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The Bible is on the table

Com missa em inglês, igreja em Copacabana atrai fiéis e outros nem tanto, que querem apenas praticar o idioma

Por Bruna Talarico
Atualizado em 5 jun 2017, 13h48 - Publicado em 25 set 2013, 18h17
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religiao-03.jpg (Redação Veja rio/)
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Felipe Fittipaldi
Felipe Fittipaldi ()

Não se trata de cair no conto do vigário. Ou, na gaiata tradução de Millôr Fernandes para a expressão, “to fall in the vicar tale”. Quem vai à missa das 11h30 de domingo na Capela de Adoração ao Santíssimo da Paróquia Nossa Senhora de Copacabana, na Rua Hilário de Gouveia, sabe que ela é toda celebrada em inglês. Não só sabe como está ali exatamente por essa peculiaridade. Entre um “alleluia” e um “praise the Lord” proferidos pelo sacerdote (veja o quadro na pág. 40), o fiel fica com a sensação de que está em um ritual no Harlem, bairro nova-iorquino cujos templos viraram pontos de visitação obrigatória, atraindo indistintamente turistas, leigos e religiosos. O culto em Copacabana também se caracteriza por reunir um público ecumênico. Em média trinta pessoas por domingo frequentam aquela igreja para fazer suas orações e/ou praticar o inglês. Em linhas gerais, elas buscam na palavra de Deus um empurrãozinho para aperfeiçoar o idioma falado por 335 milhões de pessoas no planeta. “As missas em inglês são ótimas para refrescar minha memória. É por isso que venho aqui”, afirma Glória Ramos, uma senhora que no último fim de semana acompanhava com entusiasmo a liturgia e procurava memorizar a pronúncia correta, atendo-se a cada detalhe fonético.

Quem sempre comanda a cerimônia é o padre Renan Féres Ferreira, que tem apenas cinco meses de batina e é igualmente pouco rodado na língua de Shakespeare. Ciente de suas limitações, o sacerdote enuncia com extremo cuidado cada frase e chega a escandir as palavras em determinadas ocasiões. “Meu conhecimento do idioma vem de filmes, seriados, músicas e videogames”, confessa ele. “Não tenho exímia fluência, mas procuro pesquisar antes tudo o que vou falar no altar.” Pela falta de domínio total da língua, padre Renan lê extremamente concentrado todo o conteúdo da celebração. Assim, não há margem para improvisações, nem mesmo na hora do sermão, como é praxe em uma missa convencional. Os livretos com as orações foram publicados pela editora americana Oregon Catholic Press e doados por um turista. Acompanham a pregação músicas conhecidas do rebanho católico carioca, mas com letras na língua estrangeira. Tal repertório é selecionado pela estudante de teologia Suzana Moreira, que já morou no Texas e trouxe de lá grande parte do setlist cristão. Ela executa os temas ao lado da americana Kay Rodrigues e seu uquelele, instrumento de cordas menor que um violão e raro de ver nas igrejas. “Pela nossa intimidade com o idioma, muitas vezes ajudamos nas leituras”, conta Kay. Levada pela reportagem de VEJA RIO, Tania Shepherd, chefe do departamento de letras anglo-germânicas da Uerj, acompanhou toda a homilia e fez sua avaliação geral. “O inglês é autêntico, embora a leitura apresente problemas de entonação”, avalia ela.

Fotos Felipe Fittipaldi
Fotos Felipe Fittipaldi ()

Iniciadas em meados de junho, as missas internacionais no templo de Copacabana nasceram com o objetivo de atrair a leva de visitantes estrangeiros que a cidade receberia na Copa das Confederações e na Jornada Mundial da Juventude. Soma-se a esse fator o caráter cosmopolita do eixo Copacabana/Ipanema, onde estão localizadas oito de cada dez unidades da hotelaria carioca. Foram apelos convincentes para que dom Nelson Francelino Ferreira, responsável pela maior paróquia do bairro, instituísse a inovação, que já vigora em outros dois templos da cidade. De acordo com a Arquidiocese do Rio de Janeiro, as igrejas Nossa Senhora da Misericórdia, em Botafogo, e São Judas Tadeu, no Cosme Velho, também ministram celebrações em inglês, sempre aos domingos, às 9h30 e 12 horas, respectivamente. O formato dos cultos católicos passou por diversas transformações ao longo dos séculos. Sua configuração atual vem do Concílio Vaticano II, realiza­do no começo da década de 60, que estabeleceu reformas na liturgia. Duas das principais mudanças foram o posicionamento do padre no altar, que antes ficava aparentemente de costas para os fiéis, e a liberação para o uso da língua vernácula, pondo um ponto-final na exclusividade do latim. Em consonância com a modernidade, a missa em inglês vem ao encontro de um mundo globalizado, em que a fé remove as fronteiras.

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