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A bola da vez

O Rio Open faz sua estreia na cidade em grande estilo, com a provável presença do número 1 Rafael Nadal, além de outras estrelas do tênis internacional

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 2 jun 2017, 13h13 - Publicado em 12 fev 2014, 17h37
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Divulgação (Redação Veja rio/)
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Berço de clubes históricos e ídolos incontestes no futebol e no vôlei, o Rio, no entanto, não exibe igual tradição no tênis. Não há carioca no panteão nacional desse esporte e raramente o público daqui tem a oportunidade de ver de perto um astro da raquete em ação. A partir da próxima semana, ao menos em parte, esse panorama começa a mudar. De sábado (15) até o outro domingo (23), será realizada no Jockey Club da Gávea a primeira edição do Rio Open, o campeonato mais importante da modalidade no continente. Uma prova é o quilate dos competidores. Entre os nomes anunciados pelos organizadores, o grande destaque é o espanhol Rafael Nadal, o número 1 do ranking mundial, que tem possibilidade de superar recordes até pouco tempo considerados imbatíveis. Outras feras estão a caminho (veja o quadro abaixo), como seu compatriota David Ferrer, atual quinto melhor do planeta, Nicolas Almagro (13º) e Fabio Fognini (16º). No lado feminino, as principais atrações internacionais são a russa Vera Zvonareva, a ex-número 2 do mundo, e a italiana Francesca Schiavone, a campeã de Roland Garros em 2010. Desperta curiosidade também a participação da pernambucana Teliana Pereira, a primeira brasileira a disputar um torneio do Grand Slam, após mais de duas décadas de ausência. Ressalta-se ainda que a competição entra para o calendário oficial da cidade sem prazo para sair: em tese, teremos uma edição por ano, a perder de vista. “Sediar uma Olimpíada é incrível, mas ela vem e vai embora. O Rio Open é uma conquista para sempre”, enaltece o ex-jogador e diretor de relações da competição Ricardo Acioly.

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Na hierarquia do tênis profissional, a competição que agora chega à cidade se enquadra na categoria ATP 500. Está abaixo apenas dos quatro torneios do Grand Slam ? Wimbledon, Roland Garros e os abertos dos Estados Unidos e da Austrália ? e da série ATP Master. Trata-se de um campeonato valorizado, com o número fixo de onze edições ao longo da temporada, entre as quais as etapas de Tóquio, Pequim, Barcelona e Washington (veja o mapa na pág. 38). Uma vez que a cidade adquire o direito de sediar o torneio, só o perderá se abrir mão ou descumprir o contrato. Daí a enorme dificuldade para entrar nesse seleto clube de metrópoles. No caso do Rio, calhou de convergirem um desejo antigo e uma oportunidade rara. Em meio à crise financeira americana, a cidade de Memphis anunciou, em 2010, que desistiria de suas datas. Diante da renúncia, ao menos cinco grupos entraram oficialmente em contato com a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) para adquirir a marca. Largou em vantagem o gigante IMG, que já organiza Wimbledon e, aqui no Brasil, está associado à IMX, ambos responsáveis por promover o Rock in Rio, o UFC e a Volvo Ocean Race, entre outros eventos de vulto. Houve uma demorada negociação, à base de lobby e lábia, cujo primeiro passo foi conseguir o aval do conselho da ATP, que reúne representantes dos jogadores e da organização. Para isso, o presidente da IMX, o carioca Alan Adler, fez uma apresentação ao grupo nos Estados Unidos, com a presença de Roger Federer e Rafael Nadal. Diante do sinal verde, a empresa desembolsou uma quantia estimada em 100 milhões de dólares para sacramentar o acordo e trazer a disputa para o Rio, realizando um velho sonho do executivo.

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Os valores e os nomes envolvidos são imponentes, bem como a estrutura que está sendo montada no Jockey Club (veja o quadro ao lado), local escolhido após terem sido descartados o Maracanãzinho, o Clube Marapendi, na Barra, e até o estacionamento de um shopping. Nessa minicidade temática, a ideia é que o público tenha uma experiência completa no esporte da bolinha amarela, com atrações que vão além da competição em si. Quem quiser poderá ver os treinos, comprar produtos nos estandes dos patrocinadores ou fazer uma refeição no restaurante. São esperadas 40?000 pessoas ao longo do torneio, que é disputado por dezesseis homens e 24 mulheres em jogos eliminatórios. Tanto a final masculina quanto a feminina terão lugar na quadra central, construída especialmente para a ocasião e com capacidade para receber 6?200 pessoas. Após o término de tudo, as arquibancadas serão retiradas e o clube herdará o novo campo de saibro, emoldurado pelo Corcovado e pela Lagoa Rodrigo de Freitas. Há ingressos à venda apenas para três dias ? os demais estão esgotados. Menos mal que o torneio terá transmissão ao vivo para o Brasil e mais quarenta países. “O mundo vai ver pela televisão o Nadal nesse cenário deslumbrante. Será incrível para a cidade”, diz, um tanto empolgada, Marcia Casz, vice-presidente da IMX.

