Continua após publicidade

Carioca em Portugal: ‘Espero pelo dia em que vamos voltar a nos abraçar’

A designer de joias Monica Rosenzweig, que mora em Cascais, conta que a cidade, vazia com a quarentena, está parecendo cenário de filme melancólico

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 27 mar 2020, 20h42 - Publicado em 27 mar 2020, 20h39
  • Seguir materia Seguindo materia
  • “Cascais é uma cidade tranquila, com ar de balneário, tem aquele barulho do mar que acalma. Não costuma-se ver correria por aqui, nem aquele trânsito das grandes cidades. É possível comer, fazer compras, trabalhar, passear, tudo com bastante tranquilidade.

    Num fim de tarde de clima ameno e com o azul do céu começando a ficar mais cinza, fui tomada pela sensação real de que “fim do mundo” estava começando. Eu estava, precisamente, no estacionamento do shopping. E assim que paramos o carro, eu e meu marido vimos uma senhora colocando pacotes e mais pacotes de papel higiênico no bagageiro do veículo dela. Aquela cena me pareceu incomum. Eu ainda não sabia que o “vírus do papel higiênico” estava se alastrando por Cascais.

    Fui jantar com meu marido, quando recebi o telefonema de um amigo, me aconselhando a ir ao supermercado para fazer um estoque. Minha filha, que mora na França, também me ligou dizendo a mesma coisa. Mal engolimos a comida e partimos para o supermercado. Eu nunca tinha visto as prateleiras vazias. Pessoas enchendo o carrinho com tudo. Clima de guerra mesmo, assustador.

    + Leia mais relatos de cariocas no mundo durante a pandemia

    Desde então, a corrida a supermercados foi insana. O papel higiênico foi apenas o primeiro item a sumir das prateleiras. Em seguida, esgotaram-se o álcool, luvas descartáveis e máscaras de proteção. Não havia carnes embaladas nas prateleiras e a fila para o açougue era interminável.

    Continua após a publicidade

    Naquele momento, eu ainda pensava em levar uma vida “normal”, porque decidi que não entraria em histeria coletiva. Mas, por outro lado, quando o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, também morador de Cascais, decidiu fazer quarentena de quinze dias, mesmo com seu resultado negativo, uma luz vermelha de perigo se acendeu na minha cabeça.

    Os colégios suspenderam as aulas. Mas, ainda sem se dar conta da gravidade, a criançada foi em massa para a praia. Levaram, claro, um puxão de orelhas, pois quarentena não tem nada a ver com férias. Logo bares, restaurantes, cinemas e academias de ginástica fecharam. Em seguida, foi decretada a quarentena oficial.

    As ruas vazias de uma maneira anormal tornaram Cascais um cenário ainda mais paradisíaco, com suas areias desertas, lembrando muito aqueles filmes em que pessoas estão muito solitárias e sem saber como se virar numa ilha perdida. Uma tela bonita, mas de uma tristeza aterrorizante. Logo em seguida, várias medidas foram tomadas, como limitar entrada de pessoas no supermercado e manter uma distância de um metro entre uma pessoa e outra.

    Continua após a publicidade

    Em meio ao caos, nem tudo é desolação. As pessoas estão mais solidárias e, com certeza, reavaliando seus valores prioritários, assim como eu. Decidi usar meus dias de isolamento para criar. Além das joias que faço, estou pintando quadros, criando estampas, desenhando muito, colorindo meu interior, esperando ver a cor das pessoas voltando a se abraçar lá fora.

    *Monica Rosenzweig é designer de joias e acessórios e mora em Cascais, Portugal, há 2 anos. Em depoimento a Marcela Capobianco

    Publicidade

    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de 35,60/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.