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    arte Turismo

    Tomando inspiração no pioneirismo deles, há ao menos uma dezena de pequenos projetos no entorno. Em Areal, numa propriedade de 450 000 metros quadrados, está sendo erguido o Borgo del Vino, espécie de condomínio-vinícola que deve ser totalmente concluído em 2024. Com ares de vila medieval à la Toscana, a proposta, posta de pé com investimento de cerca de 40 milhões de reais, é reunir capela, restaurante, hotel-butique, spa, praça e torre com sino, além de área residencial e da vinícola Família Eloy, cuja visitação está prevista para meados do próximo ano. “Nem todo mundo pode ir ao Sul ou ao exterior, mas vai subir a serra e ter uma experiência agradável à altura”, garante Bernardo Eloy, um dos donos.

    Tais inovações são vitais para empurrar o turismo, motor da economia fluminense essencial na retomada pós-pandemia. “Temos uma meta ousada de que 5% do PIB do estado seja oriundo do setor em um prazo de uma década”, afirma o secretário Tutuca, lembrando que a atividade responde hoje por cerca de 3% do bolo. “Essas rotas são muito importantes para nos ajudar a alcançar o objetivo”, avalia. Taí um bom motivo para brindar.

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