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Crítica: monólogo on-line emociona ao misturar traumas, crueldade e poesia

Todos os Sonhos do Mundo, solo de Ivam Cabral, faz análise crua sobre depressão e o sentido da vida, mas sem perder o lirismo

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 27 jul 2020, 15h56 - Publicado em 27 jul 2020, 15h52
Todos os Sonhos do Mundo: solo de Ivam Cabral, dirigido por Rodolfo García Vázquez, ganha potência na simplicidade (Andre Stefano/Divulgação)
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Crítica: monólogo on-line emociona ao misturar traumas, crueldade e poesiaCrítica: monólogo on-line emociona ao misturar traumas, crueldade e poesiaCrítica: monólogo on-line emociona ao misturar traumas, crueldade e poesiaCrítica: monólogo on-line emociona ao misturar traumas, crueldade e poesia Todos os Sonhos do Mundo. Ao longo de sua história, marcada por altos e baixos, o teatro sempre usou as adversidades como fator de propulsão para encantar plateias ao redor do planeta.

A pandemia do novo coronavírus, ao baixar cortinas e afastar o público das experiências de troca entre atores e espectadores, alarmou todo um setor, que se viu sem trabalho do dia para a noite.

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Mas a arte (sobre)vive da insistência e o ofício artístico prova que pode brotar ainda mais potente em um período tão crítico como o que vivemos.

Se não fosse a Covid-19, o ator Ivam Cabral, da companhia Os Satyros, estaria em turnê pela Europa com o solo Todos Os Sonhos do Mundo.

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A peça, que estreou ano passado no Festival de Teatro de Curitiba, foi transposta para a internet ainda em março, de forma improvisada por Cabral no corredor de seu apartamento, em São Paulo. As transmissões eram feitas através do Instagram pessoal do artista.

Teatro on-line: novos públicos e possível rentabilidade

No último domingo (26), Todos Os Sonhos do Mundo estreou de forma definitiva nas plataformas digitais, num formato simples, mas explorando as possibilidades cênicas do app de videoconferência Zoom, que permite projeções de vídeos e trilha sonora.

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Espetáculo Todos os Sonhos do Mundo
Ivam Cabral: ao ser transposto para a internet, monólogo perdeu elementos cênicos, como as pétalas de flores, mas ganhou projeções visuais (Andre Stefano/Divulgação)

Espécie de autoficção e com dramaturgia baseada no livro O Demônio do Meio-Dia – Uma Anatomia da Depressão, de Andrew Solomon, Cabral descreve o monólogo como um stand-up tragedy. Reunindo reminiscências de infância, traumas que viveu ao longo da vida e poemas de Cecília Meireles, Ferreira Gullar, Carlos Drummond de Andrade, entre outros poetas, o ator faz uma análise sobre como a vida pode ser cruel.

É interessante perceber como a direção de Rodolfo García Vázquez leva doçura a histórias profundamente tristes relatadas por Cabral no monólogo. Ao mesmo tempo em que provoca reflexões e questionamentos profundos sobre o sentido da vida, acalenta os espectadores com belas poesias, como o Cântico VI de Meireles.

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Ao fim, o ator alivia a atmosfera tensa ao dizer que “nossos traumas acabam virando narrativas de triunfo”, buscando uma esperança que até então parecia perdida.

Reinventar-se parece ser uma palavra-chave em tempos de pandemia e o teatro prova que, mesmo através de uma tela, pode seguir tocando corações e mentes de espectadores. Todos Os Sonhos do Mundo, reinventada, consegue provar isso.

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Se você é um espectador que ainda torce o nariz para o modelo de teatro pela internet, começar pelo monólogo da companhia Os Satyros pode ser uma boa forma de explorar esse “novo mundo” em que estamos distantes, porém conectados.

Todos Os Sonhos do Mundo. Plataforma: Sympla. Domingos às 20h, segundas às 21h. Duração: 60 minutos. Ingressos: R$20, com gratuidade para quem não pode pagar e apoio ao espetáculo de até R$ 250 para quem puder ajudar a equipe. Até 30 de agosto.

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