Vai fazer três anos que me mudei para Barcelona. E há mais de um ano que trabalho no departamento de marketing e vendas de uma multinacional, atendendo ao mercado brasileiro. Todo imigrante batalha por estabilidade e, mesmo entre questões políticas e econômicas locais, vejo que os cariocas de plantão do outro lado do oceano se adaptam bem às leis, normas e burocracias do atual país em que vivem. Mas o que aconteceu quando nos deparamos com uma pandemia mundial?
Nunca vi nada igual. O COVID-19 chegou forte também por aqui, até mesmo pela proximidade com a Itália. O que mais me impressionou foi a agilidade das instituições públicas e privadas em bloquear a proliferação do vírus. Informação fez toda a diferença. Seja no meu trabalho, que deu (e continua dando) todo o suporte necessário para que estejamos em casa realizando teletrabalho, seja da parte do governo local e nacional, que trabalha forte informando toda a população sobre questões básicas do que se deve ou não se deve fazer em uma situação como esta.
Hoje, vejo policiais parando pessoas na rua e pedindo para que estejam em casa. O primeiro contato é somente um alerta com a informação de que, durante a quarentena, só podem sair às ruas quem tem um motivo plausível (comprar comida, ir ao médico ou estar com criança ou idoso que necessite de atendimento médico). Sem uma justificativa que se encaixe, os policiais pedem os seus dados e aplicam multa que, dependendo do caso, começa com 500 euros e pode chegar até 2 000 euros. Ou seja, pesa no bolso.
Museus, restaurantes, complexos esportivos: todos fechados. Alguns supermercados abrem em horários especiais, mas só entram de dez em dez pessoas. Fazer compras praticamente sozinho pensando no que estocar para 15 dias (ou mais) poderia ser uma experiencia até divertida. Mas não foi. Por aqui não se brinca com isso. Foi instaurado um forte comprometimento com o coletivo. Trata-se de colaborar para que a Espanha deixe de ser o segundo país do mundo com mais novos casos de Coronavírus.
A hashtag #quédateencasa é a mais usada no momento. Sim, estamos em casa e vimos que, como sempre, é o melhor refúgio. A alternativa é utilizar a tecnologia para matar as saudades dos amigos e familiares não só do Brasil, mas também dos colegas de trabalho e vizinhos. Cada um está fazendo a sua parte, colaborando, isolados. Temos um verão pela frente e só espero que tudo isso se resolva no mundo inteiro. Temos muito sol e lindas praias na Espanha, mas a mensagem é que só vai dar praia se não tiver risco.
*Marcelo Nogueira é carioca, jornalista e vive na Espanha há quase três anos. Em relato para Carolina Barbosa.