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Nas trilhas do crime

Bandos armados se aproveitam dos caminhos mato adentro para invadir residências e assaltar quem se embrenha pela Floresta da Tijuca

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 5 jun 2017, 13h48 - Publicado em 25 set 2013, 18h00
Alexandre Macieira
Alexandre Macieira (Redação Veja rio/)
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O Rio de Janeiro pode se orgulhar de encerrar duas das maiores florestas em perímetro urbano do mundo: o Parque Nacional da Tijuca e o maciço da Pedra Branca. Na realidade, somos um caso raro de metrópole que desfruta o privilégio de estar encravada numa vasta área verde. Essa particularidade geográfica presenteia a cidade com trilhas perfeitas para caminhadas alheias ao desvario do asfalto. De quebra, o trajeto comumente revela paisagens arrebatadoras, sob um ângulo inédito. Pois esse programa indicado tanto para cariocas quanto para turistas está cheio de obstáculos perigosos pelo caminho. Com frequência essas veredas têm sido usadas por bandidos, que se aproveitam do isolamento no meio do mato para praticar assaltos. Algumas delas ainda servem de rota de fuga dos marginais entre uma colina e outra.

É o que está acontecendo no Morro do Banco, uma pequena favela com cerca de 2?000 habitantes, situada no Itanhangá. Traficantes oriundos da pacificada Rocinha e do Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, utilizaram picadas no matagal e migraram para o local. Uma vez instalados, eles têm aterrorizado os moradores da região, como mostra uma estatística do Disque-Denúncia. Neste ano, o serviço já recebeu mais de 100 ligações relatando crimes naquela área, mais que o triplo dos chamados feitos ao longo de 2012. O modo de agir dos criminosos costuma obedecer a um modelo. Eles se embrenham pela floresta com o objetivo de invadir mansões, como relata a dona de casa Clara Muznick, uma das vítimas do bando no Itanhangá. “Entraram três homens armados, que apontaram um revólver para a minha cabeça e levaram dinheiro e joias”, conta ela. Responsável pelo registro de ocorrências na área, a 16ª Delegacia de Polícia alega que a investigação está em curso, e dá poucos detalhes do problema. Ela se limita a informar que os criminosos estão identificados, mas ainda não foram localizados.

Alexandre Macieira
Alexandre Macieira ()

A onda de violência no Itanhangá não é o único problema camuflado sob as nogueiras, embaúbas e jaqueiras da Floresta da Tijuca. Em três fins de semana seguidos, dezenas de pessoas foram assaltadas na trilha que leva ao topo da Pedra da Gávea. Na primeira ocorrência, no domingo 25 de agosto, os delinquentes chegaram a amarrar as vítimas depois de levar seus pertences. A sucessão de roubos causa enorme apreensão, uma vez que nos últimos dois anos houve apenas um registro de ocorrência do gênero naquele caminho. Para piorar o panorama, de um mês para cá também houve relatos desse crime na Pedra Bonita e no Morro Dois Irmãos. Um dos episódios, no domingo 1º, envolveu o securitário Carlos Pontes. Quando começava a descer o Dois Irmãos, ainda no alto da colina foi interceptado por quatro sujeitos, um deles armado. “Eles levaram meu celular e minha carteira”, conta. A sensação de insegurança aumenta quando se vê o vácuo de responsabilidade das autoridades nesses locais. Enquanto a Polícia Militar afirma que não pode atuar em uma área federal, a administração do Parque Nacional da Tijuca diz, em nota, que seus vigilantes têm por função proteger apenas o patrimônio. Como agravante, o Batalhão Florestal, que patrulhava a área verde da cidade, foi extinto em maio de 2012.

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Em meio a tantas adversidades, a ideia de integrar as veredas de um extremo a outro da metrópole serve como um alento. O projeto da trilha Transcarioca, com promessa de ficar pronto até a Copa de 2014, visa a interligar dezenas de trechos de caminhos pela mata a fim de formar um corredor de 140 quilômetros. Salvo algumas breves interrupções, ele vai da Restinga de Marambaia até o Pão de Açúcar. “Queremos fomentar o ecoturismo, estimular o próprio carioca a conhecer as belezas naturais da cidade, e também ajudar a preservar a mata, com uma fiscalização constante”, explica André Ilha, diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). A sinalização, toda padronizada, já começou a ser instalada, e em breve se iniciam as obras de escoramento e melhoria das partes mais desgastadas. Falta saber apenas se será realmente seguro se aventurar pela mata carioca.

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