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Uma conjunção de fatores contribuiu para a anunciada vinda do líder do ranking, além do cachê pago pelos organizadores, é claro, mantido em sigilo pelas partes. O Miúra, como é conhecido o espanhol, costuma dar preferência aos campeonatos no saibro, piso que é sua especialidade, bem como a do compatriota Ferrer. Em dívida com seus admiradores, após sentir uma lesão nas costas e ser surpreendido na decisão do Aberto da Austrália pelo suíço Stanislas Wawrinka, Nadal, que se recupera da contusão ? e na quinta passada, alegando problemas estomacais, cancelou sua participação em um torneio em Buenos Aires que começa neste fim de semana ?, quer reaver a boa forma e o prestígio. Daí a quadra carioca ser o terreno ideal para a volta por cima. Sua provável presença entre nós também foi facilitada pelo fato de ele já ter sido agenciado pela IMG. É preciso levar em conta ainda o poder de sedução da premiação. Embora bem distante das cifras distribuídas em Wimbledon, que na edição passada destinou somente ao campeão Andy Murray mais de 6 milhões de reais, o torneio carioca dará ao ganhador 750?000 reais. Para completar o quadro favorável, os tenistas bem colocados no ranking são obrigados a participar de pelo menos quatro etapas do ATP 500 por temporada.

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Apesar de aparentar as mesmas características de tempos atrás, seja nos equipamentos, seja nos campos de jogo, o tênis passa por uma intensa metamorfose. São mudanças que visam a tornar a modalidade mais atraente para a TV e também para sua legião de admiradores. Com o intuito de aumentar a competitividade e possibilitar trocas de bola mais longas entre os oponentes, os pisos foram todos modificados a partir do ano 2000. As quadras rápidas perderam velocidade, e as mais lentas tiveram movimento inverso. Em Wimbledon, por exemplo, a grama passou de 8 para 10 milímetros de altura. Pode parecer uma diferença insignificante, mas esse pequeno ajuste ajudou a ralentar um pouco mais o jogo. Pelo mesmo motivo, o Aberto dos Estados Unidos adicionou areia a seu piso sintético. Assim, impunha-se uma dificuldade extra ao enfadonho estilo saque e voleio que consagrou jogadores como o americano Pete Sampras, o segundo maior vencedor de torneios do Grand Slam, valorizando as rebatidas de lado a lado. Além do campo, a bola amarela sofreu alterações de acordo com o piso utilizado.

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Se as quadras estão mais lentas, como explicar, então, que os saques tenham ganhado velocidade da década de 90 para cá (veja o quadro ao lado)? A resposta é simples. Não foi só o piso que passou por mudanças. A preparação dos atletas está bem mais acurada, com evidentes benefícios físicos e psicológicos. Se antes um jogador de ponta viajava apenas com seu treinador, hoje o staff pessoal que sempre acompanha Nadal reúne técnico, médico, fisioterapeuta, preparador físico e assessor de imprensa, além de um profissional cuja função específica é encordoar as raquetes. Tanto esmero no treinamento e na prevenção de lesões se reflete diretamente na longevidade dos jogadores. Se a média de idade dos dez melhores do ranking da ATP era de quase 23 anos em 1995, hoje ela está acima dos 27, e só há três atletas abaixo dos 22 anos no top 100 masculino. Até o ano 2000, um craque trintão estava condenado à aposentadoria, tabu que ficou no passado. Considerado o maior jogador da história, o suíço Roger Federer, de 32 anos, continua atuando em alto nível e chegou recentemente à semifinal do Aberto da Austrália. Em contrapartida, sem a primazia física e com desvantagem no lado tático e mesmo no emocional, os jovens vêm encontrando dificuldade para superar os mais experientes. Dessa forma, fica cada vez mais improvável o surgimento de uma promessa que surpreenda o planeta, como foi o caso do alemão Boris Becker, que faturou Wimbledon aos 17 anos, e de Gustavo Kuerten, tricampeão de Roland Garros, a primeira vez com 20.

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Cezar Loureiro
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Mais do que colocar a cidade no mapa do tênis mundial, a realização do Rio Open vislumbra também uma ótima oportunidade para impulsionar o esporte no país, que não soube se aproveitar do fenômeno Guga para formar novos talentos. “Poder ver de perto os grandes nomes é essencial para difundir a modalidade”, afirma Maria Esther Bueno, a maior tenista brasileira, detentora de sete títulos do Grand Slam. “A vinda da ATP não vai resolver todos os problemas, mas, como é uma competição que ocorre todo ano, será uma excelente ocasião para o esporte evoluir”, reforça Kuerten. A partir de sábado (15), a partida para difundir a prática por aqui recomeça.

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