“Chegando ao aeroporto de Gran Canaria, avistamos um arco-íris, um alento depois de dois dias em quarentena no hotel, saindo só para ir ao supermercado. É hora de voltar para Londres. Eu logo percebi o que significava o ‘estado de alarma’ imposto pelo governo espanhol. Tudo no aeroporto estava fechado, as lojas, os restaurantes, cafés e Duty Free. O alto-falante não anunciava os voos e muitas pessoas usavam luvas e máscaras.
Eu me senti num episódio de Black Mirror, com uma pitada de The Handmaid’s Tale, um cenário surreal e assustador. Nem a Polícia Federal espanhola estava à vista no aeroporto, tive que pedir ajuda a funcionários da companhia área para conseguir um carimbo de saída no passaporte.
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Aterrissamos em Londres no meio da noite, por todos os lados avisos de cuidados com Coronavirus e prevenção. Difícil pensar em outra coisa, um fim de férias amargo para quem buscava um pouco de sol e temperaturas mais altas uma semana atrás. Parece que o mundo mudou para sempre e todos nossos planos se desmancharam no ar.
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Em Muswell Hill, bairro em que moramos, movimento como sempre. Há quem diga que é um dia normal, até entrar em lojas e supermercados e se deparar com prateleiras vazias e filas intermináveis. O grupo do whatsapp do trabalho traz notícias ruins, de que o museu onde eu trabalho vai fechar amanhã (quarta, 18), dia em que eu voltaria de férias.
Não sei o que vai ser o dia de amanhã, o governo britânico deu conselhos vagos à população e Londres é vista como o provável epicentro da epidemia no país. O que eu sei é que ficando em casa eu não coloco outras pessoas em risco, então é o que pretendo fazer.”
*Bia Kling é historiadora da arte e trabalha na Royal Academy of Arts, em Londres. Ela mora na Inglaterra desde 2018. Em depoimento a Marcela Capobianco.