O Maracanã das noitadas
Com programação popular, uma gigantesca casa noturna da Zona Oeste atrai artistas, jogadores, turistas, periguetes e jovens de toda a cidade
Quem passa pela primeira vez em frente ao caixotão de tijolos aparentes na Avenida Ayrton Senna tende a achar que está diante de um shopping, tal a sua dimensão e o movimento no entorno. A dúvida é desfeita pelo letreiro que identifica o lugar. Aberto há menos de um ano, o Barra Music transformou-se numa espécie de Maracanã das noites cariocas. Com capacidade para acolher até 6?500 pessoas, vira e mexe ele está com a lotação esgotada, tomado por um contingente ecumênico de frequentadores. Entre aqueles que fazem da casa seu habitat estão jogadores de futebol, artistas globais, jovens de todos os quadrantes da cidade, turistas e muitas, mas muitas moças cujo comprimento da minissaia é inversamente proporcional ao do salto do sapato. Os atores Giovanna Lancellotti, Thiago Martins e Bruno Gissoni, os brutamontes Anderson Silva e Rogério Minotouro e os jogadores Adriano e Vágner Love são alguns dos famosos que batem ponto no local, atraídos pelos ritmos populares que predominam na programação, com ênfase no pagode, no funk e no sertanejo. “Adoro a música e o jeito à vontade das pessoas. Mas a maior qualidade é o espaço amplo. Eu nunca me sinto sufocada”, afirma a estudante Caroline Marques, que se divertia ao lado das amigas Marlene Simões, Bárbara Gomes e Bruna Grazielle.
No Barra Music, tudo prima pelo exagero. A construção e a montagem das estruturas de som, luz e demais instalações consumiram 10 milhões de reais de um grupo de empresários que preferem se manter no anonimato ? um deles seria o ex-jogador Edmundo, o Animal, notório pelas encrencas dentro e fora de campo. O complexo tem 34?000 metros quadrados, um terço a mais que o Maracanãzinho. No térreo, destacam-se a pista e o palco, de 30 metros de boca de cena, realçados por uma profusão de feixes de luz emitidos por 110 holofotes no teto. No 2º e 3º pavimentos ficam os 200 camarotes, sendo o mais cobiçado o premium, um pequeno compartimento todo de vidro fumê cercado de seguranças, o que garante a privacidade dos convidados vips. Um eficaz sistema de refrigeração mantém a temperatura sempre agradável, independentemente da lotação ou do horário. “Fico sempre no camarote e posso levar quantos amigos quiser”, conta o ator Bruno Gissoni, o Iran, de Avenida Brasil. “Gosto de lá porque há uma azaração sadia, na medida certa.” Recentemente, uma parte do elenco da novela saiu diretamente do Projac para se esbaldar na casa noturna, que, por sinal, poderia perfeitamente ser frequentada pelos personagens da trama, como Tufão, Tessália e todo o time do Divino. A própria Rede Globo utilizou o endereço para ambientar as apresentações das empreguetes de Cheias de Charme.
Um dos motivos que ajudaram a consolidar o Barra Music no mapa das noitadas cariocas é sua intensa programação. Com exceção de quarta-feira, dia de descanso geral, há sempre muita gente em cartaz. São no mínimo cinco atrações diárias, entre cantores e DJs. Algumas delas permanentes na grade, como Preta Gil, na quinta, e o grupo Revelação, na segunda. É nesse dia aparentemente improvável para a boemia que a pista mais ferve. O fenômeno é associado ao fato de ser o dia de folga dos boleiros, uma classe que visita aquela casa desde os primórdios e contribuiu, ainda que de forma involuntária, para propagar o lugar. Radicado em Belo Horizonte desde junho, Ronadinho Gaúcho chegou a fretar um jatinho para vir ao Rio desfrutar a noite no Barra Music, acompanhado do atacante Jô, seu colega no Atlético Mineiro. Naturalmente, a presença de estrelas do gramado é um ímã para as periguetes, que proliferam no ambiente. Com o corpo sarado atochado em modelito justíssimo, elas fazem fila na parte de trás da boate, na tentativa de chamar a atenção de alguém que as ponha para dentro sem pagar. A economia, diga-se, é mínima, pois o ingresso mais caro para as mulheres custa 20 reais, metade do preço cobrado dos homens.
Como acontece com os espaços que conjugam multidão, bebida e paquera a rodo, a casa noturna vez ou outra vê seu nome ligado a algum episódio desagradável. Um mês após a inauguração, o atacante Adriano saiu de lá acompanhado de quatro mulheres. Dentro do BMW do jogador, uma das moças foi atingida na mão por um disparo de arma de fogo. Inicialmente, ela sustentou a versão de que Adriano havia sido o autor do disparo. Depois, negou tudo, mas, recentemente, retomou a primeira hipótese. Outro incidente ocorreu em um show da banda Charlie Brown Jr. Durante a apresentação houve um quebra-quebra na pista, e baldes de cerveja foram arremessados para o alto. Para o bem ou para o mal, tudo por lá excede.